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Variante ômicron preocupa mercados; o que fazer com suas ações agora?

Paula Pacheco

Colaboração para o UOL, em São Paulo

04/12/2021 04h00

Descoberta recentemente na África do Sul, a ômicron, nova variante do coronavírus, trouxe incertezas sobre o alcance que a pandemia de covid-19 ainda deve ter — tanto na saúde quanto na retomada da economia de maneira global. A circulação da nova cepa abalou Bolsas de Valores em todo o mundo, como EUA, Ásia, Europa e Brasil.

Mas, então, como ficam os investimentos em ações? Quem aposta em empresas de turismo e aviação no mercado financeiro, por exemplo, deve vender os papéis? Confira recomendações de especialistas para que evitar a perda de dinheiro neste momento.

Como há pouca informação sobre a omicrôn, cientistas não sabem ainda se existe risco de as coberturas vacinais não serem eficientes e qual pode ser o grau de letalidade.

Até o dia 1º de dezembro, chegava a 24 o número de países com contaminados pela nova variante — incluindo o Brasil. A OMS alertou para o risco alto de contágio diante da grande grande na distribuição de vacinas contra a covid-19 no mundo, o que torna a circulação do vírus incontrolável.

Os primeiros abalos

As dúvidas sobre a ômicron foram suficientes para contaminar o mercado financeiro. Presidente do Federal Reserve (FED), o banco central americano, Jerome Powell declarou em nota enviada ao Comitê de Bancos, Habitação e Assuntos Urbanos do Senado que "o recente aumento nos casos de covid-19 e o surgimento da variante ômicron representam riscos negativos para o emprego e para a atividade econômica, e aumenta a incerteza sobre a inflação."

Não são apenas as atividades ligadas ao turismo — como hospedagem, transporte aéreo e venda de pacotes — estão expostas à ameaça da nova variante.

Edward Moya, analista de mercado financeiro da OANDA para a América Latina, explica que a recuperação econômica global está lutando contra uma nova onda de covid-19, o que poderia resultar em mais problemas na cadeia de abastecimento e uma queda na atividade econômica, já que os países não vacinados podem ficar vulneráveis a paralisações prolongadas.

"Até que grande parte do mundo em desenvolvimento ponha as mãos nas vacinas contra a covid-19, a incerteza deve permanecer elevada ao longo dos próximos trimestres", diz.

Em quais setores investir

Para o investidor, o cenário incerto trazido pela ômicron exige atenção à carteira. João Abdouni, especialista em investimentos da Inversa Publicações, recomenda cautela no mercado de ações e diz que quem gosta da Bolsa de Valores deve se concentrar em papéis de empresas tradicionalmente sólidas. É o caso de Suzano (SUZB3), com cotação atual de R$ 55 e possibilidade de chegar a R$ 110, e Klabin (KLBN3), cotada a R$ 25 e com potencial para chegar a R$ 60.

"Ambas têm grandes projetos para aumento da produção e geração de caixa em dólar. À medida que esses projetos forem entregues as companhias vão pagar dividendos. Em algum momento vai chegar ao preço alvo", declara.

As exportadoras brasileiras de papel e celulose também são a recomendação de Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, caso o mundo enfrente mais uma onda de pandemia e as decisões por lockdown se espalhem em mercados importantes, como o europeu.

"Assim como as companhias de tecnologia, as empresas de papel e celulose se beneficiam por causa do aumento das compras em e-commerces, já que as entregas de produtos crescem e movimentam o consumo de papelão", afirma.

Além dessas, sua sugestão é fazer aportes em ações de bancos, como Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC4) e BTG Pactual (BBTG11), além de Neoenergia (NEOE3) e Engie (EGIE3), do setor elétrico. "São companhias 'treinadas' no risco Brasil, que vão bem em qualquer época", diz Abdouni.

Como se blindar da alta do dólar

Se a ômicron se tornar uma ameaça ainda maior e aumentar a aversão do mercado ao risco, o dólar tende a se apreciar em relação a qualquer outra moeda de país emergente, entre eles o Brasil.

