Governo Bolsonaro tem o menor e o maior preço da gasolina em 21 anos
O governo de Jair Bolsonaro (PL) alcançou dois recordes opostos: o menor e o maior preço da gasolina em mais de duas décadas. Em maio de 2020, o litro do combustível atingiu o valor mais baixo desde julho de 2001: R$ 3,82, em média (ou R$ 4,52, em valores corrigidos pela inflação). Em novembro de 2021, a gasolina chegou à máxima de R$ 6,74 (R$ 7,07 hoje). Os dados são da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), que começou a fazer essa pesquisa de preços em 2001.
Para fazer este levantamento, o UOL analisou todas as médias mensais de preços da gasolina verificadas pela ANP nos últimos 21 anos, separando os maiores e menores valores de cada ano e organizando-os por governo —Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Lula (PT), Dilma Rousseff (PT), Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro. Depois, corrigiu todos os preços pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado até março deste ano, o último dado disponível. (Veja no quadro abaixo)
A atualização de todos os valores indica que o patamar mais baixo desde 2001 foi alcançado em maio de 2020, segundo ano de mandato de Bolsonaro, quando a gasolina custava R$ 3,82, em média (R$ 4,52 hoje). Naquele momento, muitos países —incluindo o Brasil— já haviam adotado políticas de confinamento (lockdown) para conter o avanço da covid-19, o que desaqueceu a economia e puxou os preços para baixo no mundo todo. Mas não durou muito: três meses depois, em agosto, o litro do combustível já estava em R$ 4,24 (R$ 5,01 agora).
O valor mais alto foi alcançado em novembro de 2021, quando o preço médio da gasolina chegou a R$ 6,74 (R$ 7,07 corrigidos). Em nenhum outro governo desde 2001 o preço corrigido do litro do combustível havia ultrapassado a marca de R$ 7. O mais próximo disso foram os R$ 2,22 verificados em fevereiro de 2003, primeiro ano de mandato de Lula, que correspondem a R$ 6,72 atualmente.
Disparada de 64% em 3 anos
Percentualmente, o governo Bolsonaro também registrou maior disparada de preços que seus antecessores. De janeiro de 2019 a março de 2022, a gasolina foi de R$ 4,27 para R$ 7,01 —alta de 64,2% em três anos e três meses. No mesmo período, a inflação acumulada foi de 23,83%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). (Veja os números mais abaixo)
Depois, proporcionalmente, vem o período final do governo FHC, quando o litro do combustível passou de R$ 1,68 em julho de 2001 para R$ 2 em dezembro de 2002 (aumento de 19,04%). Neste ano e meio, a inflação registrada foi de 17,69%.
Por fim, aparecem os governos Temer, Dilma e Lula, ainda considerando a relação alta percentual/ano. Confira todos os números:
- Jair Bolsonaro: alta de 64,2% em 3 anos e 3 meses (de R$ 4,27 para R$ 7,01), com inflação de 23,83%;
- FHC: alta de 19,04% em 1 ano e meio (de R$ 1,68 para R$ 2), com inflação de 17,69%;
- Michel Temer: alta de 19,72% em 2 anos e 7 meses (de R$ 3,65 para R$ 4,37), com inflação de 9,1%;
- Dilma Rousseff: alta de 40,66% em 5 anos e 5 meses (de R$ 2,61 para R$ 3,67), com inflação de 46,29%;
- Lula: alta de 20,46% em 8 anos (de R$ 2,16 para R$ 2,60), com inflação de 56,68%;
O levantamento feito pelo UOL considera os preços da gasolina até março (R$ 7,01) porque é o mês do último dado de inflação disponível. Mas as pesquisas da ANP são semanais, e o último balanço —referente ao período entre 17 e 23 de abril— indica que o combustível já está valendo R$ 7,27, em média, nas bombas.
Na semana passada, a gasolina mais cara foi encontrada na cidade de São Paulo (SP), onde o litro chegava a custar R$ 8,60.
Por que a gasolina está cara?
Especialistas apontam diferentes razões para o preço alto da gasolina. Mais recentemente, a instabilidade causada pela guerra entre Rússia e Ucrânia, que fez disparar os preços do petróleo no exterior, é o que tem contribuído para esse aumento.
A política de preços adotada pela Petrobras é influenciada diretamente pela cotação do petróleo no exterior e a do dólar no Brasil, o que causa reajustes frequentes nos combustíveis. Em 10 de março, a empresa anunciou um aumento de 18,77% no preço da gasolina nas distribuidoras —alta que também já está sendo repassada, em menor ou maior grau, aos consumidores.
Os impostos que incidem sobre os combustíveis no Brasil também são considerados um fator de pressão sobre os preços.
Leia aqui em detalhes o que especialistas dizem sobre a alta dos combustíveis
Governo e Petrobras
A Petrobras tem sofrido pressões de governos diferentes por causa dos preços de combustíveis.
Em 2014 e 2015, no governo Dilma, antes de adotar a política de preços atual, a empresa manteve os valores congelados nas refinarias, mesmo com o barril de petróleo em alta no exterior, com o objetivo de conter a inflação no país. A medida foi uma das principais responsáveis pelos quatro anos de prejuízo da Petrobras entre 2014 e 2017, já no final do governo Dilma e início do governo Temer.
Mais recentemente, em abril de 2019, Bolsonaro pressionou a Petrobras para que cancelasse um aumento de 5,7% no diesel nas refinarias —uma aceno aos caminhoneiros, parte importante de sua base de apoio. No mesmo dia, as ações da estatal na Bolsa de Valores brasileira, a B3, despencaram mais de 8%.
"Com Dilma, o controle [na Petrobras] vinha de cima para baixo, era uma decisão do governo de manter os preços fixos na marra. No caso de Bolsonaro, foi uma decisão individual dele, e de baixo para cima, por causa da pressão de um setor [os caminhoneiros]", disse ao UOL Álvaro Frasson, hoje diretor do BTG Pactual, em abril de 2019.
Em fevereiro de 2021, Bolsonaro anunciou que não renovaria o mandato do então presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, por estar insatisfeito com a política de preços da empresa. Seu substituto, Joaquim Silva e Luna, foi demitido em março de 2022 pelo mesmo motivo. O general foi sucedido por José Mauro Coelho, que tomou posse no último dia 14.
Governo não comenta
Procurado pelo UOL para comentar os recordes nos preços da gasolina e a pressão sobre a Petrobras, o governo ainda não havia se manifestado até a publicação deste texto.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.