Pandemia é plano chinês para recuperar economia? País está sofrendo impacto
A pandemia de coronavírus inspirou uma série de teorias da conspiração que circulam pelas redes sociais. Uma delas diz que a China se beneficiaria economicamente com a crise, principalmente por causa da queda do preço do petróleo e das ações de grandes empresas no mundo, além da valorização do dólar, que aumentaria o lucro dos chineses com a venda de títulos públicos americanos.
Teorias do tipo têm tanta repercussão em alguns setores da sociedade que até mesmo o presidente Jair Bolsonaro acredita que a pandemia tem ligação com o plano de recuperação econômica do governo chinês, de acordo com Tales Faria, colunista do UOL.
Alguns fatos, porém, contrariam a lógica desse suposto plano. Veja mais abaixo.
Novo coronavírus não foi criado em laboratório
O SARS-CoV-2, nome técnico do novo coronavírus, surgiu a partir de processos naturais, resultado da seleção natural, de acordo com pesquisadores de universidades dos EUA, Austrália e Reino Unido. As conclusões da pesquisa foram publicadas na renomada revista "Nature Medicine" na terça-feira (17).
Eles descartam que o vírus tenha sido criado em laboratório. "Nossa análise claramente mostra que o SARS-CoV-2 não é uma construção de laboratório ou um vírus manipulado propositalmente", escreveu a equipe de cinco cientistas.
China cresceu em outras epidemias, mas não cai desde 1976
Uma das teorias que circula entre círculos de apoiadores do presidente, de acordo com Tales Faria, é que toda vez que a China tem problemas econômicos aparece uma grande doença que se espalha pelo mundo, causando crise nos mercados globais e diminuição no valor dos produtos importados pelos chineses.
Entre os exemplos, estariam a pandemia de gripe aviária, de 2013, também originária da China, a de H1N1, em 2009, e o surto de peste suína africana, no ano passado.
De fato, nesses anos citados (2009, 2013 e 2019), a economia chinesa cresceu. É importante lembrar, porém, que a última vez que o país teve queda em seu PIB foi em 1976 (-1,57%), de acordo com dados do Banco Mundial. Por isso, é difícil apontar o crescimento chinês como consequência de epidemias.
China sofre com queda nas exportações
Outro ponto é que a China é o maior exportador de mercadorias do mundo. Se outros países estão imersos na crise, compram menos produtos chineses.
Uma crise econômica mundial, portanto, não é vantajosa para o país, mesmo que o valor dos importados caia.
Economia chinesa está sofrendo
Mesmo que, em outras epidemias, a economia chinesa tenha mantido o crescimento, neste ano pode ser diferente. Alguns analistas já revisaram suas projeções, inclusive prevendo a possibilidade de queda no PIB do país pela primeira vez desde 1976.
Os impactos econômicos nos primeiros meses deste ano já são significativos.
A produção industrial despencou 13,5% em janeiro e fevereiro, após crescer 6,9% em dezembro, na comparação com o mesmo período do ano anterior, de acordo com dados da Agência Nacional de Estatísticas. Foi a leitura mais fraca desde janeiro de 1990, quando começou o registro da agência de notícias Reuters.
O investimento tombou 24,5% em janeiro e fevereiro, na comparação anual, enquanto o investimento privado despencou 26,4%. As vendas do comércio diminuíram 20,5%.
A taxa de desemprego subiu de 5,2%, em dezembro, para 6,3%, em fevereiro, maior nível desde o início da publicação dos registros oficiais.
Diante do desempenho fraco nos dois primeiros meses do ano, o banco Goldman Sachs revisou sua previsão para a economia chinesa no primeiro trimestre, de crescimento de 2,5% para queda de 9%. No ano, a previsão do banco diminuiu de crescimento de 5,5% para 3%.
Mesmo com menos casos, recuperação deve ser afetada
A princípio, a China passou pela fase mais crítica da pandemia, e o número de novos casos tem se estabilizado.
Mesmo assim, a recuperação econômica da China depende também da situação dos demais países. O banco Goldman Sachs previu que a atividade econômica dos EUA, Europa e Japão terá contração no segundo trimestre deste ano, o que deve minar a recuperação chinesa.
Disputa entre Rússia e Arábia Saudita derrubou petróleo
Uma crise da proporção que está sendo vista no mundo derruba a procura, o que também diminui o preço do petróleo.
O tombo vertiginoso do valor do produto que tem sido visto nas últimas semanas, porém, está muito mais diretamente ligado à disputa de mercado entre Arábia Saudita e Rússia —sem ação direta da China.
A Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e outros países produtores, como a Rússia, não chegaram a um acordo para restringir a produção do petróleo, medida para tentar conter a queda do preço.
Diante do impasse, a Arábia Saudita optou por aumentar a produção e dar descontos em alguns mercados, derrubando o preço no mundo todo.
Ações ficam baratas para todos
Outro ponto levantado pela teoria da conspiração é que a queda de ações de empresas no mundo todo permitiria que chineses as comprassem a preços menores.
Ainda que isso, de fato, seja possível, é importante lembrar que o mercado é livre, e permite que clientes do mundo todo possam comprar as ações, não apenas os chineses.
Além disso, a queda vista nas últimas semanas foi generalizada. Atingiu Bolsas dos EUA, Europa e Ásia —incluindo a China.
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