Logo Pagbenk Seu dinheiro rende mais
Topo

Na contramão do mercado, empresas de TI lutam para preencher vagas abertas

Segundo levantamento da FIA, apenas 58,3%  dos profissionais de TI consideram seu salário justo - Christina@Wocintechchat/Unsplash
Segundo levantamento da FIA, apenas 58,3% dos profissionais de TI consideram seu salário justo Imagem: Christina@Wocintechchat/Unsplash

Bruno Lazaretti

Do UOL, em São Paulo

30/09/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Falta de profissionais qualificados e demanda constante provoca alta rotatividade no setor de TI; empresas têm até 50 vagas abertas
  • Levantamento realizado pela FIA revela que trabalhadores do setor têm o dobro de propensão de sair da organização em que atuam
  • Empresas também se queixam da falta de profissionais com certificações em tecnologias e linguagens de programação mais recentes
  • Para superar o problema, especialistas sugerem não apenas melhores salários, mas também flexibilidade e revisões na cultura corporativa
  • Oportunidades de aprendizado são importantes para manter o funcionário engajado, segundo pesquisa da FIA

Enquanto boa parte das empresas do Brasil fecham vagas, pressionadas pela crise sanitária e econômica, a Semantix enfrenta uma situação que parece até surreal. "Mesmo contratando uma média de 20 profissionais por mês nos últimos meses, ainda temos mais de 50 oportunidades abertas", afirma a gerente de gente e gestão Paula Pervelli. Isso porque a companhia faz parte um setor que tradicionalmente sofre com a falta de profissionais: a tecnologia de informação.

"Não há profissionais com a formação necessária em número suficiente requerido pelo mercado", avalia Fabiana Verdicchio, diretora de RH da PagSeguro. "Qualquer empresa hoje precisa de profissionais dessa área. A procura é maior que a oferta."

Segundo dados de um levantamento exclusivo realizado pela Fundação Instituto de Administração (FIA) a pedido do UOL Economia, profissionais de perfil técnico com grau superior que trabalham em tecnologia têm o dobro de propensão a sair da empresa em que trabalham em menos de três anos, comparados a outros funcionários da mesma empresa.

Bárbara Welter, cofundadora da Coalize - Divulgação/Coalize - Divulgação/Coalize
Bárbara, cofundadora da Coalize: alta rotatividade é um "contratempo" para as empresas
Imagem: Divulgação/Coalize
A alta rotatividade desse tipo de profissional é uma constante fonte de estresse para as empresas. "Acaba sendo um contratempo. Treinar alguém novo, inserir na cultura e retomar o projeto deixado por quem saiu - tudo isso acaba gerando uma quebra", afirma Bárbara Welter, cofundadora da Coalize, solução tecnológica que auxilia o RH das empresas.

"Mesmo as organizações referência em tecnologia padecem da falta de poder de retenção desse colaborador", analisa Filipe Talamoni Fonoff, consultor e professor da FIA responsável pelo levantamento. "É um mercado aquecido pela alta demanda. De fato, eles não permanecem, ou não desejam ficar tanto tempo quanto outros profissionais de outros setores".

O levantamento da FIA isolou sete empresas de tecnologia que estão entre as 150 empresas referências para se trabalhar de 2019, e comparou as respostas de funcionários técnicos de nível superior com as de outros tipos de funcionários. Por exemplo: apenas 21% afirmou que gostaria de se aposentar na empresa em que trabalha no momento, contra 46% da média.

Mais especializações? Então pague mais

Mariana Damiati, head de pessoas da empresa de pagamentos eletrônicos PicPay, vai além: não faltam apenas profissionais qualificados, mas também atualizados. "Poucos têm contato com tecnologias de ponta. E o profissional que olha além do código está em falta", avalia.

Para agravar a situação, o total de certificações e skills requeridas para certos tipos de trabalho cresce no mesmo ritmo dos avanços tecnológicos. Entre as cinco empresas que consultamos para esta reportagem, foram citadas 13 linguagens de programação e especializações diferentes.

