Poupança muda se juros superarem 8,5%; veja como isso afeta seu dinheiro
O Banco Central acelerou o movimento de alta dos juros. Pela primeira vez em 18 anos, a Selic subiu mais de um ponto percentual de uma única vez, após encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) semana passada, e já está em 5,25% ao ano. Tudo para controlar a inflação, que continua avançando. Por isso, já tem economista apostando que a taxa básica de juros vai continuar aumentando até 8% ao ano.
Se esse cenário se confirmar, e a Selic chegar a superar 8,5% ao ano, a aplicação mais tradicional entre os brasileiros vai mudar. O cálculo do rendimento da poupança voltará a ser como era até 2012. Veja abaixo o que pode acontecer com a caderneta se a Selic superar os 8,5% ao ano, como fica o rendimento dessa aplicação e o que dizem profissionais sobre o seu dinheiro que está parado lá.
Cálculo do rendimento da poupança
O cálculo do rendimento da poupança depende da Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira. Veja como funciona.
- Se a Selic for igual ou menor que 8,5% ao ano: nesse caso, a poupança vai render o equivalente a 70% da Selic mais a variação da TR (Taxa Referencial), que hoje é igual a zero. Assim, por exemplo, como a Selic atual é de 5,25% ao ano, a poupança rende hoje 3,68% ao ano. Uma aplicação de R$ 1.000,00 vai dar, ao fim de 12 meses, um rendimento de R$ 36,80.
- Se a Selic for maior que 8,5%: nesse caso, a poupança vai render 0,5% ao mês mais a TR. Isso vai representar um rendimento de 6,17% ao ano. Uma aplicação de R$ 1.000,00 vai render, ao fim de um ano, R$ 61,70.
Poupança nova e antiga
Essa regra de rendimento da poupança com Selic abaixo de 8,5% ao ano começou a valer em maio de 2012. Por isso, as contas da caderneta que existiam até aquela data pararam de receber novas aplicações.
As cadernetas anteriores a maio de 2012, chamadas de poupança antiga, continuam rendendo 6,17% ao ano. Mas essas contas não podem receber novas aplicações. Todo dinheiro novo aplicado desde então passou a seguir o novo cálculo, ou seja, de 70% da Selic.
Como fica a poupança se Selic superar 8,5% ao ano?
Se a Selic de fato superar os 8,5% ao ano, todas as cadernetas de poupança —novas e antigas— vão render a mesma coisa, ou seja, 0,5% ao mês mais a variação da TR.
O rendimento vai ser calculado sobre o total aplicado em cada conta. Mas as contas antigas continuarão sem poder receber novas aplicações.
Entenda no exemplo abaixo:
Veja uma comparação de quanto renderiam R$ 1.000 aplicados por 360 dias.
Vamos considerar uma Selic de 8,5% ao ano para efeitos de comparação. Mas lembrando que para uma Selic a 8,5% ao ano vale a regra atual de rendimento da poupança, ou seja, 70% da Selic.
Cálculo usando 70% da Selic: o rendimento da poupança seria de 5,95% ao ano.
- Rendimento: R$ 59,50
Cálculo usando 0,5% ao mês: o rendimento da poupança seria de 6,17% ao ano.
- Rendimento: R$ 61,70
E se poupança não mudasse com a Selic acima de 8,5% ao ano?
Como vimos no exemplo acima, a diferença em dinheiro que o aplicador leva para casa é muito pequena entre uma fórmula e outra.
Mas a poupança seria mais favorecida com a alta da Selic se o atual cálculo, ou seja, de 70% da Selic, fosse mantido, mesmo com uma Selic acima de 8,5% ao ano. Veja abaixo outra comparação, com uma Selic mais alta, de 9% ao ano, por exemplo.
Cálculo usando 70% da Selic: O rendimento da poupança seria de 6,30% ao ano.
- Rendimento: R$ 63,00
Cálculo usando 0,5% ao mês: O rendimento da poupança continua em 6,17% ao ano.
- Rendimento: R$ 61,70
Comparar com a inflação
Profissionais de mercado destacam que o ganho real da poupança depende também da inflação. Se o IPCA —índice de inflação oficial do país— subir mais que a Selic, o poder aquisitivo do aplicador vai diminuir.
Veja no exemplo abaixo quanto rendem R$ 1.000,00 aplicados por um ano, considerando a atual taxa básica de juros Selic de 5,25% e uma inflação de 6,79% —que é a estimativa do mercado para o IPCA ao fim do ano.
Rendimento nominal: R$ 36,80
Mas com uma inflação de 6,79% ao ano, o poder de compra dos R$ 1.000,00 caem para R$ 932,10. Então, o rendimento real da poupança seria:
Perda real: R$ 31,10
Vale mexer na aplicação?
Consultores financeiros destacam que a poupança continua valendo a pena como aplicação para reserva de emergência, ou seja, para cobrir despesas inesperadas.
A poupança segue sendo uma boa opção para reserva porque é de fácil aplicação, com uma rentabilidade estável e sem volatilidade, além de ser uma aplicação segura, garantida pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito) e ainda isenta de IR.
Alexandre Amorim, sócio e chefe de gestão da ParMais
Outras opções além da poupança
O investidor tem no mercado aplicações que são parecidas com a poupança em termos de rendimento, segurança, risco e liquidez, destacam profissionais de mercado. Por isso, vale o investidor comparar o rendimento da poupança também com outros produtos, como CDB de liquidez diária e Tesouro Selic, afirma Luciane Almeida, especialista em investimentos e educação financeira do PagBank.
Ainda que a poupança passe a render mais, há opções em renda fixa que acompanham a taxa Selic e, portanto, também se beneficiam dessa alta. E como o rendimento da poupança ocorre a cada 30 dias, se necessário resgatar antes da data de aniversário, o investidor perde os juros daquele mês. O que tira a flexibilidade de movimentação do investidor.
Luciane Almeida, do PagBank
E para aplicações de longo prazo, mesmo com a Selic voltando a subir, não vejo razão para a pessoa ficar olhando para a caderneta. Mesmo quem tem muita resistência ao risco e queira ficar na renda fixa, há diversas alternativas que rendem mais que o CDI.
Thiago Godoy, chefe de educação financeira da Xpeed School, da XP Inc.
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