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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Quem é o pior inimigo dos investimentos? Spoiler: não é evento econômico

Se você acha que são as crises que derrubam seus retornos, os dados revelam outra coisa - Getty Images
Se você acha que são as crises que derrubam seus retornos, os dados revelam outra coisa Imagem: Getty Images
Valter Police

18/04/2022 04h00

Bolha do mercado de tecnologia, crise imobiliária norte-americana, calote da Grécia, impeachment, baixo crescimento, Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia), pandemia, inflação, guerra da Ucrânia. A lista poderia seguir marcando eventos que abalaram o mercado, trazendo fortes oscilações nos retornos de seus investimentos e, provavelmente, levando a culpa por um eventual fraco desempenho no crescimento de seu patrimônio investido.

Outros tipos de eventos também são apontados como responsáveis, mas por termos perdido as oportunidades. Bitcoin (BTC), ações da Apple, empresas de varejo no Brasil, dólar ou outros ativos que tiveram imensa valorização em alguns períodos e que provavelmente nós deixamos de aproveitar, só percebendo o que havia ocorrido depois dos fatos.

Se você acha que são as crises que derrubam seus retornos e as perdas das oportunidades são o motivo que não os fazem subir na velocidade desejada, os dados revelam outra coisa.

A Dalbar, uma empresa americana com 45 anos de história que se notabilizou por suas análises, auditorias e classificações independentes, divulgou recentemente seu relatório anual de 2022 chamado "Análise Quantitativa do Comportamento do Investidor" (QAIB na sigla em inglês). E a história que o relatório conta mostra o verdadeiro culpado.

As conclusões do levantamento corroboram com diversos outros estudos feitos tanto lá fora quanto aqui no Brasil e mostram, sem sombra de dúvida, que os eventos da economia são inocentes quando se analisa o longo prazo.

O maior responsável pelos retornos maiores ou menores de sua carteira é você mesmo e suas decisões.

O verdadeiro culpado

Os resultados dos investimentos dependem mais do comportamento do investidor do que do desempenho do mercado.

Os investidores que mantêm seus investimentos independentemente das oscilações do cenário econômico têm sido mais bem-sucedidos do que aqueles que tentam acertar os "momentos" do mercado. Essa é a conclusão principal!

O relatório deste ano atualizou os dados e revelou que o retorno de 30 anos do índice da Bolsa americana, o S&P 500, subiu em média 10,65% ao ano entre 1º de janeiro de 1992 e 31 de dezembro 2021. Mas o retorno dos investidores nesse mesmo período foi de apenas 7,13% ao ano.

Isso significa que alguém que tivesse investido US$ 100 mil no início desse período teria US$ 789.465 ao final. Porém, se tivesse acompanhado o índice, teria US$ 2.082.296 ou 164% a mais.

Essa pode ser a diferença entre ter o padrão de vida que você quer na longevidade ou ter que pedir dinheiro aos seus filhos.

Um conselho

O melhor conselho que os grandes especialistas fornecem para aqueles que querem melhorar seus comportamentos sobre as decisões de investimento é:

"Controlar seu comportamento como investidor e não ouvir os analistas de mercado, aqueles que fazem previsões ou os que tentam acertar o 'timing' de mercado é a chave para o sucesso a longo prazo".

Sim, deixar de escutar o "ruído" de curto prazo ajuda muito a focar no que é importante, e não ficar comprando e vendendo produtos de investimento —que, no final, só trazem ganhos aos vendedores desses produtos e não aos investidores.

Sei que é difícil nos conformarmos com o fato de que ninguém sabe para onde vão os mercados no curto prazo. O dólar vai subir ou cair? A Bolsa está no momento de comprar ou de vender? Compro renda fixa agora ou espero os juros subirem mais?

Na verdade, ninguém sabe essas respostas para a próxima semana, o próximo mês ou mesmo o próximo ano. Embora, infelizmente, muitos vão tentar te convencer que sabem e que, por esse motivo, você deveria comprar os produtos que eles te indicam.

Às vezes o segredo é não fazer nada

Em relatórios de anos anteriores, a Dalbar já demonstrou que a melhor opção para o investidor em momentos de oscilações mais fortes é simplesmente não fazer nada.

Parafraseando Carl Richards, um dos maiores financeiros do mundo:

"Não é que sejamos burros. Estamos programados para evitar a dor e perseguir o prazer e a segurança. É bom vender quando todos à nossa volta estão assustados e comprar quando todos se sentem bem. Pode parecer certo —mas não é racional".

Por causa desse fenômeno emocional, que nos faz seguir a maioria e tomar decisões equivocadas —especialmente em momentos mais turbulentos—, é fundamental que tenhamos investimentos que nos façam dormir bem à noite, de maneira a reduzir essa tensão e minimizar as chances de termos um comportamento não indicado.

Se as oscilações nos causam preocupação acima do razoável, é bem provável que, mais cedo ou mais tarde, venhamos a cometer esses erros e, assim, nosso inimigo interno irá vencer.

Conhecer a si mesmo é fundamental no processo de investir: será que você tem condições financeiras para ter uma carteira com essa volatilidade? Não irá precisar retirar os recursos por alguma necessidade? Mais importante: resistirá ao medo de perder quando o mercado oscilar para baixo, deixando os recursos investidos na mesma estratégia?

Muitas vezes a melhor solução é ter uma carteira com uma expectativa de retorno um pouco menor do que gostaria, mas com o nível de oscilação que não cause estresse, disparando o medo e fazendo com que os recursos sejam resgatados em seu pior momento.

Sempre que sentir necessidade, busque por apoio de um profissional, mas se certifique de que ele atua no modelo fiduciário, em que os objetivos e interesses do cliente são colocados em primeiro lugar, deixando transparentes quaisquer conflitos de interesse, na tentativa de reduzi-los ou mesmo eliminá-los.

Pense nisso antes de montar sua carteira de investimentos e não acredite em soluções mágicas, nem em gurus ou profetas que dizem saber quais os momentos em que cada investimento irá performar bem ou mal.

Isso não existe, mas se você acreditar, o pior inimigo de seus investimentos terá vencido: suas emoções.

Boas escolhas!

Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.