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Ex-sem-terra gaúchos produzem arroz orgânico para merenda em SP

Lucas Azevedo

Do UOL, em Porto Alegre

22/01/2014 06h00

Pequenos agricultores de 16 assentamentos gaúchos estão fornecendo arroz orgânico, produzido sem o uso de agrotóxicos, a alunos da rede pública de ensino da cidade de São Paulo.

O alimento, produzido por cerca de 1.400 famílias de ex-sem-terra, começou a ser enviado no fim de 2013, após a Coopat (Cooperativa de Produção Agropecuária dos Assentados de Tapes) ter sido escolhida em chamada pública da prefeitura paulistana.

Por ser um produto orgânico e proveniente da agricultura familiar, a cooperativa levou vantagem em relação aos concorrentes. Até abril, vai enviar a 265 mil alunos de São Paulo 930 toneladas de arroz orgânico Terra Livre, pelo equivalente a R$ 2,58 o quilo.

No mercado de Porto Alegre, o quilo do arroz orgânico pode ser comprado por até R$ 5, enquanto o arroz branco comum é vendido por até R$ 2 o quilo.

O arroz orgânico começou a ser produzido pelos assentados gaúchos em 1999, inspirados nas hortas orgânicas que já existiam nos assentamentos. Quinze anos depois, a Coopat é uma das principais produtoras desse tipo de arroz no Brasil.

"Temos contratos assinados com prefeituras e instituições públicas, como creches e presídios", diz o coordenador Nelson Krupinski. O assentamento que mais produz o grão é o Filhos de Sepé, em Viamão, que deve colher 90 mil sacas (de 50 kg) nesta safra.

Krupinski diz que o controle de pragas e plantas invasoras se dá pelo manejo da lâmina d´água onde cresce o arroz, combatidas pelo afogamento ou retirada total da água por períodos curtos no início do plantio.

"Só usamos adubos orgânicos, como compostos de esterco animal e biofertilizantes. Quando a planta é sadia, dificilmente é atacada por pragas”, afirma o coordenador..

Cooperativa produz sementes e conta com assistência técnica

Ao todo, a cooperativa conta com 5.000 hectares de arroz orgânico, nos quais devem ser colhidos 440 mil sacas de 50 kg este ano.

"Além de outros tipos de arroz, como o integral e o parboilizado [processo para absorção de vitaminas e minerais], também produzimos 60% de nossas sementes, que os agricultores beneficiam e classificam", diz Krupinski.

A semente começou a ser produzida nos assentamentos a partir de material cedido pelo Irga (Instituto Rio Grandense do Arroz), que dá apoio técnico à produção e, após a colheita, também à limpeza e ao armazenamento da semente.

Já a plantação do arroz para consumo é acompanhada pela IMO Control do Brasil, organização ligada a um grupo suíço que controla todo o processo por auditoria e certifica que o produto é obtido sem uso de defensivos agrícolas ou adubos químicos.

Grão orgânico é superior ao comum, diz nutricionista

De acordo com Regina Munch, nutricionista coordenadora do setor de nutrição do Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre, o arroz orgânico apresenta vantagens em relação ao grão convencional.

Afirma que ele é superior, pois não recebe produtos químicos, que poderiam deixar resíduos e, assim, afetar a saúde do consumidor. Segundo ela, o arroz comum branco é muito processado, perdendo valor nutricional. "Sobra basicamente carboidrato", diz.

A desvantagem do orgânico, afirma, é o preço geralmente mais elevado. Mas é preciso verificar se a instituição que certifica o alimento como orgânico é reconhecida, garantindo que seja produzido realmente sem o uso de agrotóxicos.