Por que a Bolsa só está caindo em agosto? Entenda as razões
A Bolsa fechou em queda de 0,53%, aos 114.982,30 pontos. É a 13ª queda consecutiva do Ibovespa, um recorde para o principal índice da Bolsa. No mês, a queda é de 5,71%. No ano, porém, a Bolsa continua em alta, de 4,78%.
A B3 confirmou oficialmente o recorde, dizendo que esta foi "a primeira vez que atingimos 13 quedas consecutivas". O Ibovespa foi criado em 1968. Em 1970, caiu por 12 pregões seguidos. A pior sequência seguinte, de fevereiro de 1984, foi de 11 pregões de perda seguidos.
O que aconteceu
Os investidores estão vendendo ações para embolsar lucros. Muitos gestores, principalmente estrangeiros, começaram a comprar ações quando o Ibovespa bateu os 100 mil pontos. Agora, estão aproveitando a alta do ano para vender essas posições e receber os lucros, diz Lucas de Caumont, estrategista de investimentos da Matriz Capital. "O mercado sempre faz isso: sobe no boato e vende no fato", explica André Sanson, diretor de gestão de ativos da TM3 Capital, de Curitiba.
Quda da inflação desacelerou. A Fundação Getulio Vargas (FGV) informou mais cedo que o IGP (Índice Geral de Preços-10) registrou queda de 0,13% em agosto, após recuar 1,10% no mês anterior, com a deflação perdendo força diante da retomada da pressão dos preços de algumas commodities.
Esse já era um movimento esperado. Em carta aos clientes na segunda-feira (14), os analistas da BB Investimentos já alertavam para o fato de que a sequência de desvalorizações poderia continuar. "Ainda não vemos gatilhos para uma recuperação do Ibovespa nos próximos dias".
Crise na China e nos EUA afetam mercado no Brasil. "O estopim foi o risco de uma recessão global por conta da dificuldade da China, que apesar de diversos estímulos econômicos, está com dificuldade de retomar o aquecimento da economia", diz Caumont. Ele diz que as grandes construtoras têm um grande risco de não pagarem dívidas.
Commodities também estão em queda no mês. Apesar da alta de hoje, a baixa no preço das matérias-primas também foram responsáveis pelas quedas dos últimos dias, pois impactam diretamente as empresas de maior peso na Bolsa brasileira. Isso porque a China é o maior importador das commodities brasileiras, diz Caumont.
Varejo está entre as maiores quedas hoje. É o caso das Alpargatas (ALPA4), Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3). Ontem o setor teve alta e hoje os investidores aproveitaram para vender e embolsar os lucros.
Fuga do investidor estrangeiro afeta o dólar
O dólar comercial ficou estável e caiu apenas 0,1%, encerrando o dia cotado a R$ 4,981. No ano, porém, ainda está em queda de 5,66%.
O capital estrangeiro também foi embora. A desaceleração da economia chinesa e o rebaixamento do Estados Unidos afastam os investidores do mercado de ações no mundo As vendas superando as compras em quase 7,4 bilhões de reais no mês até o dia 14 na Bolsa.
A taxa de juro dos EUA está no maior nível dos últimos 15 anos. O título com vencimento para daqui a 10 anos está com juros de 4,26%. Isso leva mais investidores para esses títulos mais seguros, o que impacta nas Bolsas de todo o mundo.
Ata do comitê monetário dos EUA mostra incerteza. Segundo André Luiz Rocha, operador de renda variável da Manchester Investimentos, a ata do Fomc mostrou que há incerteza sobre quando será o fim dos aumentos de juros naquele país.
Investidores ficam menos confiantes. "Isso pode levar a um ciclo de vendas em pânico, o que pode agravar ainda mais a queda", diz Rocha.
A fuga de capital estrangeiro também acentua a desvalorização do real. Sanson acredita que a moeda americana deva ficar entre R$ 4,80 e R$ 5 no final do ano. O que vai ajudar é a reação da economia, das empresas ao corte da Selic. "Se ela continuar caindo, isso tende a melhorar o consumo, a economia como um todo", afirma ele. Segundo o Focus, a expectativa geral do mercado é de um câmbio a R$ 4,93.
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