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Como proteger o poder de compra?

Valter Police

28/12/2020 04h00

As projeções do relatório Focus, que o Banco Central publica com o consenso de mercado para indicadores econômicos, vêm apontando previsão para 2021 de uma taxa de juros básica na casa dos 3% e uma inflação medida pelo IPCA de 3,3%. Isso significa que, se você concentrar seus investimentos nos famosos CDBs, mesmo que paguem mais de 100% do CDI, ou na tradicional caderneta de poupança, terá uma perda do seu poder de compra, já que a inflação projetada é maior do que o CDI. Ao descontar os eventuais impostos dos rendimentos, essa conta fica ainda pior.

Então, como podemos fazer para, ao menos, manter nosso poder de compra nesse cenário? A solução poderia parecer fácil, porque temos títulos "atrelados à inflação", como os IPCA+, do Tesouro Direto. No entanto, eles só garantem que o retorno ficará acima da inflação na data de vencimento, que pode ocorrer anos ou mesmo décadas à frente. Durante esse período, nada é garantido. Como exemplo, nos últimos 12 meses (terminados em novembro/20) a rentabilidade foi negativa em 8,5%.

Os investidores dos países desenvolvidos já estão acostumados há muito tempo com essa situação, e é ali que podemos encontrar uma resposta. Por exemplo, investidores nos Estados Unidos, Inglaterra, Austrália, entre tantos outros, entendem que, caso queiram obter maiores ganhos, precisarão aceitar variações nos rendimentos ao longo do tempo, tanto para cima quanto para baixo e, em anos como 2020, a oscilação pode ser grande.

Assim, precisaremos de uma mudança comportamental importante por parte dos investidores, que precisam desapegar dos rendimentos altos e previsíveis, porque isso já não é mais natural no mercado brasileiro.

Qualquer mudança de comportamento é desafiadora, porque não é fácil lidar com essas variações. Explico: quando um investimento está em alta, somos tomados por uma sensação de euforia, que nos faz querer investir mais naquele investimento. Quando um investimento está em baixa, somos tomados pelo medo, por vezes até pânico, e queremos tirar os recursos desses investimentos. Se você pensar bem, gostamos de "comprar" investimentos quando eles estão "caros" e "vender" quando estão "baratos", ou seja, exatamente o contrário do que deveríamos fazer.

Precisamos entender que o jeito certo de investir é montar uma carteira de investimentos que reflita nossos objetivos e nossa situação atual, dentro de nosso perfil e diversificar os tipos de investimento entre renda fixa, ações, imóveis, multimercados, internacionais etc. A partir daí, esses investimentos irão oscilar, alguns mais e outros menos, mas devemos procurar manter as proporções que foram desenhadas inicialmente, a não ser que nossos objetivos, situação atual ou perfil tenham se alterado.

É preciso aprender a assumir novos riscos. Ter resiliência nos momentos em que o mercado sofre oscilações e temos aquele "frio na barriga" passa a ser fundamental, e essa é a peça-chave para o sucesso de seus investimentos.

Desta forma, conforme o desenho de nossa carteira, teremos uma expectativa maior ou menor sobre a rentabilidade, e nossas chances de ganharmos da inflação serão maiores. Se você quer que a rentabilidade de seu dinheiro "ganhe" da inflação, precisará aceitar que ela não irá ganhar todos os meses, mas terá maiores chances de ficar acima da inflação conforme o prazo de investimento aumenta.

É uma mudança dura, mas fundamental, se quisermos preservar nosso poder de compra ao longo do tempo e, por que não, fazer nosso patrimônio crescer mais. Os investidores mais "conservadores", que insistem em ter uma carteira composta apenas por veículos previsíveis como a caderneta de poupança ou o CDB-DI, devem se acostumar à corrosão de seu poder de compra até que aceitem mudar seu comportamento.

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