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Como a invasão da Ucrânia afeta seus investimentos e o que fazer

Veja como invasão da Ucrânia pela Rússia afeta Bolsa, dólar e juros - Anatolii Stepanov/AFP
Veja como invasão da Ucrânia pela Rússia afeta Bolsa, dólar e juros Imagem: Anatolii Stepanov/AFP

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

24/02/2022 10h29Atualizada em 24/02/2022 13h54

A invasão da Ucrânia por tropas russas eleva a tensão em todo o mundo, aumentando as incertezas sobre os rumos da economia global. Além das inestimáveis perdas das populações diretamente afetadas pela guerra, o conflito afeta os mercados e os investimentos em todo o mundo.

Nesse ambiente de incertezas crescentes, profissionais de mercado dizem que a busca por ativos de segurança, como ouro, dólar e títulos do governo americano vão ser mais procurados. Já as aplicações consideradas de maior risco, como moedas, ações de empresas e títulos de renda fixa de governos de países emergentes, como o Brasil, sofrerão mais, pelo menos neste momento inicial de dúvidas. Veja então o que dizem os especialistas sobre investimentos no Brasil neste momento.

Muito embora essa tensão tenha se configurado nos últimos anos e tudo indicava que a Rússia estava preparada para atacar, os mercados não estavam precificando isso, pois acreditavam em uma solução diplomática, o que não foi o caso.
Andrey Nousi, CFA e fundador da Nousi Finance

Essa volatilidade dos mercados pode demorar algum tempo, de duas semanas a um mês, até o mercado conseguir ancorar os preços dos ativos, até encontrar um novo patamar de equilíbrio.
Carlos Henrique Pessoa, gestor de recursos e Ceo da Vêneto Family-Office

O fato de o Brasil ser um grande produtor e exportador de matérias-primas coloca o país numa posição atrativa para investidores internacionais, aponta a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta. Mas ela destaca que nesta quinta-feira, especificadamente, no primeiro pregão após o ataque, a primeira reação dos aplicadores em todo o mundo é a de sair de mercados emergentes para buscar mercados mais seguros.

Por isso vemos aqui no Brasil queda do real, alta dos juros e baixa da Bolsa. Os investidores saem dos mercados, fazem as contas e, depois, voltam a ele. É um movimento de fuga porque o receio prevalece no curto prazo.
Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital

Bolsa: O aumento das incertezas pode afetar o fluxo de capital estrangeiro que vem puxando para cima o Ibovespa neste primeiro bimestre do ano, apontam analistas.

Como os investidores estrangeiros colocam mais dinheiro nas ações mais negociadas, as chamadas blue chips, esses papéis podem sofrer mais. Mas isso não vale para todos os tipos de empresas, destacam esses profissionais. Algumas companhias podem se beneficiar desse ambiente, como é o caso das petroleiras.

O conflito no leste europeu coloca em risco o fornecimento de petróleo no mundo. O preço dessa commodity já está em alta e deve continuar assim. Isso favorece as empresas que vão receber mais pelo barril que produzem. É o caso da brasileira Petrobras, que aliás já anunciou lucro forte no balanço do quarto trimestre de 2021.

No primeiro momento o mercado brasileiro pode sofrer, em especial as ações de empresas cíclicas, como as de varejo, por exemplo, que são penalizadas pelos juros mais elevados. Mas olhando um segundo momento o Brasil pode ser um belo substituto da Rússia nas carteiras dos investidores que aplicam em mercados emergentes, porque é exportador de commodities também, por exemplo.
Thomás Giuberti, economista e sócio da golden investimentos

A bolsa brasileira tem condições de se manter como opção dos investidores, principalmente na visão de longo prazo, pelo múltiplos bastante atrativos.
Marcio Loréga, gerente de research do PagBank

Renda fixa: O conflito no leste europeu coloca em risco também a oferta global de outras commodities, como o trigo. O encarecimento dessas matérias-primas pode renovar as pressões de inflação em todo o mundo. Nesse ambiente, os bancos centrais podem ser forçados a elevar os juros mais do que o que é esperado pelos agentes de mercado.

Assim, aplicações em renda fixa pós fixadas, como Tesouro Selic, são apontadas como opções de porto seguro para quem quer ficar longe da volatilidade.

De maneira geral, o contágio principal é via commodities, principalmente energéticas e em seguida agrícolas. Petróleo Brent opera acima de US$ 100 e o gás natural subiu 40%. A alta das commodities se soma ao cenário de inflação alta em todo mundo e pode ocasionar um aperto monetário maior do que o projetado.
João Beck, economista e sócio da BRA

Talvez a gente tenha mais juros por mais tempo. Então tomar posições prefixadas agora representa mais risco. Então, prefiro ativos atrelados ao CDI.
Carlos Henrique Pessoa, Vêneto Family-Office

Dólar: A moeda americana deve se valorizar em relação a outras por dois grandes fatores: já é tradicionalmente um refúgio dos investidores em tempos de incertezas; e a economia americana tende a ser menos impactada pelo conflito que a europeia. Assim, o dólar tende a se subir na comparação com real, euro e libra.

A especialista de ações da Clear Corretora, Pietra Guerra, destaca que o dólar vinha recuando no Brasil, da casa de R$ 5,40 para perto de R$ 5,00. Mas agora a tendência é subir (acompanhe a cotação da moeda aqui).

Mostramos aqui como o aplicador brasileiro pode colocar parte da carteira em aplicações que acompanham o dólar.

Ouro: O ouro apresenta movimento de valorização em tempos de incertezas e é uma forma de proteção contra a inflação, destacam profissionais de mercado. E isso deve acontecer novamente neste momento, pelo menos nessa fase em que as dúvidas ainda são muitas sobre o conflito no território ucraniano.

O bom e velho ouro também é uma boa forma de proteger sua carteira de investimentos, principalmente no momento atual, em que as commodities têm ganhado bastante força num ambiente mais inflacionário.
Lucas Collazo, especialista em investimentos da Rico

O que o investidor deve fazer

Profissionais de mercado destacam que o aplicador não deve tomar decisões precipitadas e fazer movimentações bruscas na carteira de investimentos. Segundo analistas, o impacto de conflitos militares sobre a economia perde força em questão de meses. E, no longo prazo, volta a prevalecer os fundamentos macroeconômicos que existiam antes das tensões geopolíticas.

Assim, a recomendação de profissionais de mercado é que o aplicador que estiver desconfortável com a incerteza faça movimentos pontuais, em parte da carteira.

Já quem está colocando dinheiro novo na aplicação, essa pessoa pode priorizar esses ativos de segurança - se ela de fato estiver mais interessada em proteção que em ganhos rápidos.

Nossa ideia de aproveitar o preço do dólar e o preço da Bolsa para comprar posições compradas em dólar para nossos clientes e hedge continua valendo mais do que nunca mesmo neste cenário. Já com relação a movimentações mais fortes, como realocações e resgates de fundos e ativos, eu sempre sou muito avesso a esse tipo de reaplicação durante cenário de estresse. Recomendo o cenário ficar mais claro para entender quais ativos vão mesmo sofrer mais e o que fazer.
Mauro Morelli, estrategista chefe da Davos Investimentos

Nas ações devemos ficar atentos às distorções que ocorrerão, assim como foi na pandemia, mas o cuidado em saber o que cada um suportará de risco será muito importante, pelo seu perfil de investidor, para evitar oscilações que não serão sustentadas pelos compradores neste atual momento.
Marcio Loréga, gerente de research do PagBank

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