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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Com petróleo em alta, vale a pena investir em ações do setor?

11/03/2022 04h00

Desde o início da guerra na Ucrânia, as ações de petrolíferas brasileiras chegaram a subir 29%, acompanhando o forte aumento do preço do petróleo. Ao mesmo tempo, os papéis da Petrobras (PETR3 e PETR4), líder do setor no país, acumulavam uma queda de 3,81% desde o dia 24 de fevereiro, quando começaram os ataques da Rússia ao país vizinho.

Nesse cenário, vale a pena comprar ações das empresas de petróleo? Confira abaixo dois pontos que devem ser levados em conta ao tomar essa decisão. Ao final do artigo, conto o que muda na minha carteira pessoal de investimentos por conta do conflito.

Primeiro ponto: você está preparado para especular?

A primeira coisa que uma pessoa precisa saber antes de comprar ou vender ações por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia é que, para a maioria de nós, tal decisão não passa de mera especulação.

O que precisa ocorrer para o preço do petróleo subir e valorizar as companhias do setor?

Para o preço do petróleo aumentar, é necessário que as pessoas que tomam as grandes decisões de compra do produto acreditem que esse bem ficará mais escasso por conta da guerra.

Entre essas pessoas estão os executivos de companhias importadoras de petróleo e os especuladores financeiros. Autoridades de países importadores e exportadores também têm forte influência nos rumos do mercado.

Pergunto: você tem acesso direto a alguma dessas pessoas, para saber quais decisões elas estão pensando em tomar?

Caso não tenha, saiba que você não tem informações suficientes para prever, com algum grau de segurança, se o preço do petróleo vai subir ou descer. Da mesma forma como você não conseguiu prever que na madrugada do dia 24 de fevereiro ocorreriam os primeiros ataques à Ucrânia.

Na hipótese de alguém aparecer dizendo que existe "xis por cento de chance de o preço do petróleo aumentar", pergunte onde a pessoa publicou uma análise prevendo a data de início da guerra.

Em outras palavras, tentar prever qual será o próximo passo de Putin (presidente da Rússia) e Zelensky (presidente da Ucrânia) não está ao nosso alcance. Apostar em qualquer coisa que saia daí equivale, a meu ver, a jogar cara ou coroa valendo dinheiro.

Segundo ponto: essa especulação vale a pena?

Não é porque é um cara ou coroa que não vale a pena. Imagine um jogo em que, se der cara, você ganha R$ 1 milhão. Se der coroa, você perde R$ 1,00. Você deixaria de jogar esse jogo —ou seja, você desperdiçaria a chance de ganhar R$ 1 milhão— só para garantir que não vai perder sua moeda de R$ 1,00?

É bastante racional entrar em um jogo em que o prêmio pela vitória é muito maior do que o custo da derrota. Vamos ver se a aposta na alta do petróleo vale a pena?

Para começar, devemos entender o impacto da alta recente da commodity (matéria-prima) nos preços das ações do setor.

De 24 de fevereiro a 7 de março, o petróleo subiu 30,3% no mercado internacional. Enquanto isso, as ações da Petrobras (PETR4), em vez de subir, caíram 4,76%. Aqui já temos um forte indício de que investir na estatal por acreditar na alta do petróleo não é uma boa. Mesmo ontem, quando o governo anunciou um substancial aumento do preço de combustíveis, as ações avançaram apenas 3,29%.

Vamos ver as demais petrolíferas brasileiras. No mesmo período citado acima, os papéis da PetroRio (PRIO3) subiram 10,8%; os da 3R Petróleo (RRRP3), 19,4%; os da Enauta (ENAT3), 12,7%; e os da Petrorecôncavo (RECV3), 6,4%.

(Vale dizer que nos dias 8 e 9 a Enauta continuou subindo e acumulou 29,3% de alta desde 24 de fevereiro, mas isso ocorreu depois que o preço do petróleo voltou a cair, sinal de que essa valorização pode estar relacionada a um projeto recém anunciado de investir US$ 1,2 bilhão na Bacia de Santos.)

Em média, portanto, os produtores brasileiros de petróleo, tirando a Petrobras, tiveram uma alta de 12,3%, no momento em que o petróleo subiu mais de 30%.

Você jogaria "cara ou coroa" para, se ganhar, lucrar apenas 12%? Eu não. Existem no mercado outros investimentos com uma relação risco-retorno que eu considero bem mais atraente.

O que muda na minha carteira por causa da guerra?

Nada. Procuro investir com foco em longo prazo e com base, em primeiro lugar, na cultura da empresa e, em segundo, nos números da companhia disponíveis.

Comprar ação de uma petrolífera por acreditar que ela é mais bem administrada que seus pares e que tem projetos de expansão mais promissores é uma coisa.

Outra coisa, bem diferente, é adquirir o mesmo papel por achar que o petróleo vai ficar mais caro. Esse segundo ponto eu descarto. Aliás, se fosse comprar uma petrolífera, eu não o faria agora, em que os preços podem estar inchados por conta de especulação.

Alguma dúvida? Tendo alguma dúvida sobre investimentos, envie pelo meu grupo no Telegram. Sua pergunta poderá ser respondida futuramente nesta coluna.

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