IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lições para os nossos investimentos em tempos de guerra na Ucrânia

Uma das lições aprendidas com a guerra na Ucrânia é diversificar os investimentos - Dilok Klaisataporn/iStock
Uma das lições aprendidas com a guerra na Ucrânia é diversificar os investimentos Imagem: Dilok Klaisataporn/iStock
Valter Police

21/03/2022 04h00

Todo período de guerra carrega em si o peso que uma tragédia humanitária pode causar, e as lições que países em todo o mundo devem tirar para manter a paz em seus territórios.

Mas conflitos como os que temos acompanhado na Ucrânia podem revelar importantes aprendizados para os nossos investimentos e possíveis caminhos para moldarmos nosso comportamento para escolhas mais assertivas.

A primeira lição que podemos aprender é a importância de não ficarmos extremamente dependentes de um único fornecedor, de qualquer coisa que seja.

Uma das grandes "armas" russas usadas para pressão internacional é a forte dependência europeia em relação às fontes de energia russas, como o gás natural e o petróleo. Caso a Europa fosse menos dependente e tivesse fontes alternativas de energia, o poder de pressão da Rússia seria muito menor.

Assim também é com nossos investimentos. Será que vale a pena termos títulos de renda fixa —como CDB ou LCI— de um único emissor, mesmo que seja um grande banco? Será que vale a pena escolhermos poucas ações em nossa carteira? Será que devemos concentrar 100% de nossos investimentos atrelados ao governo do Brasil e a empresas brasileiras? A resposta é um categórico NÃO!

A diversificação é a melhor escolha para o bom investidor. Como bem disse Harry Markowitz, o pai da teoria moderna de carteiras, "a diversificação é o último almoço grátis do mercado". Isso quer dizer que ela tem muitos pontos positivos, mas não cobra um preço a mais por isso.

No entanto, é um processo bastante técnico, e por vezes complexo, montar uma carteira diversificada de verdade, com muitos emissores de títulos que tenham perfis e riscos diferentes e cujos títulos se comportem de maneira também diferente ao longo do tempo, um fenômeno que chamamos de correlação negativa.

Isso me leva à segunda lição: se você quer um serviço profissional, precisa de bons profissionais. A escolha de bons especialistas para auxiliar o investidor a alocar seus recursos de maneira ótima deveria ter mais a atenção do investidor do que o sobe e desce dos juros, da Bolsa ou do dólar.

Para essa escolha, as melhores recomendações são:

  • Verifique se o profissional e/ou a empresa possuem as certificações e registros que os órgãos reguladores como a CVM exigem.
  • Analise o histórico de trabalho, incluindo desempenho, mas não apenas dos retornos --considere também a gestão de riscos e a relação com os clientes.
  • Entenda de onde vem a remuneração do profissional e/ou da empresa e certifique-se de que o modelo seja ganha-ganha, evitando ao máximo os conflitos de interesse. Em outras palavras, certifique-se de que o cliente é mesmo você e apenas você.

Já que falamos de humildade, a terceira e última lição vem para reforçar esse ponto: será que conseguiríamos antecipar os movimentos de mercado e, assim, comprarmos ativos que subiram, vendendo os que caíram antes que isso acontecesse, de forma a maximizar nossos retornos? Ao menos é isso que muitas pessoas e empresas tentam nos fazer acreditar, quando oferecem cursos ou investimentos.

Os acontecimentos recentes deixam claro que os movimentos de mercado são muito mais complexos do que parecem e, por esse motivo, imprevisíveis, especialmente no curto prazo.

Veja alguns exemplos: em graves crises internacionais como essa, poderíamos pensar em proteger nossa carteira comprando dólares, afinal é isso que normalmente acontece. No entanto, o dólar está mais baixo hoje (escrevo em 10 de março) do que no momento da invasão russa. Assim, quem apostou na alta, perdeu.

Você poderia pensar também que era óbvio que o petróleo subiria de preço e, assim, bastava comprar Petrobras. Na verdade, o preço internacional do petróleo subiu, mas as ações da Petrobras também caíram desde a invasão até a elaboração desse texto. E se a decisão do governo para a alta do preço do petróleo fosse controlar os preços, como já fizemos no passado recente, a queda teria sido muito maior.

Outro ativo muito comentado é o ouro. O preço do metal realmente subiu no país, mesmo freado pela valorização do real. Vale uma ressalva: você sabia que a Rússia tem a quinta maior reserva de ouro do planeta e é uma das maiores produtoras? O que aconteceria se ela resolvesse reduzir seus estoques vendendo ouro? A cotação cairia e quem tivesse feito essa estratégia teria perdido dinheiro. Ganhar ou perder nesse caso tem por base apenas uma decisão. Muito arriscado, não é mesmo?

A lição de humildade que devemos tirar disso é: não sabemos em quais direções os diversos ativos irão seguir no curto prazo. Esse é um fato, e se alguém lhe disser o contrário, desconfie.

Para concluir, veja como as três lições se cruzam: devemos ter ouro (e outras commodities), investimentos atrelados ao dólar, ações de diversas empresas e títulos de renda fixa entre muitas outras opções.

A estratégia é válida não porque o cenário pode indicar a situação A ou B, mas porque uma carteira diversificada é montada dentro do perfil de cada investidor; por isso é sempre a melhor solução. Para montá-la e geri-la, é necessário investir tempo e dedicação na escolha dos melhores fornecedores possíveis, além da certeza de que seus interesses estão alinhados. Por fim, entender e aceitar que não devemos movimentar nossa carteira a cada movimento do mercado, tentando prever o que vai acontecer no curto prazo.

Se aprendermos essas lições, nossos investimentos tendem a melhorar seu desempenho, porque assim eliminamos o maior detrator de performance que existe: o mau comportamento do investidor. Enquanto aprendemos, torcemos juntos pela resolução do conflito e que a paz volte a reinar.

Boas escolhas!

Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.