Como a reabertura da Bolsa russa afeta ações e investimentos no Brasil?
Após quase um mês com negociações suspensas por causa da Guerra da Ucrânia, a Bolsa de Moscou reabriu em 21 de março. No primeiro dia, companhias de petróleo, por exemplo, registraram altas de mais de 12% —o que agitou o mercado global.
Mas o índice segue com queda acumulada de quase 34% entre fevereiro e março. Como a Bolsa de Valores russa pode afetar o mercado de ações brasileiro? As altas das empresas russas de petróleo e também de gás tendem a influenciar as companhias brasileiras? Veja o que dizem os analistas ouvidos pelo UOL.
Reabertura da Bolsa de Moscou
No primeiro dia de negociações do índice Moex, de Moscou, companhias como as petroleiras Rosnefit e Lukoil registraram alta de 16,9% e 12,4%, respectivamente. Não foi diferente com as produtoras de gás natural Gazprom e Novatek, com avanços de 13,38% e 18,48%, respectivamente.
No entanto, em meio ao cenário turbulento, o Moex voltou a ter baixa, acumulando baixa de 33,8% entre os dias 16 de fevereiro (antes do embate) e 30 de março, a 2.437,92 pontos.
Caminho inverso na B3
Segundo o analista de investimentos da Empiricus Research, Matheus Spiess, desde janeiro a Bolsa de Valores do Brasil (B3) tem tido um caminho oposto ao que ocorre historicamente. O mercado de ações no país registra desempenho positivo mesmo com eventos negativos no exterior.
Cotado a 103.921,59 pontos no início de 2022, o Ibovespa, principal índice de ações da B3, atingiu um pico em 2 de março, aos 115.173,609 pontos, para depois operar novamente em queda, a 108.959,30 pontos no dia 15 de março —seu nível mais baixo desde o início do mês. Atualmente, supera os 120.000 pontos, somando alta de 14,73% no ano, conforme o fechamento desta quarta-feira (30).
"O que tem acontecido é um movimento que privilegia os ativos brasileiros, porque eles já estavam descontados [baratos] em função de um processo de venda que aconteceu no ano passado, em especial no segundo semestre", diz Spiess.
O segundo ponto destacado pelo analista são os aumentos dos juros em economias desenvolvidas, como os EUA. Em março, o Fed (Federal Reserve, o Banco Central do país), elevou os juros de 0,25% para 0,50% ao ano.
"No exterior, eles estão começando a subir os juros, e aqui nós estamos perto do final do ciclo, provavelmente com mais uma ou no máximo duas altas", afirma o analista da Empiricus.
Atualmente, a taxa básica de juros do Brasil, a Selic, está em 11,75% ao ano. Segundo os economistas consultados pelo Banco Central, a Selic deve encerrar 2022 em 13% ao ano —há quatro semanas, essa estimativa estava em 12,25%.
Para a educadora financeira da corretora Avenue Securities, Mell Dillor, o investidor deve ficar atento aos reajustes dos juros na economia americana.
"Quanto maior a taxa de juros dos EUA, maior o fluxo de entrada de dinheiro no país, o que prejudica países emergentes como Brasil", declara Mell. Esse risco é agravado pelas eleições presidenciais, em outubro.
Mercado de olho no exterior
A volta das negociações e os ganhos das petroleiras na Bolsa de Moscou não devem impactar o desempenho das companhias do setor na B3, como a Petrobras (PETR3/PETR4) ou PetroRio (PRIO3), de acordo com Spiess.
Por outro lado, o sobe e desce no preço do barril de petróleo do tipo Brent, referência no mercado internacional negociado em Londres, pode afetar os resultados das empresas nacionais. "A Rússia é um dos principais polos produtores de petróleo. Cerca de 10% do petróleo exportado no mundo vinha do país", diz ele.
Antes do confronto militar, o barril de petróleo estava cotado por volta dos US$ 90, bem abaixo do pico de US$ 139 no início de março. Na última quarta-feira (30), registrou queda de 0,85%, avaliado em US$ 112,4.
Para a diretora de distribuição e suitability da gestora Multiplica Capital, Maria Levorin, a entrada de capital estrangeiro é um dos motivos que beneficia as ações das companhias brasileiras.
Normalmente, o maior motivo que influencia os preços das petroleiras é a cotação do petróleo. No entanto, desta vez o preço das empresas russas está ligado diretamente à guerra. Quando a guerra acabar, elas vão subir mais do que as brasileiras, até porque caíram muito mais.
Maria Levorin, diretora de distribuição e suitability da gestora Multiplica Capital
O estrategista de ações da Genial Investimentos, Filipe Villegas, diz que o fluxo inverso de valorização dos ativos no mercado brasileiro se deve ao fato de que as repercussões mais prejudiciais do confronto já ficaram para trás.
"Passamos por um período mais tenso envolvendo esse conflito, com o investidor no Brasil diminuindo a sua exposição à Bolsa. Agora, a expectativa de uma resolução começa a gerar um aumento do apetite por mais risco", afirma Villegas.
Além da guerra no Leste Europeu e do aumento dos juros nos EUA, Villegas destaca o lockdown por conta da nova onda de covid-19 na China e o efeito da alta nos preços dos combustíveis no mercado interno brasileiro como fatores que podem minar a confiança do mercado.
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