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Alta do dólar foi causada pela fala de Guedes? Especialistas divergem

Filipe Andretta

Do UOL, em São Paulo

26/11/2019 18h20Atualizada em 27/11/2019 12h10

Resumo da notícia

  • Ministro disse ontem que não é possível se assustar se alguém pedir AI-5 em caso de radicalização
  • Guedes também afirmou que dólar mais alto não é motivo para preocupação
  • Para duas especialistas, declarações causam instabilidade e afastam investimentos estrangeiros
  • Para um terceiro analista, fala de Guedes foi infeliz, mas problema é maior

A cotação do dólar registrou nesta terça-feira (26) novo recorde nominal desde a criação do Plano Real, fechando a R$ 4,24 na venda. Na opinião de duas especialistas ouvidas pelo UOL, o avanço da moeda hoje se deveu à repercussão negativa das declarações recentes do ministro da Economia, Paulo Guedes. Para um terceiro analista, porém, o motivo é estrutural, pois investidores estrangeiros estão descrentes sobre a economia brasileira.

Na noite de segunda (25), em Washington, nos Estados Unidos, Guedes afirmou que não é possível se assustar com a ideia de alguém pedir o AI-5 (Ato Institucional nº 5) diante de uma possível radicalização dos protestos de rua no Brasil. O AI-5 foi editado em 1968 e abriu caminho para o aumento da repressão durante a ditadura, com militantes da esquerda armada mortos e desaparecidos.

O ministro também afirmou que, diante da redução da taxa básica de juros, a cotação de equilíbrio do dólar "tende a ir para um lugar mais alto". Segundo o ministro, o Brasil tem uma moeda forte, e flutuações no câmbio não são motivo de preocupação.

'Lenha na fogueira' do dólar

Na opinião de Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest, as declarações do ministro "colocam lenha na fogueira do dólar" e criam instabilidade para a moeda brasileira. "Depois de o ministro falar aquilo, é claro que o mercado vai testar novos patamares no dia seguinte."

Segundo ela, a relação direta entre a fala do ministro e alta do dólar hoje fica evidente porque outras moedas não tiveram o mesmo comportamento.

A prova de que é um fator puramente doméstico é que as moedas de outros países emergentes estão caindo menos ou estão estáveis hoje
Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest

'Tamanha irresponsabilidade'

As declarações do ministro entram em contradição com o discurso oficial de atrair investimentos ao Brasil, segundo a pesquisadora Ariane Roder, do Centro de Estudos em Negócios Internacionais do instituto Coppead, da UFRJ.

É uma fala de tamanha irresponsabilidade que leva à conotação de um ambiente de instabilidade institucional, e o mercado é atraído por ambientes previsíveis
Ariane Roder, pesquisadora do Coppead/UFRJ

Ela lembrou que esta foi a segunda menção ao AI-5 feita por pessoas próximas ao alto escalão do governo —o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, também falou na possibilidade de ruptura democrática se houvesse radicalização por parte da esquerda.

Fala infeliz, mas problema é estrutural

Para Thiago Salomão, analista da Rico Investimentos, a fala de Paulo Guedes foi infeliz, mas não é a causa da alta do dólar nesta terça. Segundo o analista, se o mercado estivesse reagindo a uma possibilidade de ruptura política, a Bolsa de Valores e o risco-Brasil teriam variações "em modo pânico", o que não aconteceu.

A gente preferia que ele não tivesse falado aquilo, mas o que está impactando o mercado de fato são questões mais estruturais
Thiago Salomão, analista da Rico Investimentos

Para ele, o principal fator para a desvalorização do real é a perspectiva de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) a menos de 1%. "Investidores não compraram a retomada do Brasil, e essa convicção só virá com crescimento." O desinteresse internacional no mercado brasileiro, disse, ficou evidente com o fracasso dos leilões de áreas do pré-sal, no início deste mês.

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