Não surpreende, portanto, que um salário alto seja umas das principais demandas do profissional de TI. No levantamento realizado pela FIA, essa categoria foi a que deu notas mais baixas à sua empresa no Índice de Qualidade de Trabalho - e o fator que mais puxou essa percepção para baixo foi o salário. Apenas 58,3% consideram os salários e divisões da empresa justos. Entre os outros funcionários, o índice médio é de 75%.

A ambição também é por conhecimento

Lucas Schoch, CEO da Bitfy - Divulgação/Bitfy - Divulgação/Bitfy
Lucas Schoch, CEO da Bitfy: profissionais de TI buscam projetos inovadores
Imagem: Divulgação/Bitfy
Entretanto, mesmo empresas com remuneração bem avaliada ainda sofrem com o entra-e-sai. Então, se dinheiro não é tudo, o que é preciso para reter esses talentos?

"Essa é a pergunta de um milhão de dólares [risos]", brinca Lucas Schoch , fundador e CEO da Bitfy, uma carteira de bitcoins. "Não existe resposta correta. Acredito que eles buscam cada vez mais produtos e projetos inovadores, que tornem o dia mais prazeroso. Afinal, passamos mais tempo com nossos colegas do que com nossa família".

Para Fabiana, da PagSeguro, a cultura precisa incluir oportunidades de aprendizado."Temos um ambiente colaborativo e aberto para a inovação. Os profissionais atuam com autonomia e com tecnologias atuais, e contam com oportunidades de treinamento e desenvolvimento na carreira", afirma.

Turah Xavier, VP e head de tecnologia na Sanar, concorda. "Essas pessoas buscam um ambiente desafiador e de excelência técnica. Querem trabalhar com as melhores pessoas da área com quem poderão aprender e trocar bastante conhecimento". Paula, da Semanatix, complementa: "Percebemos, sim, que eles aspiram oportunidades de capacitação - em diferentes proporções de acordo com a senioridade de cada um".

O levantamento da FIA deixa isso bem claro. A avaliação dos profissionais de TI sobre os treinamentos em suas respectivas empresas foi 11 pontos percentuais abaixo da avaliação feita pelos outros funcionários. "Treinamento estruturado, bem feito, com certificação, é algo que eles gostariam nas organizações em que trabalham", acrescenta Fonoff.

Uma área de treinamento sólida e ampla ainda evita outro problema ligado à alta rotatividade - os chamados "silos de conhecimento". "A maior perda com a saída de alguém é todo o conhecimento que ela leva junto ao nos deixar", diz Turah. Para que ninguém retenha know-how exclusivo, ela procura trabalhar a cultura colaborativa da equipe. "Se uma pessoa sai de férias ou precisa se ausentar, o time tem que ser capaz de lidar com isso", completa.

Home office permite contratações à distância

Thiago Lucena, CEO da Uzzo Pay - Divulgação/Uzzo Pay - Divulgação/Uzzo Pay
Thiago Lucena, da Uzzo Pay: busca por talentos em outras regiões do país
Imagem: Divulgação/Uzzo Pay
Por fim, a última grande cartada dos RHs é a flexibilidade de horários. Segundo a pesquisa de Fonoff, ela é citada como um dos motivos para permanecer na empresa por 24% dos profissionais de tecnologia - e por apenas 5% dos outros tipos de trabalhadores.

"Eles gostam de home office, até porque vários rendem melhor durante a noite. Para nós também é bom, porque queremos que eles se sintam confortáveis e trabalhem nos horários em que mais rendem", diz Bárbara Welter, da Coalize.

Para Thiago Lucena, CEO da UZZO Pay, todo mundo sai ganhando com o trabalho remoto. "É bom para eles e para nós também, porque possibilita a busca de profissionais de outras regiões do Brasil", afirma.

O Prêmio Lugares Incríveis para Trabalhar é uma iniciativa do UOL e da Fundação Instituto de Administração (FIA) que vai destacar as empresas brasileiras com os mais altos níveis de satisfação entre os seus colaboradores. Os vencedores serão definidos a partir dos resultados da pesquisa FIA Employee Experience, que mede o ambiente de trabalho, a cultura organizacional, a atuação da liderança e a satisfação com os serviços de RH. A pesquisa já está na fase de coleta de dados das empresas inscritas e os vencedores do Prêmio devem ser anunciados em novembro.