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Cuidado com grandes promessas como Eike, diz analista com 40 anos de Bolsa

Raphael Coraccini

Colaboração para o UOL, em São Paulo

27/08/2021 04h00

O ambiente corporativo, a universidade e o setor público, onde Flávio Conde atuou ao longo de 40 anos de carreira, deram a ele o conhecimento e a experiência necessários para, no mínimo, desconfiar de grandes promessas da Bolsa.

O chefe de investimentos da casa de análises Levante conta que viu com serenidade a supervalorização das ações da OGX, de Eike Batista, nos anos 2000, e com pouca surpresa a sua queda abrupta, que chegou a R$ 0,17 em abril de 2013, 99% abaixo do valor máximo que a empresa havia atingido, de R$ 23,28 por papel.

Flávio Conde é um dos convidados do próximo Guia do Investidor UOL, que vai mostrar tudo sobre renda fixa, e se ainda é possível ganhar dinheiro em investimentos conservadores. O evento é gratuito e você pode se inscrever no cadastro abaixo.

"Boa parte dos analistas da minha geração não comprou a história que o Eike vendia, enquanto os mais jovens caíram nessa. Aí você percebe por que é importante a experiência atrelada à técnica. Porque, além de você estar preparado para entrar em bons negócios e ganhar dinheiro, evita cair em certas roubadas", diz Conde.

Pouco depois, foi a vez de a Petrobras entrar em crise sob o olhar atento do experiente investidor. A ação, vista como porto seguro do mercado brasileiro, chegou a cair mais de 30% em em 2014. "Por isso temos muito cuidado ao recomendar papéis de estatais, porque estão muito expostas ao risco político. Às vezes, por estarem muito descontadas, podem ser uma boa opção", diz.

O valor de empresas e de suas ações é especialidade do operador e professor. No primeiro ano no Ibmec como professor, no começo dos anos 2000, Conde foi um dos responsáveis por modernizar os cursos de Valuation, que até então eram abstrações sobre números e empresas fictícias.

"Fui para a Inglaterra fazer mestrado entre 1992 e 1993 e tive aula de Valuation. Quando voltei, quis dar aula sobre essa matéria porque achava que era uma lacuna a ser preenchida", afirma o professor, que também foi diretor de Administração de Finanças na Prefeitura de São Paulo entre 2018 e 2019.

Entre gerações

Na linha do tempo do desenvolvimento do mercado acionário no Brasil, Conde está entre a primeira geração, que fundou essa área no Brasil, e a atual, que tem ajudado a desenvolver o mercado acionário e financeiro como um todo.

Na sua carreira, teve entre seus chefes Roberto Teixeira da Costa, que foi um dos executivos da Deltec, empresa que lançou o primeiro fundo de investimentos no país, em 1952. Nos anos 2000, lecionou para alunos como Fernando Mattar Beyruti, diretor do Itaú em Miami (EUA), e Juvenal das Neves Neto, superintendente executivo do Bradesco BBI.

Hoje, Conde o dá aula na Universidade Estadual Paulista (UNESP) sobre Valuation, a matéria que ajudou a disseminar no país. Mas ele gosta de lecionar em outro lugar também, o YouTube. Pela Levante, ele produz vídeos de menos de cinco minutos para trazer informações que, no seu começo como operador na Bolsa, ele poderia demorar dias para ter acesso.

Informações demais

Enquanto operador iniciante, a dificuldade de Flávio era encontrar informações para poder embasar seus movimentos no mercado.

"Na época, tínhamos poucas informações sobre empresas no geral, mesmo para Petrobras, Vale, Banco do Brasil e Paranapanema, que eram as quatro ações mais negociadas. Elas divulgavam poucas informações e de maneira muito superficial. Você tinha o balanço, mas se quisesse saber o que melhorou ou piorou, você tinha que ligar e pedir para alguém te explicar", diz.

Hoje, o desafio de boa parte dos novos investidores é desviar de tantas informações, algumas delas, sem embasamento, outras, mal-intencionadas.

No ano passado, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu 324 processos contra empresas e pessoas físicas que operavam esquemas de oferta de investimentos irregulares. Outra pesquisa, da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), apontou que, em 2019, um em cada 10 brasileiros caiu em golpes de investimentos falsos.

Moderação da busca pelo lucro

Quase sempre a falta de informação está acompanhada de um desmedido apetite pelo lucro. Esse segundo erro atinge desde investidores inexperientes até os mais treinados, afirma Conde.

Ele diz que a experiência deu a ele a tranquilidade necessária para não se deixar levar pelas ondas de otimismo. "O mercado acionário requer muita paciência, determinação e resiliência. Eu vi muita gente ficar pelo caminho, desistir, e vi muito investidor quebrar por excesso de ganância", diz.

Com novas possibilidades no exterior para os investidores brasileiros, depois da flexibilização dos ETFs e da abertura de fundos de criptomoedas, por exemplo, Conde destaca que os castelos de areia não são construídos somente sobre as belas praias brasileiras.

São grandes as chances de encontrar produtos ruins mesmo nos principais mercados do mundo. "Na China, nos Estados Unidos e na Europa, tem muita coisa que não passa de boas apresentações em Power Point. Por isso, a experiência é fundamental para evitar grandes roubadas", diz.

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