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ANÁLISE

Saiba por que os ricos não investem na caderneta de poupança

Entenda por que pessoas com mais dinheiro são as que menos colocam seu dinheiro na poupança; saiba os motivos - Getty Images
Entenda por que pessoas com mais dinheiro são as que menos colocam seu dinheiro na poupança; saiba os motivos Imagem: Getty Images

Letícia Braga de Andrade

24/06/2022 04h00

Recentemente a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) divulgou um relatório que apresenta os produtos de investimento preferidos por classe de renda. Como professora, e eterna aprendiz de economia comportamental, o que mais me chamou atenção foi que, conforme aumenta a renda da pessoa, diminui sua preferência pela caderneta de poupança. Compartilho alguns dados do relatório:

  • Na classe Private, existem apenas 100 mil contas com um total de R$ 1,7 trilhão em investimentos. Desse dinheiro somente 0,71% estão investidos na caderneta de poupança.
  • Na classe Alta Renda, são 13 milhões de contas que somam um total de R$ 1,3 trilhão investido. Desse valor, aproximadamente 11,2% estão na caderneta de poupança.
  • Na classe Varejo, há 118 milhões de contas com um total de investimento de R$ 1,6 trilhão. Desse dinheiro, 51,27% estão investidos na caderneta de poupança.

Esses dados me provocam a refletir sobre as características da caderneta de poupança que possam justificar essa diferença comportamental entre classes de renda:

Sem valor mínimo para aplicação inicial

Não acredito que seja isso, pois desde 2020 a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) vem implementando uma série de ajustes regulatórios no sentido de democratizar o acesso ao mercado financeiro.

Desde então, diversos produtos de renda variável têm sido disponibilizados ao pequeno investidor. Na esteira, a renda fixa também tem se modernizado ao ponto de, atualmente, ser possível investir em produtos com liquidez diária com aplicação inicial a partir de R$ 1.

Segurança

É inquestionável que a caderneta de poupança é um investimento seguro, ainda que pessoas da geração X tenham na memória um confisco.

Mas existem tantos outros investimentos tão seguros quanto! Por exemplo, os investimentos em renda fixa como CDBs, LCIs e LCAs têm a garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), um tipo de seguro para valores até R$ 250 mil por CPF/CNPJ e por instituição. Os produtos do Tesouro Direto também se destacam no quesito segurança, pois o valor investido vai para o governo e este não quebra.

Liquidez

É a rapidez com a qual você consegue receber seu dinheiro em mãos, e, sim, a poupança tem alta liquidez... Assim como diversos produtos de investimento de renda fixa e renda variável, cujo pedido de resgate é atendido —senão no mesmo dia— no dia seguinte.

Rentabilidade

Aqui é que aparece a explicação! A caderneta de poupança no Brasil tem sua rentabilidade definida por lei (o que dificulta mudanças) e atrelada à taxa de juros Selic (instrumento do governo utilizado para controlar a inflação).

A lei no 8.177, de 1991, estabelece que quando a Selic for menor ou igual a 8,5% ao ano, o rendimento da caderneta de poupança será igual a 70% da Selic + Taxa Referencial (TR); quando a Selic for maior que 8,5% ao ano, a poupança renderá 0,5% ao mês + TR.

Agora em junho de 2022, a taxa Selic está em 13,25% ao ano, o que define o rendimento da caderneta de poupança em 0,5% ao mês + Taxa Referencial. Isso significa que o rendimento anual da poupança atualmente é 6,17% ao ano, o que ao mês representa cerca de 0,6089%.

O problema que pega é que a inflação oficial acumulada de janeiro a maio já está em 4,78%. Ou seja, o rendimento da caderneta de poupança não é suficiente para cobrir a perda de poder de compra provocada pela inflação. Então, mesmo que o saldo da caderneta de poupança no ano tenha aumentado, na prática, o investidor perdeu devido ao constante aumento dos preços.

E como será daqui para a frente? Bem, em sua última reunião, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a Selic para 13,25% sinalizando que vai subir ainda mais. Além disso, temos no cenário a alta de juros nos EUA, que contribui para a desvalorização do real e aumento da nossa inflação; temos uma crise econômica mundial, alimentada pelo prolongamento da guerra entre Rússia e Ucrânia e alguns lockdowns que elevam os preços internacionais; e, não menos importante, as eleições que se aproximam trazendo mais instabilidade política e complexidade para este cenário.

Com tudo isso, vamos seguir com elevação da inflação e da taxa de juros. Se atualmente, a rentabilidade da caderneta de poupança não é suficiente para cobrir a inflação, daqui para frente essa lacuna só vai aumentar!

Analisando essas características da poupança e as tendências da economia brasileira, é possível compreender a diferença comportamental entre classes de renda.

Pessoas com mais dinheiro são mais procuradas por instituições financeiras que apresentam uma diversidade de produtos de investimento. Conhecendo mais oportunidades de investimento, as pessoas podem tomar melhores decisões escolhendo produtos que atendam às suas expectativas de segurança, liquidez e rentabilidade.

Pessoas com menos dinheiro, em geral, acabam investindo naquilo que conhecem desde pequenos por ouvir seus pais e avós comentarem. Contudo, são produtos criados para outros cenários em outros tempos e, por isso, desatualizados.

Então, para quem é poupador de caderneta de poupança, lamento informar que todo o seu esforço de economizar está se esvaindo. Já para o poupador mais ligado que quer proteger e valorizar o seu esforço no atual cenário, investimentos em renda fixa é o que alinha a melhor combinação entre segurança e rentabilidade.

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