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REPORTAGEM

Caos aéreo na Europa: Como isso afeta sua viagem de avião e o que fazer

Passageiros em fila em aeroporto; caos aéreo na Europa cancela voos e faz tempo de espera aumentar - iStockphotos
Passageiros em fila em aeroporto; caos aéreo na Europa cancela voos e faz tempo de espera aumentar Imagem: iStockphotos

Alexandre Saconi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

27/06/2022 04h00Atualizada em 28/06/2022 11h23

A Europa está passando por um intenso problema em seus voos devido à falta de funcionários e greves neste verão no continente. Com isso, voos vêm sendo cancelados e, em um dos momentos mais críticos, milhares de malas ficaram impossibilitadas de voltar para seus donos no aeroporto de Heathrow (Londres) justamente por falhas envolvendo os sistemas de devolução e a própria falta de funcionários.

Milhares de passageiros enfrentaram transtornos para decolar nas últimas semanas, e o cenário não demonstra que será resolvido em breve, com novas paralisações programadas e limitação na quantidade de pessoas que podem embarcar em algumas regiões.

Dos 491 voos internacionais planejados para serem operados a partir do aeroporto de Guarulhos nesta semana, cerca de cem ligam o Brasil à Europa.

Os principais destinos a partir do Brasil, como Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e Portugal, devem continuar a enfrentar greves, de pilotos e comissários, equipes em solo ou funcionários da imigração.

Viajantes que partem do Brasil podem ser afetados com eventuais cancelamentos de voos ou outros transtornos, como longas filas na imigração ou no check-in para o retorno.

O que fazer se seu voo for afetado?

Os brasileiros que tiverem seus voos partindo do Brasil afetados podem recorrer diretamente às empresas para buscar uma solução, segundo a resolução 400 da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).

O passageiro que se sentir prejudicado por um cancelamento tem direito de escolher entre reacomodação em outro voo, reembolso do valor pago ou ter o trajeto realizado por outro meio de transporte (quando aplicável).

Também é importante acompanhar na empresa aérea se o voo permanece agendado ou se ele tem alguma alteração em sua programação.

Caso haja atrasos superiores a uma hora, as empresas devem oferecer assistência material aos passageiros, como acesso a meios de comunicação, alimentação ou hospedagem para pernoite em situações onde a demora seja superior a quatro horas e o passageiro esteja longe de sua residência.

Nos países da União Europeia, as condições de acolhimento nessas situações são similares às normas brasileiras. As empresas também devem oferecer assistência material aos viajantes em caso de atrasos ou cancelamentos, além do direito a reacomodação em outro voo caso não possa ser realizado o embarque conforme o planejado.

Brasil pode sofrer um apagão na alta temporada?

Embora passageiros possam ser afetados nas próximas semanas pelos problemas enfrentados na Europa, o Brasil não deve reproduzir o caos aéreo enfrentado naquele continente durante o verão por aqui.

Internamente, apesar da retomada no setor, o país ainda não atingiu seus índices de transporte aéreo pré-pandemia. Por isso, deve ser pouco provável que, nos próximos meses o país enfrente uma situação como a que vem sendo observada hoje no continente europeu.

Segundo Henrique Hacklaender Wagner, presidente do SNA (Sindicato Nacional dos Aeronautas), o Brasil está longe disso.

"Para a alta temporada no país, acho pouco provável que a gente passe pelo mesmo que a Europa, pois as empresas ainda têm margem para crescerem as suas operações. Ainda há muitos tripulantes no mercado atualmente, alguns até com as qualificações necessárias para começarem a voar quase imediatamente", diz o piloto.

Muitos profissionais também estão sem trabalhar ainda após o fim das atividades da Itapemirim Transportes Aéreos e da Avianca Brasil.
Henrique Hacklaender Wagner

Rodrigo Maciel, presidente do Sindigru (Sindicato dos Aeroviários de Guarulhos) diz que, além do problema da falta de funcionários na Europa, ainda é preciso ficar atento com a mudança em acordos bilaterais para entrada nos países europeus. Isso pode aumentar a demora para a saída do Brasil, onde as empresas devem levar mais tempo para verificar se os passageiros estão qualificados para entrar no continente após o pouso nos países de destino.

