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Fundo imobiliário do Hospital da Criança suspende dividendos; o que fazer?

Entenda por que os cotistas do fundo imobiliário Hospital da Criança deixaram de receber os dividendos por dois meses - Getty Images
Entenda por que os cotistas do fundo imobiliário Hospital da Criança deixaram de receber os dividendos por dois meses Imagem: Getty Images

Paula Pacheco

Colaboração para o UOL, de São Paulo

04/06/2022 04h00

Cotistas do fundo de investimento imobiliário (FII) Hospital da Criança (HCRI11) estão perdendo dinheiro porque o pagamento de dividendos foi suspenso nos dois últimos meses (abril e maio). Informados por meio de uma nota, os cotistas reclamaram, já que muitos contam com os proventos repassados mensalmente para compor sua renda e bancar compromissos.

Há uma disputa na Justiça, e a expectativa é de que os pagamentos voltem a ser feitos ainda neste mês. O que está acontecendo? O investidor pode entrar na Justiça para exigir o pagamento? Quais os cuidados para evitar esse tipo de situação ao investir num FII. Veja o que especialistas falam sobre isso a seguir.

A suspensão ocorreu por causa de uma antiga disputa na Justiça sobre aluguéis. Agora, ao que tudo indica, parte do contencioso deve terminar depois de o gestor, o BTG Pactual, e o locatário do Hospital da Criança, a Rede D'Or.

As duas partes fizeram um acordo sobre os valores dos pedidos de revisão do aluguel. Se o juiz da ação der o sinal verde, caberá ao gestor quitar a diferença de R$ 1,03 milhão (valor atualizado).

Para fazer caixa e se preparar para o pagamento do valor da disputa judicial, o gestor suspendeu o pagamento de dividendos nos últimos dois meses.

A expectativa é que neste mês os repasses sejam retomados. Os cotistas, no entanto, só terão a confirmação no dia 13.

Cotas negociadas por preços menores

As idas e vindas na Justiça e a suspensão do pagamento dos dividendos refletiram no ânimo do mercado, como explicam especialistas ouvidos pelo UOL.

Nas últimas semanas, as cotas do HCRI11 têm sido negociadas no mercado secundário pelos menores valores desde o IPO, em junho de 2018.

"A suspensão de pagamento surpreende negativamente o investidor que focava apenas nos dividendos, o que pode motivá-lo a vender o HCRI11 e comprar outro ativo que está distribuindo [proventos] de maneira constante. A expectativa é de queda no preço. Já houve impacto no valor do ativo antes de a suspensão de fato acontecer e pode haver mais no futuro", diz Artur Losnak, head de FIIs do TC.

Analista de Asset Allocation & FoFs da Warren, Bruno Viveiros diz que a suspensão no caso desse FII é fundamentada por causa dos processos. "O fundo provisionou a diferença entre os valores a receber e a pagar. Como a única linha de receita do FII é justamente o aluguel, para reter os valores só mesmo com um impacto na distribuição".

Por isso, segundo o especialista da Warren, não faz sentido para o investidor levar a suspensão da distribuição de proventos à Justiça. "A gestora está atuando dentro de sua competência e parece estar seguindo as melhores práticas contábeis e em linha com os interesses do investidor".

Em casos como o do FII do Hospital da Criança, segundo Vítor Matias, assessor de Investimentos da SVN, o cotista não tem como recorrer da suspensão do pagamento de dividendos.

"Só resta ao investidor ver se o administrador agiu da melhor forma. Em um caso como esse, o gestor atuou em nome dos cotistas e tomou a decisão de suspender a distribuição de proventos para pagar uma dívida", diz o especialista da SVN.

Outro FII de hospital suspendeu pagamento

Não é a primeira vez que um FII do segmento hospitalar cancela a distribuição de rendimentos aos cotistas. O fundo Nossa Senhora de Lourdes (NSLU11) comunicou recentemente que não pagaria os dividendos do período. A disputa também é pela negociação do valor do aluguel.

Na ocasião, o FII justificou que os recursos que seriam distribuídos foram utilizados para o pagamento parcial da dívida de R$ 27 milhões também com a Rede D'Or.

Cautela com as informações antes de investir

O head de FIIs do TC orienta os interessados em FIIs que analisem o regulamento e acompanhem os passivos do fundo na demonstração financeira antes de comprar cotas.

"O fundo deve serguir o regulamento, e quando ele obedece ao que está definido, não tem como o cotista abrir uma ação na Justiça. Se o fundo não tem dinheiro, vai distribuir o quê? Portanto, não há razão para processar", afirma Losnak.

Viveiros, da Warren, concorda que o primeiro passo é se informar antes de qualquer desembolso. "A melhor pesquisa nesse caso é anterior ao investimento. Quem está atento veria que os antigos proprietários do Hospital da Criança já haviam levado à Justiça a discussão sobre os valores de aluguel em 2011, havendo assim grande chance de novos eventos do tipo e riscos potenciais ao investimento, exatamente como o caso que está se concretizando neste momento".

O especialista da Warren diz ainda que faz parte do mandato do fundo buscar os melhores retornos, ou seja, os melhores valores de contrato de locação. Enquanto cabe à Rede D'Or buscar pagar os menores valores.

Outros FIIs sofreram com os efeitos da pandemia

Nos primeiros meses da pandemia, em 2020, parte dos FIIs sofreu com a queda no valor das cotas e a volatilidade do mercado. Para alguns fundos, a solução diante da queda repentina da receita —como no caso dos shoppings, que passaram meses com as portas fechadas por causa do isolamento social— foi suspender ou então reduzir a distribuição de dividendos aos cotistas.

Cotistas que tinham a expectativa de embolsar parte dos lucros se frustraram com a piora do cenário. Os FIIs, segundo a regulamentação, são obrigados a distribuir dividendos —95% dos lucros devem ser repartidos entre os cotistas a cada seis meses.

No entanto, a maioria faz pagamentos todos os meses, o que atrai os investidores que buscam uma renda constante, além da valorização das cotas.

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