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Em 3 anos de pandemia, quase 300 mil marmitarias foram abertas no Brasil

Fernanda Cassullo, 41, é nutricionista e trabalhava em um hospital antes de criar a Naturale Marmitaria - Arquivo pessoal
Fernanda Cassullo, 41, é nutricionista e trabalhava em um hospital antes de criar a Naturale Marmitaria Imagem: Arquivo pessoal

Do UOL, em São Paulo

22/03/2023 04h00

O setor de marmitas explodiu com a covid-19: 68% dos negócios foram abertos nos três anos de pandemia (2020-22). No período, foram criadas 298.966 marmitarias das 440.493 registradas oficialmente no país.

Alternativa para encarar a crise

Os números foram levantados pelo Sebrae a partir de dados da Receita Federal. No período, o ano com maior número de registros foi 2021, com quase 113 mil marmitarias abertas.

Veja quantas marmitarias foram abertas nos últimos quatro anos:

  • 2019 - 73.840
  • 2020 - 106.753
  • 2021 - 112.747
  • 2022 - 79.466

A elaboração de marmitas, que é considerada menos complexa e com a possibilidade de entrega na vizinhança, passou a ser vista como uma alternativa de renda ou complemento da atividade profissional diante da crise.
Luiz Rebelatto, analista do Sebrae

Inspiração e ajuda da família

  • Os empresários Vinícius Ramos, 35, e Fernanda Cassullo, 41, vivem de suas marmitarias. Eles começaram antes da pandemia.
  • Ramos abriu a marmitaria Empório das Massas em 2014, depois de anos acompanhando e ajudando o pai em uma pizzaria de Birigui (SP). A nutricionista Cassullo começou fazendo marmitas congeladas com a mãe em 2015 e logo criou a Naturale Marmitaria, em São Paulo.
  • Ramos se inspirou no trabalho do pai em uma pizzaria em Birigui. Resolveu abrir o Empório das Massas, onde hoje eles trabalham juntos. Segundo o empresário, o pai tem uma mão boa para cozinhar, mesmo sem ter estudado gastronomia, mas "deixava um pouco a desejar" na parte administrativa.

Meu pai sempre se ferrou muito na parte de funcionário. Ele pagava as pessoas, as pessoas não assinavam o recibo, essas coisas. Quantas e quantas pessoas não acionaram meu pai na Justiça? E quando precisou, não foi ajudado.
Vinícius Ramos, do Empório das Massas

Vinícius Ramos - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Vinícius Ramos (à dir.) se inspirou no trabalho do pai para abrir o Empório das Massas em 2014
Imagem: Arquivo pessoal
  • Cassullo também teve ajuda da família para criar e tocar a Naturale Marmitaria. Na época, ela trabalhava em um hospital e ouvia muitas queixas dos pacientes sobre como era difícil seguir uma dieta, "ter que ficar cozinhando". A nutricionista, então, resolveu dar ao pai e ao irmão algumas marmitas feitas pela mãe como teste. Eles gostaram, e ela começou o negócio.

A princípio, fazíamos a produção dentro de casa mesmo. Eu trabalhava no hospital por meio período e usava a tarde para organização do cardápio, compra dos ingredientes e entregas. Minha mãe ficava com o preparo da comida. Todo mundo elogiava muito, dizia que era uma comida gostosa, caseira.
Fernanda Cassullo, da Naturale Marmitaria

Influência da pandemia

  • A pandemia teve grande influência no crescimento da atividade. Isso porque ela provocou duas mudanças importantes: os pedidos de delivery aumentaram, e houve um movimento empreendedor. A avaliação é de Luiz Rebelatto, analista de Competitividade do Sebrae.
  • Quando a pandemia começou, em 2020, Vinícius tinha acabado de abrir uma segunda unidade do Empório das Massas em Birigui. O lugar não tinha mesas, apenas balcão, e servia comida por quilo. Sua esposa estava grávida do segundo filho e, por isso, a família tinha que manter o negócio de pé a qualquer custo.
  • "Por mais que eu estivesse com medo, fiz de tudo para não fechar", lembra. "Ah, não pode atender lá dentro? Coloquei mesa na rua. Não pode mais atender na rua? Fiz drive-thru na loja. Uma coisa que prometi para mim mesmo era não mandar ninguém embora, mesmo com pouco fluxo de caixa. Rebolei, fiz o que pude, e passamos pela pandemia tranquilos".
Empório das Massas - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Segunda loja do Empório das Massas, em Birigui (SP), foi aberta pouco antes da pandemia
Imagem: Arquivo pessoal

Agora tendência é de estabilidade

  • Depois do boom com a pandemia, a tendência agora é de estabilidade no mercado. "Não é todo mundo que vai permanecer no mercado. Uns começam e desistem, outros tentam e não conseguem", afirma o analista do Sebrae.
  • Hoje Vinícius vende 500 refeições por dia, em média, e tem em torno de 35 funcionários, considerando as três lojas. O faturamento é de cerca de R$ 3 milhões. O objetivo agora é consolidar as três unidades do Empório das Massas e abrir uma fábrica, para fornecer seu produto até mesmo a concorrentes.
  • Cassullo diz vender de 7.500 a 8.000 marmitas por mês e que não pensa em abrir uma loja física. A nutricionista quer primeiro estruturar um pouco melhor seu canal de vendas (o site oficial) e "trabalhar com linhas específicas para um novo segmento de clientes".
Marmita congelada - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A nutricionista Fernanda Cassullo diz vender até 8.000 marmitas congeladas por mês e que não pensa em abrir uma loja física
Imagem: Arquivo pessoal

A dica que dou [para quem está começando] é: deixe o medo de lado. Começa dentro de casa, faz uma marmita, testa, tira uma foto legal. Quando começar a divulgar, é isso que vai chamar a atenção. Por último, tenha um cardápio enxuto. Pratos gostosos, mas sem uma gama grande de produtos. Aí você consegue fazer em casa, ter um estoque.
Fernanda Cassullo