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Cinco bons investimentos de 2020 que não devem repetir o sucesso em 2021

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

29/12/2020 04h00

O desempenho dos investimentos em 2020 foi marcado pela influência da pandemia do novo coronavírus. A incerteza sobre a duração do problema provocou instabilidade nos preços dos ativos e influenciou as opções dos investidores.

Para 2021, a incerteza permanece no radar, dizem profissionais de mercado, porque as medidas de isolamento social ainda estarão presentes enquanto a vacina não for aplicada em massa. Mas o grau de dúvida tende a ser menor do que em 2020.

Além disso, os governos não devem tomar tantas medidas para atenuar os impactos econômicos do isolamento social, porque muitas medidas já desempenharam seu papel. É o caso da redução dos juros, por exemplo. Por isso, os investimentos devem se comportar de forma diferente neste novo ano.

O ano de 2020 foi fora de qualquer parâmetro. Olhando para a frente, eu diria que existe uma tendência nos investimentos que pode ser exatamente a contrária da que deu certo em 2020.
Roberto Attuch Júnior, CEO da plataforma de análises independentes Ohmresearch

Filipe Villegas, analista da Genial Investimentos, destaca que as estratégias que deram certo em 2020 começaram a entrar em prática a partir de março, justamente quando a dimensão do impacto da pandemia sobre a economia global começou a ser desenhada. "E só viramos a página após as eleições norte-americanas", disse, citando outro fator que jogou incertezas sobre 2020.

Eles renderam em 2020, mas não devem repetir sucesso

1. Dólar

A moeda norte-americana se valorizou em relação às principais moedas do mundo durante a maior parte de 2020. Em momentos de incerteza, o dólar funciona como proteção, e 2020 foi um exemplo disso.

Para 2021, profissionais de mercado projetam um ajuste e uma queda da moeda, inclusive em relação ao real.

"Vejo em 2021 mais espaço para alocação fora dos Estados Unidos, com mais espaço para outras moedas, com destaque para países emergentes, em um ciclo de enfraquecimento do dólar", disse Attuch.

2. Ouro

Assim como o dólar, o ouro se beneficia de momentos de incertezas porque funciona como um porto seguro, ao qual pessoas e empresas recorrem em busca de proteção de patrimônio.

Além de 2021 ser um ano com uma expectativa de maior grau de previsibilidade, o metal já vem de fortes valorizações, que o levaram a patamares de cotação recorde. O que abre espaço para quedas.

"O ouro tende a ter um desempenho mais fraco que outros ativos que estarão se recuperando em 2021. Ouro vale mais para ambiente de riscos ou de inflação, mas a gente vê o risco inflacionário mais para a frente", afirmou o sócio e gestor da Galapagos Capital, Sérgio Zanini. "Por isso, para 2021 acreditamos que outras commodities vão se sair melhor, como o cobre, que deve se beneficiar da maior demanda global puxada pela retomada econômica."

3. Títulos prefixados

Para estimular a atividade econômica, governos em todo o mundo reduziram juros, inclusive no Brasil, onde a taxa básica de juros, a Selic, caiu à mínima histórica de 2% ao ano. Quem tinha títulos de renda fixa prefixados, com rendimento mais elevado, foi beneficiado.

Para 2021, o espaço para novos cortes de juros praticamente sumiu. Há expectativa, entre os economistas, de alta dos juros em alguns países, incluindo o Brasil, à medida que a atividade econômica for se recuperando. Por isso, os títulos prefixados perdem apelo.

"Os títulos prefixados funcionaram bem em 2020 por causa da covid e da queda dos juros, mas para 2021 não devem ser tão atrativos. O mocinho de 2020 pode ser o vilão de 2021", disse Marcelo Cincão, sócio-fundador do escritório de assessores financeiros Ável Investimentos.

4. Ações de tecnologia

Na Bolsa, o isolamento social beneficiou em 2020 setores que sofreram menos com as medidas de isolamento social. Papéis de companhias do comércio eletrônico, por exemplo, tiveram um comportamento mais positivo que os de atividades atingidas pelas restrições à circulação de pessoas, como companhias aéreas.

Para o ano que vem, analistas de mercado dizem que a situação deve se inverter —ações de empresas que sofreram mais em 2020 tendem a subir com mais força que ações de tecnologia ou de comércio eletrônico.

Isso não quer dizer que investir em ações ou BDRs de empresas de tecnologia será um mal negócio em 2021, ressaltam os analistas, apenas que o ritmo de valorização desses ativos será menor.

"As ações que tiveram melhor desempenho em 2020 não necessariamente vão cair em 2021", disse Villegas "Mas setores de comércio eletrônico, por exemplo, que já subiram bastante, anteciparam uma valorização projetada para anos à frente. Então tendem a ter em 2021 uma performance abaixo da média de mercado."

5. Especular com títulos prefixados e indexados à inflação

Com a forte volatilidade dos ativos, títulos de renda fixa de prazos mais longos passaram a oscilar bastante de cotação no mercado secundário, onde investidores compram e vendem os papéis antes do vencimento. Quem entrou no momento certo conseguiu ganhos bem superiores aos da média da renda fixa tradicional neste ano.

O espaço para ganhar com esses títulos, como títulos do Tesouro Direto prefixados ou Tesouro IPCA de prazos mais longos, será muito menor em 2021, disse Roberto Indech, gestor de renda fixa da Clear Corretora.

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