Entenda o caos aéreo na Europa

Na quinta-feira (23), funcionários da British Airways no aeroporto de Heathrow (Londres) votaram por iniciar uma greve nos próximos dias em busca de reajuste salarial. A greve pode ocorrer junto com outra, do setor de transporte por trens, considerada a maior do país em 30 anos.

A empresa opera voos partindo do Brasil, o que pode causar um tempo maior de espera para entrar no país europeu ou, até mesmo, cancelamento de voos.

Na Espanha, funcionários de empresas aéreas cogitam a greve na alta temporada do continente, também podendo dificultar a circulação nos aeroportos de Barcelona e Madrid.

Segundo informações da agência de notícias Reuters, funcionários do aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, devem realizar uma nova paralisação em 2 de julho. Os trabalhadores já tinham parado em 9 de junho, levando ao cancelamento de 25% dos voos no local.

A categoria reivindica um aumento salarial de 300 euros (R$ 1.652) ao mês.

Pilotos da Air France também cogitam uma paralisação nos próximos dias devido à estafa do acúmulo de horas em decorrência da alta da carga de trabalho.

O aeroporto de Amsterdã-Schipol (Holanda) também teve de reduzir sua capacidade de atendimento ao público devido ao baixo número de funcionários. O local, que recebe voos partindo do Brasil pela KLM, chegou a registrar filas de até seis horas nos últimos dias no check-in.

Em Portugal, o governo passou a disponibilizar mais funcionários nos aeroportos, principalmente o de Lisboa, para agilizar a entrada de estrangeiros.

Questionada pela reportagem, a Air France disse que não espera impactos em sua programação de voos, e que possui equipes suficientes treinadas para a retomada do tráfego aéreo.

Diante da alta temporada, a empresa afirmou ter contratado 300 pilotos, 200 agentes aeroportuários e 200 mecânicos e técnicos para conseguir atender à demanda. A empresa declarou esperar melhora da situação.

Em nota, a KLM disse que terá de obedecer à restrição imposta pelo aeroporto de Amsterdã-Schiphol de embarcar uma quantidade limitada de passageiros, número que pode variar a cada dia. Com isso, restringiu a venda de bilhetes e cancelará alguns voos para se adequar às normas do local.

A empresa afirmou que quem já está com a reserva feita, inclusive de voos partindo do Brasil, receberá alternativas se houver cancelamentos.

A KLM criticou a medida imposta pelo aeroporto da Holanda, dizendo que ser "ser forçada a limitar o número de viajantes em Schiphol não pode ser uma solução estrutural".

Na Alemanha, a Lufthansa negocia as condições de trabalho e remuneração com seus funcionários de solo para garantir a continuidade do serviço sem interrupções ou problemas. O grupo declara que enfrenta desafios intensos, como dívidas elevadas, alta do preço do combustível, Guerra na Ucrânia entre outros dilemas no cenário econômico alemão.

Procurada, a British Airways não respondeu até a publicação desta reportagem.

Demissões sem recontratações

Um dos principais problemas das companhias aéreas na Europa relacionados à mão de obra é o baixo índice de recontratação dos demitidos durante a pandemia.

Algumas empresas não previram o crescimento acelerado devido ao verão no continente e não conseguiram equipes a tempo.

Em outras situações, vem sendo oferecido aos demitidos a recontratação por salários menores, o que não tem tornado o retorno às atividades aéreas tão atraente em alguns locais.

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Errata: este conteúdo foi atualizado
A versão inicial deste texto informava que a British Airways operava voos a partir do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, quando na verdade ela também faz voos do Galeão, no Rio de Janeiro.