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Dólar, ouro e poupança superam Bolsa e fundos imobiliários em outubro; veja

Dólar acelerou a valorização ante o real no ano, sendo negociado agora nos maiores preços em seis meses - Getty Images
Dólar acelerou a valorização ante o real no ano, sendo negociado agora nos maiores preços em seis meses Imagem: Getty Images

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

29/10/2021 17h48

O mercado brasileiro abriu o último trimestre do ano com a mesma cara com que encerrou setembro: muita volatilidade, queda da Bolsa, alta de dólar, ouro e poupança. O Ibovespa, principal índice de ações da Bolsa, emendou a quarta queda mensal seguida, voltando ao pior patamar em 2021. O Ifix, o índice dos fundos imobiliários mais negociados na Bolsa, também afetado pela saída dos investidores da renda variável, teve a terceira variação negativa mensal.

As piora do sentimento do investidor com relação à economia brasileira se mostrou na maior procura pelo dólar, destaque de alta entre ativos de investimentos, pelo ouro, e ainda pela tradicional poupança, que continua sendo beneficiada pela alta da taxa básica de juro, que aumentou para 7,75%, o maior patamar em quatro anos. Confira abaixo o desempenho dos principais investimentos em outubro.

Mercado preocupado com gastos do governo

O comportamento cauteloso dos investidores que já fora dominante nos mercados em setembro se tornou mais forte em outubro, especialmente após a aprovação do texto da PEC dos Precatórios pela comissão especial da Câmara. A novidade abre espaço para o governo gastar mais R$ 83 bilhões em 2022, ano em que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tentará a reeleição.

O evento já seria negativo por si só, apontam profissionais de mercado, mas ganhou contornos mais críticos com os pedidos de demissão de integrantes do Ministério da Economia -que desfalcaram a equipe de Paulo Guedes.

Para profissionais de mercado, o governo sinalizou que vai furar o teto de gastos e abandonar o respeito às regras de responsabilidade fiscal. Isso afasta investidores estrangeiros do mercado brasileiro, o que deve reduzir a entrada de dólares.

Cenário para economia e para empresas

A alta do dólar em outubro alimenta com mais força a inflação, o que já exigiu do Banco Central uma resposta mais dura para tentar recuperar as rédeas da economia. O movimento de alta da taxa básica de juros foi acelerado, com a Selic indo ao maior patamar desde outubro de 2017, para 7,75% ao ano.

Juros e inflação em alta são adversários das empresas, que têm mais dificuldade para aumentar vendas e preservar os lucros, destacam gestores de recursos.

O aumento de juros reduz a expectativa de crescimento, que, para o ano que vem, deve ser próxima de zero. E já tem economista prevendo uma recessão, o que relembra os piores momentos da economia brasileira: juros altos, inflação sem controle e pífio crescimento.
Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora

Desempenho dos investimentos

Confira como foi o desempenho dos principais investimentos em outubro.

  • Ouro: +5,28%
  • Dólar: +3,67%
  • Poupança antiga: +0,50%
  • Poupança: +0,36%
  • Ifix: -1,51%
  • Ibovespa: -6,74%

Com esse desempenho negativo em outubro, os investimentos de renda variável, como Bolsa e fundos imobiliários, ampliaram as perdas acumuladas no ano.

O Ibovespa, por exemplo, está agora ao redor dos piores patamares deste ano, oscilando nos níveis de novembro do ano passado. Já dólar acelerou a valorização ante o real no ano, sendo negociado agora nos maiores preços em seis meses.

Veja o desempenho acumulado no ano:

  • Dólar: +8,81%
  • Poupança antiga: +5,11%
  • Poupança: +2,03%
  • Ouro: +0,32%
  • Ifix: -6,79%
  • Ibovespa: -13,03%

Cenário para restante do ano

A volatilidade e o medo de investir no Brasil não vão sair de cena, dizem profissionais de forma unânime entre aqueles ouvidos pelo UOL.

Segundo eles, os motivos que têm provocado a atual cadeia de impactos negativos sobre a economia brasileira —alta do dólar, que acelera inflação e exige do Banco Central um aumento mais ríspido dos juros —vão continuar presentes no cenário dos mercados neste último bimestre de 2021 e ao longo de todo o primeiro trimestre de 2022, pelo menos.

Para o analista da Guide Investimentos, Rodrigo Crespi, as fontes de volatilidade são muitas e não devem sair do radar do mercado tão cedo.

A gente segue com incertezas relacionadas ao risco fiscal, não temos respostas do andamento das reformas tributária a administrativa, além da crise hídrica, que permanece no cenário. E ainda tem eleições ano que vem.
Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos

Segundo o economista William Teixeira, chefe de renda variável da Messem Investimentos, ser mais conservador na renda variável neste momento é o mais indicado.

Temos defendido posições em empresas estáveis e maduras. É hora de apostar em empresas de valor, com caixa robusto e endividamento controlado.
William Teixeira, da Messem Investimentos

Maior busca por renda fixa

Profissionais de mercado contam que a alta da taxa básica de juros tem levado a uma maior procura por aplicações de renda fixa.

Para o sócio da OBB Capital, Guilherme Rebouças de Oliveira, o investidor precisa ter cautela se pretende fazer ajuste na carteira. Segundo ele, a Bolsa está bastante descontada e sair agora significa realizar prejuízo.

Tem uma demanda de clientes para aumentar as posições em renda fixa, mas a gente tem que pensar no longo prazo. Quem ainda está concentrado em Bolsa, talvez seja melhor esperar para que ela se recupere um pouco, já que ela já recuou muito.
Guilherme Rebouças de Oliveira, da OBB Capital

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