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Com alta dos juros, onde investir? Poupança não é opção, dizem analistas

Fernando Barbosa

Colaboração para o UOL, em São Paulo

27/10/2021 18h37

O Banco Central anunciou, no final desta quarta-feira (27), mais um aumento na taxa Selic, de 6,25% ao ano para 7,75% ao ano. Dessa forma, a taxa básica de juros chega a sexta alta consecutiva. Esse movimento de aumento, segundo analistas ouvidos pelo UOL, pode se repetir na próxima reunião do Copom, em dezembro, diante da aceleração da inflação —que já está em 10,25% ao ano e não mostra sinais de recuo.

Se de um lado, com juros maiores, o crédito fica mais caro para o consumidor; de outro, a Selic maior fortalece investimentos mais conservadores, da renda fixa, e beneficia quem tem um dinheiro a mais para investir. Apesar disso, poupança não é opção. Confira abaixo onde investir agora, segundo especialistas ouvidos pelo UOL.

Tesouro e ativos atrelados ao IPCA ganham força

Para Adriano Germenink, especialista de estratégia da Ágora Investimentos, o investidor que já estiver posicionado em ativos de renda fixa, em especial em títulos prefixados ou atrelados à inflação, como o Tesouro IPCA+ e Tesouro Selic, tende a ver uma oscilação maior nos preços dos seus títulos.

É que diante de um aumento dos juros, a rentabilidade oferecida para esses títulos sobe, mas os preços desses títulos no mercado tendem a cair, porque a projeção é de que os juros subam ainda mais. Ou seja: o mercado espera que, num futuro próximo, diante de novas altas, o Tesouro Nacional ofereça rentabilidades ainda melhores. Por isso, ele prefere esperar e não comprar tantos títulos agora.

No entanto, as oscilações impactam apenas quem vai resgatar os recursos antes do prazo de vencimento. Quem mantiver os títulos até o vencimento, se beneficia do aumento da Selic.

Camilla Dolle, chefe de renda fixa da XP Investimentos, afirma que o Tesouro Selic é uma boa opção neste momento, principalmente para a reserva de emergência. "É um ativo para quem busca algo conservador", afirma.

Já o Tesouro IPCA é uma boa escolha para prazos maiores, de cinco a sete anos, segundo a especialista, e protege o investidor do aumento da inflação, pois acompanha justamente esse índice.

Os títulos prefixados, cuja rentabilidade é conhecida no momento da aplicação, exigem cautela, segundo Dolle. Para ela, a escolha pelos prefixados faz sentido para um prazo de, no máximo, quatro a cinco anos.

Nesse tipo de investimento, o "risco" é receber menos do que os juros e a inflação num futuro próximo. Como inflação e juros seguem em trajetória de alta, o Tesouro Nacional vai ajustando para cima a rentabilidade oferecida para este tipo de papel.

Há menos de três meses, por exemplo, quem comprou um prefixado vai receber em torno de 9% ao ano no vencimento —valor que parecia vantajoso naquele momento, mas que, hoje, já não cobre nem a inflação. Hoje, já existem prefixados que pagam quase 12% ao ano.

Pós-fixados também passam a render mais

Segundo Germenink, para investidores posicionados em títulos pós-fixados, ou seja, aqueles atrelados ao CDI, como CDBs, fundos DI, LCI e LCA, devem ter rendimentos maiores, uma vez que estas opções acompanham a variação da taxa básica de juros.

"O aumento em si acaba afetando principalmente, de imediato, os pós-fixados, que têm um porcentual da Selic ou um CDI mais alguma coisa. Ele vai acompanhar qualquer aumento ou redução da Selic naquele período", destaca Camilla Dolle, da XP Investimentos.

O mesmo não vale para a poupança. Apesar de a rentabilidade da caderneta estar atrelada à taxa Selic, ela continua em desvantagem frente a outros investimentos. É que, pela regra, a poupança rende apenas 70% da Selic, quando os juros estiverem até 8,5%. Ou seja, com os juros a 7,75%, ela está rendendo agora 5,425% —e segue desvantajosa para o investidor.

"Nas condições atuais, como a inflação está em mais de 10%, de todas as opções para deixar o dinheiro, a poupança talvez seja a que perde mais para a inflação. Do ponto de vista de investimento, não vale a pena. Mas, para um dinheiro de curto prazo, não tem problema. É uma forma de ter capital de giro", afirma Eduardo Perez, analista da Nu Invest.

Além disso, o correntista teria que esperar pelo menos um mês para obter os rendimentos, já que a poupança remunera apenas na data de aniversário. Assim, se for preciso fazer alguma retirada, a remuneração acontece sobre o menor saldo em conta durante aquele período.

Ações têm preços descontados - e oportunidades

Mesmo que a elevação dos juros reduza a liquidez em Bolsa, há oportunidades para a compra de papéis de empresas, dizem os analistas.

Para quem pensa a longo prazo, agora pode ser uma boa oportunidade para estruturar uma carteira com aquisições de empresas sólidas no mercado, uma vez que os papéis negociados da B3 têm preços mais atrativos.

"Crises são sempre momentos de consolidação. Nas carteiras, a gente considera ativo que tem robustez suficiente para ser um solidificador e trazer sinergia para agregar valor ao investidor", afirma José Cataldo, superintendente de research da Ágora Investimentos,

A opinião é compartilhada por Alvaro Bandeira, economista-chefe da corretora Modalmais.

"É um bom momento para fazer compras de boas empresas, de empresas maduras, com boa governança, com pegada ESG e que tenham tradição de boa distribuição de dividendos aos acionistas", afirma.

Fundos imobiliários requerem atenção

As cotas de fundos imobiliários também tendem a sofrer queda com a alta da Selic, assim como as ações, lembra Perez, da Nu Invest. "Mas isso faz com que o pagamento mensal dos proventos se torne muito mais interessante", diz.

Segundo Peres, os fundos imobiliários podem, no médio e longo prazo, ajudar a evitar a deterioração do patrimônio do investidor pela inflação de duas formas: com os contratos de locação de prédios ou pela correção indexada ao IPCA de alguns fundos.

Juros devem continuar subindo

No Boletim Focus divulgado nesta semana, o Banco Central estimou que a Selic deve encerrar 2021 em 8,75% ao ano, enquanto a projeção para o IPCA é de 8,96%. Há um mês, a avaliação do BC era outra: a inflação chegaria a dezembro em 8,45% —patamar já muito acima do teto da meta, de 5,25% — e os juros, em 8,25%.

Os números refletem a preocupação do mercado com o excesso de gastos do governo, que anunciou um valor de R$ 400 para o Auxílio Brasil, além dos planos de ter R$ 83 bilhões para gastar em 2022 com a aprovação da PEC dos Precatórios —oficializando o furo no teto de gastos.

Bandeira lembra que o consenso de reajuste dos juros mudou rapidamente.

"O Banco Central deve manter [os juros] em alta até pelo menos o primeiro trimestre do ano que vem, quando o ciclo para a Selic atingir entre 11,25% e 11,50%", afirma.

No Banco Inter, a estimativa divulgada há duas semanas era de elevação de 1 ponto porcentual para a Selic. Recentemente, a instituição já trabalhava com o patamar de acréscimo de 1,5 ponto percentual.

"A gente tinha uma estimativa de que o ciclo atual [de alta] duraria até dezembro, mas estamos revisando isso. A inflação um pouco mais alta e a aprovação da PEC dos Precatórios impactam no câmbio e resultam em desconfiança geral no mercado", afirma Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter.

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