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Reinaldo Polito

Dilma deveria ler os discursos

François Lenoir/Reuters
Imagem: François Lenoir/Reuters

26/02/2014 14h36Atualizada em 26/02/2014 15h33

Certa vez comentei aqui nesta coluna que o Lula deveria falar de improviso. Todos nós sabemos que foi com os discursos improvisados que Lula conseguiu seduzir seu eleitorado. Na hora de ler, entretanto, a qualidade de suas apresentações não era a mesma. Por isso, deveria dar preferência ao improviso.

Dilma, ao contrário, aprendeu a ler bem os discursos. Na disputa presidencial, quando comparei a comunicação dela com a de Serra, comentei que nas gravações dos programas eleitorais gratuitos muitas vezes conseguiu se sair melhor que Serra. Nas falas de improviso, entretanto, saía derrotada.

Nos discursos que fez em sua visita esta semana a Bruxelas ficou evidente que deveria abandonar de vez a improvisação. Não sei se por nervosismo ou falta de preparo, seus discursos são lamentáveis. Ela se referiu à União Europeia como se fosse um país. Disse que a Zona Franca de Manaus era a capital da Amazônia. E que é a Zona Franca que impede o desmatamento.

Falando de improviso, tanto nos discursos quanto nas entrevistas coletivas, mostrou falta de concatenação lógica do raciocínio. Misturou informações. Fez citações desconexas. Ou seja, mostrou despreparo para usar essa técnica de apresentação, que deve ser destinada apenas a quem possui muita experiência e profundidade de conteúdo.

Nada obriga a presidente falar de improviso. Se observarmos os principais líderes mundiais, dificilmente encontramos um que se arrisque a falar de improviso, especialmente em eventos relevantes. Obama, Clinton, Angela Merkel e tantos outros quase sempre se valem do teleprompter para passar a mensagem.

As apresentações da presidente são também um cartão de visitas do Brasil. Quanto melhor ela se sair em seus discursos mais bem representados estaremos. Por isso, faz parte de suas funções se comunicar de forma competente. E a técnica que mais domina é a leitura, não o improviso.

Quanto às entrevistas, uma boa conversa com seus assessores seria suficiente para saber quais as principais questões a serem formuladas. Alguns minutos de ensaio seriam suficientes para ter boas respostas às perguntas que os jornalistas iriam formular. Não dá para ficar jogando palavras e construindo frases sem sentido.

Afinal, quando ela fala, o mundo ouve a voz de todos os brasileiros.

 

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema “Como falar de improviso e outras técnicas de apresentação” e “Como falar corretamente e sem inibições”, publicados pela Editora Saraiva.

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