Guedes: Covid passou como um trator e não podemos empurrar todos os custos
O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a covid-19 teve o impacto de um trator na economia brasileira, mas o governo federal precisa se esforçar para não empurrar os custos para futuras gerações.
Guedes gravou na última sexta-feira (26) podcast com o youtuber Thiago Nigro, do canal "Primo Rico", que foi ao ar hoje. No programa, o ministro ainda defendeu os gastos com a saúde durante a pandemia, mas com responsabilidade fiscal.
"Geração que enfrenta guerra tem que ter coragem de pagar pela guerra, não pode empurrar o custo para a frente. Isso conseguimos parcialmente fazer. Dizia-se quando começou a covid-19 que a dívida iria para 100% do PIB. Ficou em 89% porque pedimos essa contrapartida. Tudo bem, vamos gastar um pouco mais na saúde, estamos precisando, nenhum brasileiro pode ficar para trás", disse.
Para Paulo Guedes, a aprovação da reforma da previdência em 2019 possibilitou que os efeitos da pandemia pudessem ser controlados no último ano,
"Aprovamos a (reforma) da previdência, não era a ideal, mas a que foi possível. Se isso não tivesse passado, estávamos à beira de um abismo fiscal. E a covid foi um trator que ia nos empurrar para dentro do abismo. Como tínhamos feito a reforma da previdência, conseguimos resistir à covid-19, estamos aí vivos. A dívida subiu, mas o tempo todo tentamos não empurrar tanto custo para gerações futuras", disse.
No momento, o Brasil vive um recrudescimento da pandemia, com recordes na média de mortes, acima de 1.200 por dia. O governo no momento discute a extensão do novo auxílio emergencial, com quatro parcelas de R$ 250.
Paulo Guedes acredita que, além do auxílio, é preciso priorizar a vacinação em massa para enfrentar o novo momento de crise sanitária. "O mais importante é ter vacinação em massa para ter um retorno seguro ao trabalho", disse o ministro, para quem a segunda onda veio "de repente".
"Um ano e meio para virar a Venezuela"
Ainda segundo Guedes, o Brasil pode rapidamente "virar uma Venezuela ou uma Argentina" caso cometa o que considera erros na condução da economia. De acordo com a sua avaliação, um desastre econômico pode "estragar' um país em poucos anos, mas a construção de uma próspera demora mais de uma década.
"Para virar Argentina seis meses, para virar Venezuela um ano e meio. Se fizer errado, vai rápido. Quer ir para outro lado, quer virar Alemanha, Estados Unidos, são 10 ou 15 anos na outra direção", disse.
Depois, Paulo Guedes refez as contas. "Eu estou exagerando, é bem mais moderado. Leva uns três anos para virar a Argentina. E leva uns cinco, seis anos para virar a Venezuela."
PEC Emergencial
Na entrevista, o ministro da Economia falou sobre a importância de, na sua visão, aprovar a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) Emergencial. Segundo ele, a PEC poderia "enjaular a besta" dos gastos desenfreados.
"Queremos dizer que é preciso ter responsabilidade fiscal", afirmou. A intenção da equipe econômica é, com a PEC, travar gastos em contrapartida a uma nova rodada do auxílio emergencial.
Guedes ainda disse que o pagamento do auxílio emergencial sem contrapartidas fiscais seria "caótico" para o país. "Isso teria um efeito muito ruim para o Brasil. É o que aprendemos ano passado, não podemos repetir", afirmou.
"Tentar empurrar o custo para outras gerações, juros começam a subir, acaba o crescimento econômico, endividamento em bola de neve, confiança de investidores desaparece. É o caminho da miséria, da Venezuela, da Argentina", comparou.
Confiança do presidente
Paulo Guedes, afirmou que enquanto tiver a confiança do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não deixará o cargo. "Se ele (Bolsonaro) confia no meu trabalho e eu conseguir executar meu trabalho, tudo bem. Se ele não confiar, eu sou demissível em 30 segundos", disse Guedes.
"A ofensa não me tira daqui. O medo, o combate, o vento, a chuva, isso não me tira daqui de jeito nenhum. O que me tira daqui é, um, a perda da confiança do presidente, dois, ir para o caminho errado. Se eu tiver que empurrar o Brasil para o caminho errado, eu prefiro não empurrar, prefiro sair", completou ele.
Guedes reconheceu que tem havido dificuldades em avançar com alguns projetos, destacadamente as privatizações, o que ele defendeu "pelo esgotamento do modelo antigo", afirmando que o "Estado empresário faliu, quebrou".
"As privatizações estão bastante atrasadas, a reforma tributária nossa também se atrasou. A abertura da economia a gente conseguiu ir bem, mas depois chegou a covid e travou. Mas vamos abrir de novo", disse ele.
*Com informações das agências Estadão Conteúdo e Reuters.
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