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PIB supera expectativas e Bolsa sobe: é hora de investir?

Camila Mendonça

Do UOL, em São Paulo

01/06/2021 13h15

Os investidores reagiram de forma positiva ao resultado do PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre, que cresceu 1,2% em relação ao último trimestre do ano passado, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O otimismo está fazendo a Bolsa operar em alta de 1,50% na sessão desta terça-feira (1), ultrapassando os 128.000 pontos —o maior nível da história da B3.

O UOL Economia+ ouviu analistas para entender até onde vai esse otimismo, se esse crescimento econômico deve se manter, e se ele representa uma oportunidade para os investidores que querem surfar na alta da Bolsa agora. Confira o que eles disseram.

Economia cresceu, mas nem tanto

Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest, avalia que é preciso analisar dois pontos ao verificar o resultado do PIB. O primeiro é a base de comparação. Por conta dos efeitos provocados pela pandemia, os resultados apresentados em 2020 foram baixos. Então, qualquer desempenho em cima dos resultados de 2020 representaria um avanço.

Apesar desse crescimento, apenas voltamos aos patamares observados antes da crise, ou seja, com PIB rodando próximo de 1%, que é um crescimento ainda bastante baixo. Mesmo com o avanço da pandemia, as restrições de circulação foram inferiores às observadas no ano passado, o que contribui para alguma retomada da economia.
Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest

Um dos motivos para o crescimento do PIB é a retomada da circulação de pessoas nas ruas, que foi maior no primeiro trimestre do que o verificado no final de 2020, segundo Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group.

O resultado veio mesmo acima do esperado, por alguns fatores: o índice de mobilidade da população não chegou a cair tanto no primeiro e nem no segundo trimestre, mesmo com essa onda de piora da covid-19. Isso posto, é normal que a gente tenha revisões para cima do PIB. Isso, junto com revisões para cima da inflação, cria uma dinâmica de relação dívida/PIB melhor no curto prazo. Isso explica essa dinâmica mais positiva para ativos de risco, para Bolsa e para a queda do dólar.
Daniel Miraglia, da Integral Group

Esse crescimento é sustentável?

O mercado se animou com esse resultado, mas ainda assim é difícil dizer que esse crescimento será sustentável. Estamos em meio à pandemia, com risco de novas restrições. Então, a nosso ver, o quadro é de crescimento baixo ainda por algum tempo.
Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest

Miraglia, da Integral Group, reforça a ideia de que o crescimento nos próximos meses pode ser baixo. Ele explica que, diferentemente de outros países, o Brasil não vai ter grandes ganhos de retomada de circulação, uma vez que boa parte da população não está mais em casa. Para este ano, o economista projeta um PIB de 4%.

Olhando para frente, teremos um cenário mais desafiador, pois não caiu tanto a mobilidade, então ela tem pouco espaço para subir. Além disso, temos um cenário externo com uma alta da inflação não só nos EUA como na Europa. Podemos ter juros um pouco mais altos até o final do ano, principalmente nos EUA.
Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group

Rodolfo Margato, economista da XP, faz uma análise diferente. Ele acredita que os dados da atividade do segundo trimestre já mostram um novo crescimento, estimulado pela nova rodada do auxílio emergencial e pela antecipação do pagamento do 13º salário aos aposentados. Considerando isso, a XP deve rever, para cima, a projeção do crescimento do PIB para 2021, que hoje está em 4,1%

Ele avalia, contudo, que a crise da covid-19 permanece sendo o principal risco ao crescimento da economia local, além do aumento dos temores relacionados à escassez de energia elétrica e água.

PIB melhora expectativas das empresas

Com o crescimento do PIB aumentaram também os investimentos das empresas em novos projetos, infraestrutura, compra de máquinas e ampliação de produção. Segundo o IBGE, esse crescimento foi de 17% no primeiro trimestre, em relação ao mesmo período do ano passado. Dentre os componentes do PIB (Produto Interno Bruto), foi o item que mais cresceu. Na comparação com o trimestre anterior, a alta foi de 4,6%.

Para Heloise Sanchez, da equipe de research e estratégia da Terra Investimentos, esse investimento maior por parte das empresas pode ser uma oportunidade para os investidores.

Esses investimentos em projetos, infraestrutura, compra de máquinas e bens para produção farão com que as empresas voltem a crescer e consequentemente apresentarão bons resultados em seus balanços.
Heloise Sanchez, da Terra Investimentos

Dólar pode continuar caindo, e Bolsa subindo

Para Bruno Benassi, chefe de análise da Levante Ideias de Investimentos, o resultado do PIB reforça a expectativa de que o dólar pode continuar caindo "em resposta ao processo de subida da Selic e à economia brasileira mais forte que o esperado - além de uma correção sobre as fortes altas observadas em 2020 e início de 2021".

O analista acredita que ainda tem espaço para o crescimento da Bolsa, representando uma oportunidade para os investidores.

O crescimento neste primeiro trimestre também dá indícios de que o país tem sido mais resiliente com a segunda onda de covid-19 e deve reforçar uma retomada mais robusta no segundo semestre, na medida em que a imunização da população avance e o número de casos e óbitos gradualmente diminua. Neste cenário - e com variáveis controladas, como o fiscal se assentando e alguma agenda econômica positiva no campo político - há espaço para alta do Ibovespa, especialmente nos setores que foram mais penalizados por conta das restrições de circulação.
Bruno Benassi, da Levante

Aumento de juros pode frear investimentos

Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos, explica que é preciso olhar Bolsa e investimentos de forma distinta. A especialista explica que o resultado do PIB afeta e deve continuar afetando a Bolsa, porque melhora o otimismo dos investidores. Contudo, isso não representa mais capital circulando na B3.

No que diz respeito a Bolsa, [o resultado do PIB] melhora o otimismo, porque a Bolsa está muito atrelada a expectativas futuras do investidor. Em relação ao investimento em si, é um pouco mais complicado, porque ele requer disponibilidade de recursos a preços adequados. Estamos vendo uma subida da taxa de juros. A nossa expectativa é de que os juros cheguem no final do ano a 6%. Com isso, o custo do capital vai ficar mais caro.
Simone Pasianotto, da Reag Investimentos

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