Por isso, uma das formas de aumentar a blindagem à variante é ter investimentos atrelados a grandes exportadores, que costumam ter contratos com mercados variados e em moeda estrangeira, como no caso da Vale (VALE3) e da Gerdau (GGBR4).

Segundo Abdouni, só deve investir em ações agora quem puder ter o dinheiro aplicado no longo prazo, por pelo menos cinco anos. Do contrário, existe o risco de perdas que podem ser provocadas pelas incertezas atreladas à pandemia e, no caso particular do Brasil, pelas variações de humor em função do período de campanha presidencial.

"Hoje, a recomendação é aumentar os investimentos em renda fixa, atrelada à Selic, em fundos imobiliários e ações", diz.

Com a chegada da ômicron, devo vender minhas ações?

Em tempos de incerteza como agora, com o surgimento da nova variante, os investidores não devem correr para se desfazer de seus ativos, de acordo com Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B.Side Investimentos.

Nada de vender agora a carteira de ações, por exemplo, porque o mercado pode subir. Caso esteja muito inseguro, o que pode ser feito é vender uma parte desses papéis e ficar capitalizado à espera de uma boa oportunidade de compra de ações mais baratas.
Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B.Side Investimentos

Em linhas gerais, o especialista acredita que a melhor saída para momentos de indefinição como o atual é escolher ações de empresas com bons fundamentos no longo prazo. "Procure fazer a seguinte pergunta: como esta companhia vai estar daqui a dois ou três anos? Ela vai continuar existindo?".

Especialista de ações da Clear Corretora, Pietra Guerra acha que será necessário esperar por pelo menos mais 10 a 15 dias para se ter mais clareza sobre os impactos da nova variante. Há questões técnicas e farmacêuticas que, conforme evoluírem, vão ajudar a entender como as economias devem reagir à ômicron e, consequentemente, o mercado.

Diversificação é sinônimo de proteção

Mas, seja qual for o nível de gravidade desta nova fase da pandemia, Pietra prega que o investidor nunca tenha posições concentradas num determinado mercado, região ou moeda. Esse comportamento, independentemente das condições do mercado, ajuda a pulverizar os riscos de perda.

Vinícius Buriche, analista macroeconômico da Inside Research, defende a mesma estratégia: diversificação. "A melhor proteção continua sendo os critérios de escolha dos ativos e identificação com cada tese de investimento. Não se protege dos eventos depois que eles acontecem. Por isso, manter um portfólio diversificado e com clareza nos fundamentos serve como proteção para esse e outros eventos que virão", afirmou.

Na estratégia de diversificação, Buriche não inclui empresas ligadas ao turismo —que estariam entre as mais ameaçadas desde o início da pandemia. Para o analista, há setores com maior potencial de resultado por estarem atualmente com valores abaixo do potencial e terem fundamentos melhores.

Ele explica o porquê de deixar, por exemplo, as ações das companhias aéreas de fora das recomendações. "Apesar da retomada operacional dessas empresas, não faz sentido para nós, dado que o cenário macro para com as companhias aéreas é ruim, já que o dólar e a inflação tendem a ficar mais elevados".

Para ele, "a mudança de cultura na parte executiva da sociedade, preferindo os calls on-line aos encontros, também tem diminuído o ticket médio das empresas aéreas".

Na estratégia de diversificação, que deve ser reforçada por conta dos riscos trazidos pela pandemia, o analista da Inside Research acredita que a busca por ativos atrelados ao dólar poderá cumprir um papel importante na carteira dos investidores, já que o câmbio costuma ficar mais volátil em tempos de incerteza.

Por isso, Buriche recomenda empresas dolarizadas. Entre elas, Microsoft, Google e Netflix. Moya, da OANDA, completa: "Com a nova variante e um Fed que parece ansioso para remover estagnação podem desencadear um aumento expressivo do dólar por aqui, o que castigará toda a América Latina."

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