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Reinaldo Polito

As palavras e a atitude de Aécio no retorno ao Senado

Geraldo Magela/ Agência Senado
Imagem: Geraldo Magela/ Agência Senado

05/11/2014 18h48

Você já deve ter visto oradores fazendo um discurso com as palavras e outro com a atitude. Quantos perdem a credibilidade por se apresentarem com palavras duras, ríspidas, contundentes, mas ao mesmo tempo incoerentes com o semblante leve, sorridente e até debochado.

Como disse Quintiliano nas Instituições oratórias: “Posso eu porventura esperar que o juiz se condoa de um mal, que eu conto sem dor alguma? Indignar-se-á vendo que eu mesmo, que o estou excitando a isso, sou o que menos me indigno? Fará parte das suas lágrimas a um advogado, que está orando com os olhos enxutos?”.

Tivemos nessa quarta-feira um bom exemplo de coerência. O candidato derrotado Aécio Neves falou pela primeira vez na tribuna do Senado após as eleições e fez um bom discurso. O senador mineiro que chegou a receber algumas críticas por causa do sorriso irônico e ar de deboche durante os debates com Dilma Rousseff fez um discurso coerente.

Aécio falou de maneira firme e até ríspida nas críticas que fez ao governo. Entretanto, se ele foi duro com as palavras, também foi severo com as atitudes. A forma como fez as pausas, olhou para a plateia, alternou o volume da voz e a velocidade da fala conferiu sinceridade ao seu discurso.

Em nenhum momento, Aécio pareceu interpretar a mensagem que transmitia. Não bastariam apenas as palavras, era necessário também que falasse com indignação. Ao falar em corrupção, por exemplo, não poderia trazer o tema sem demonstrar efetivamente a preocupação com esse problema.

Ao relembrar os pontos relevantes que defendeu durante a campanha e afirmar que na oposição perseguiria cada um deles para o bem do povo brasileiro, sua atitude esteve em sintonia com o discurso que proferiu.

Demonstrou com a emoção devida que, embora derrotado, saiu das urnas com o aval para fazer oposição em nome de mais de 50 milhões de eleitores.

Teve comportamento admirável também ao ser aparteado pelos políticos que dão sustentação ao governo, especialmente Humberto Costa, líder do governo no Senado, e Eduardo Suplicy.

Foi gentil no tratamento com os adversários, mas firme na sua posição. Essa atitude elegante e equilibrada, esquecida em certos momentos nos embates da campanha, será importante para que sua atuação na liderança da oposição conquiste a credibilidade necessária.

Por mais que se analisem os motivos que levam um candidato à vitória ou à derrota em uma campanha tão acirrada como essa que acabamos de vivenciar, dificilmente encontraremos as verdadeiras causas.  Julgo, todavia, que, se Aécio tivesse se comportado com essa mesma coerência com a qual retornou à tribuna do Senado, talvez o resultado das urnas pudesse ser diferente. Vamos acompanhar. Outros discursos virão.