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Após Copom e eleição, analistas recomendam investir pelo menos 10% em ações

Marivaldo Oliveira/Código 19/Estadão Conteúdo
Imagem: Marivaldo Oliveira/Código 19/Estadão Conteúdo

Téo Takar

Do UOL, em São Paulo

31/10/2018 18h09

Especialistas ouvidos pelo UOL avaliam que o momento de maior turbulência do mercado financeiro já passou e que está na hora de o investidor apostar em aplicações mais arriscadas, como ações, para obter um retorno melhor a longo prazo. Analistas recomendam investir na Bolsa pelo menos 10% do dinheiro disponível para aplicação.

"Esqueça as aplicações de renda fixa que pagavam 10%, 12% ao ano. O investidor que quiser voltar a receber rendimentos de dois dígitos terá que sair da zona de conforto e expandir seus horizontes, aplicando em produtos com maior risco", afirmou Sandra Blanco, consultora de investimentos da Órama.

Após a definição do quadro político no último domingo (28), com a eleição de Jair Bolsonaro (PSL), e com a manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 6,5% ao ano na reunião desta quarta-feira (31) do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) já é possível prever com mais certeza como se comportarão os investimentos.

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"O cenário hoje é completamente diferente do observado na última reunião do Copom [realizada em 19 de setembro]. O dólar estava acima dos R$ 4, e havia uma incerteza grande por causa das eleições. Mesmo assim, a Selic foi mantida em 6,5% naquela reunião", afirmou Conrado Navarro, especialista em finanças pessoas da Modalmais.

"Agora, com o cenário bem mais tranquilo e com a inflação sob controle, o Banco Central tem motivos de sobra para manter os juros baixos por mais tempo", disse Navarro.

Voto de confiança no novo governo

Para os especialistas, o mercado financeiro deverá dar um voto de confiança ao novo governo nas próximas semanas, enquanto aguarda a formação da equipe econômica e o anúncio das primeiras medidas de Bolsonaro.

"Vamos acompanhar as próximas semanas que antecedem a posse, a definição da equipe econômica, os planos do novo governo. Por enquanto estou bastante otimista", disse Roberto Indech, analista-chefe da Rico Investimentos.

"O mercado terá uma espécie de 'lua de mel' com Bolsonaro, que deve durar pelo menos os primeiros cem dias de governo. A euforia poderá permanecer se o novo governo colocar seus projetos em marcha", declarou Navarro.

"Grande parte da incerteza já se dissipou. Até a semana passada você tinha dois extremos. Agora já está dado o lado que o país vai seguir. Há muita coisa a ser feita, mas tudo indica que o ambiente de juro baixo deve permanecer por mais tempo", afirmou Sandra, da Órama.

Volatilidade ainda está presente

Embora o nervosismo tenha diminuído após o resultado das urnas, os investimentos ainda estarão sujeitos a oscilações, em função das novidades políticas e econômicas. "O investidor deve arriscar, mas aos poucos. Ainda não é hora de fazer alocações [investimentos] grandes. Há muita coisa a ser feita [na política e na economia]", declarou Sandra.

"Se a reforma da Previdência for aprovada no ano que vem, os juros devem se manter baixos por bastante tempo. Mas é preciso ficar atento ao 'se'. O quadro pode ser revertido rapidamente e o mercado ficar negativo se a reforma não avançar", afirmou Indech.

"O mercado procura antecipar expectativas e depois vai se ajustando, conforme elas se confirmam ou não. O investidor deve ficar atento ao noticiário. Podemos ter uma correção negativa mais forte se o mercado entender que as propostas de Bolsonaro, como a reforma da Previdência, a redução do tamanho do Estado e as privatizações, não irão acontecer", disse Navarro.

"Não será um crescimento linear e seguro. Haverá volatilidade, conforme as propostas do governo evoluam ou não. O investidor deve se concentrar no longo prazo, evitando tomar decisões precipitadas por causa das oscilações de curto prazo", declarou Sandra.

Ações e multimercados oferecem retorno de dois dígitos

Com os juros básicos em patamares historicamente baixos, será necessário buscar aplicações de renda variável para aumentar os ganhos, dizem os especialistas.

"Diante desse nível atual de juros, o investidor, mesmo aquele mais conservador, precisa ter um pé na renda variável. O ideal, no caso do mais conservador, é destinar de 5% a 10% do patrimônio para investir em ativos de maior risco", disse 

Dentro dessa lógica, os especialistas recomendam aos investidores menos experientes que aumentem gradativamente as aplicações em fundos de ações ou em multimercados mais arrojados, ou seja, que tenham exposição a ações dentro da sua carteira.

"Os fundos são interessantes para as pessoas que não dispõem de tempo ou de conhecimento para montar sua própria carteira de investimentos. Você deixa seu dinheiro na mão do gestor, que é um especialista que vai procurar as melhores oportunidades para você", disse Navarro, da Modalmais.

Fique atento à taxa de administração dos fundos, que não deve superar 3% ao ano nos fundos de ações ou multimercados mais arrojados, ou 1% nos fundos mais conservadores ou de renda fixa.

Para os investidores mais experientes e com maior tolerância ao risco, o momento é propício para aplicar em fundos de ações ou comprar diretamente ações na Bolsa de Valores.

"Ações de empresas estatais devem subir com a possibilidade de privatização ou mesmo de um choque de gestão. Outra oportunidade são as empresas ligadas à economia doméstica, como varejistas e construtoras, que podem responder rapidamente aos sinais de retomada do crescimento", afirmou Navarro.

Não abra mão da reserva de emergência

O aumento da exposição ao risco nos investimentos não significa reduzir a parcela de recursos destinada às emergências e à preservação do capital. "A renda fixa continua tendo um papel importante na composição da carteira de investimentos, respondendo no mínimo entre 40% e 60% do total dos recursos, dependendo do perfil do investidor", disse Sandra.

Navarro disse que o investidor não pode abrir mão da reserva de emergência, ou seja, de uma parcela de recursos suficiente para cobrir cerca de seis meses da despesa familiar no caso de um evento inesperado, como doença ou desemprego. "Esse dinheiro deve ficar em uma aplicação segura e líquida, ainda que renda pouco, como o Tesouro Selic, um fundo DI ou CDB com liquidez diária."