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5 setores que devem ganhar e 2 que podem perder na Bolsa com Biden nos EUA

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

17/11/2020 04h00

Quais os efeitos da vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais dos Estados Unidos para quem investe em ações?

A troca de comando vai influenciar a atividade econômica e, por tabela, o desempenho das empresas que têm ações negociadas em Bolsa. Segundo analistas, as mudanças vão ocorrer ao longo do mandato de Biden, até o fim de 2024, mas alguns impactos poderão ser percebidos já em 2021.

Veja a seguir cinco setores que devem ser beneficiados e dois que podem perder, no curto e no longo prazos.

Ganham:

  • Commodities
  • Financeiro
  • Mobilidade e turismo
  • Energia
  • Sustentabilidade

Perdem:

  • Siderurgia
  • Agronegócio exportador

Eleição elimina incerteza do mercado

A vitória de Joe Biden já serve, no curto prazo, para tirar do radar incertezas que pesavam sobre os investidores. A maior é o pacote de gastos que o governo americano já deveria ter soltado, mas que ficou emperrado por causa das disputas entre o presidente Donald Trump, do partido Republicano, e a Câmara, controlada pelos Democratas.

A expectativa dos analistas é que o pacote, da ordem de US$ 1 trilhão (R$ 5,5 trilhões), injete dinheiro na economia americana já a partir deste ano. O auxílio deve dar fôlego a setores da indústria, varejo e serviços mais afetados pelo isolamento social.

Fora a covid-19, a eleição para presidente dos Estados Unidos era o evento mais aguardado pelo mercado. A partir do momento em que temos uma definição, os investidores podem montar suas posições. Além disso, o auxílio fiscal, com um pacote generoso, deve vir nos próximos. Isso vai se traduzir em maior liquidez global, o que é positivo para países emergentes, como o Brasil.
Filipe Villegas, estrategista de ações da Genial Investimentos

Brasil precisa mudar discurso

Todos os profissionais de mercado ouvidos pelo UOL destacaram que o governo brasileiro precisa mudar a postura diplomática para que as empresas possam aproveitar os ventos favoráveis vindos da nova gestão na Casa Branca.

"Para aproveitar a maior liquidez global e atrair parte do maior fluxo de investimentos estrangeiros, o Brasil precisa fazer sua parte, encaminhar questões como reformas e responsabilidade fiscal", disse Villegas, da Genial Investimentos.

No geral, a eleição de Biden é positiva para emergentes, mas o Brasil precisa mudar o discurso da diplomacia, em especial sobre preservação de meio ambiente.
Alvaro Bandeira, economista-chefe do banco digital Modalmais

3 setores que ganham no curto prazo

São aqueles de empresas com ações muito negociadas ou que se desvalorizaram mais que o Ibovespa neste ano, segundo o chefe da equipe de renda variável da Gauss Capital, Jorge Junqueira.

  • Commodities: Duas das maiores empresas com ações na Bolsa, a petroleira Petrobras e a mineradora Vale, dependem do ritmo da economia global. A vitória de Bide,n se traduzida em liberação rápida do pacote econômico, vai significar maior demanda por energia e insumos. Com preços ais baixos em relação a concorrentes em outros lugares do mundo, os setores de petróleo e metais devem se beneficiar.
  • Setor financeiro: As ações dos bancos brasileiros estão entre as mais negociadas na Bolsa e entre as que mais sofreram ao longo do ano. Apesar da concorrência crescente com novas empresas financeiras, fintechs e bancos digitais, os maiores conglomerados financeiros seguem gerando lucros e dominando os mercados de crédito, investimentos e serviços financeiros.

Os preços das ações dos bancos mostram que eles estão com um desconto [baratos]. Por isso, podem se beneficiar de um fluxo de investimentos para a Bolsa brasileira neste primeiro momento.
Welliam Wang, sócio e co-gestor de renda variável da AZ Quest

  • Mobilidade e Turismo: A menor incerteza sobre os EUA já tirou o fôlego da moeda americana, em queda após o resultado das eleições. Companhias aéreas e empresas de turismo podem se beneficiar de um dólar desvalorizado. Além disso, as ações dessas empresas perderam muito mais que o Ibovespa ao longo do ano. Por isso, há a expectativa de que esses papéis reajam neste primeiro momento, mesmo com dúvidas sobre uma segunda onda de covid-19 atingir o Brasil.

Analistas também dizem que Biden deverá ser mais amistoso nas relações com outros países do que Trump, o que significa mais turismo e mais comércio global, estimulando viagens de pessoas e transporte de cargas.

2 setores que perdem no curto prazo

Algumas incertezas vão permanecer no radar dos investidores por algum tempo, mesmo depois que Joe Biden tomar posse. Uma das questões é a política americana para estimular a produção local, para a qual Biden já sinalizou apoio.

Isso significa que setores que têm parte relevante dos negócios dependente da exportação para os Estados Unidos devem seguir sob pressão.

Confirmando a tendência de dólar mais fraco, isso também prejudica as receitas de exportadores siderúrgicos, destaca o responsável pela mesa de renda variável e derivativos do BTG Pactual, Jerson Zanlorenzi.

  • Agronegócio exportador: Biden já deu sinais de que o meio ambiente é sua bandeira política. Numa rara oportunidade em que se referiu ao Brasil durante a campanha, sinalizou a intenção de erguer barreiras comerciais se o governo brasileiro seguir com políticas frouxas de proteção ambiental. Produtos como a soja e a carne bovina brasileira podem enfrentar nova barreira para entrar nos EUA.

2 setores que ganham no longo prazo

  • Energia: Um dos pilares da campanha de Biden foi o meio ambiente. Nesse contexto, os Democratas devem estimular a produção de energia a partir de fontes renováveis.

O setor de energia renovável ampliou a presença na Bolsa brasileira com empresas recém-listadas, que podem se beneficiar de políticas globais que estimulem investimentos em projetos de energia limpa.

  • Sustentabilidade: Biden deve estimular projetos que sigam os princípios da ESG (governança social, ambiental e corporativa, na sigla em inglês), que definem padrões para práticas ambientais, sociais e de governança de uma empresa. As que fizerem parte do índice de sustentabilidade na Bolsa ganharão visibilidade e, por tabela, atrairão dinheiro de investidores para seus projetos.

2 setores para segurança em caso de indefinição

E se Donald Trump continuar rejeitando o resultado das urnas e prolongando a disputa nos tribunais? Nesse cenário, a volatilidade pode voltar às Bolsas.

O mercado não trabalha com um cenário de caos provocado por Trump, arrastando a transição nas eleições americanas. Mas caso isso aconteça, temos que voltar a olhar ações com perfil mais resiliente.
Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de renda variável e derivativos do BTG Pactual digital

  • Elétricas: Companhias de energia elétrica têm receita regular, margens de lucro estáveis e desempenho operacional que varia pouco conforme as oscilações da economia.
  • Exportadoras: Na incerteza, o dólar volta a ser procurado e tende a se valorizar em relação às demais moedas, como o real. Companhias que vendem para o exterior, como as produtoras de papel e celulose ou de aço, podem funcionar como abrigos.

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