Bicicletarias têm balada, café gourmet e chuveiro para atrair ciclistas
Atentas ao público das novas ciclovias de São Paulo, algumas bicicletarias da cidade vão além do serviço de oficina e venda de peças para atrair ciclistas. Chuveiro, café gourmet, bar, balada e funcionamento em horários alternativos são algumas inovações postas em prática na tentativa de mimar quem pedala.
Os sócios Talita Nogushi e Rodolfo Chacon escolheram o bairro boêmio da Vila Madalena para abrir o misto de bicicletaria e bar Las Magrelas. A proposta, além de consertar bikes e vender acessórios, é criar um ambiente de convivência de ciclistas. Por isso, promove eventos e festas, e atende em horário alternativo, de terça a sábado do meio-dia às 22h.
O investimento inicial foi de R$ 90 mil. Os preços do serviço de montagem e manutenção de bicicletas variam de R$ 60 a R$ 120. Chacon estima que por mês a loja receba cerca de 300 clientes, mas a renda maior vem do bar. Em 2013, a empresa faturou R$ 250 mil. O lucro não foi revelado. Hoje, conta com um funcionário fixo e outros seis colaboradores.
Para Chacon, ter um diferencial no ramo é necessário porque, mesmo que o público ciclista tenda a crescer, o hábito de andar de bike ainda é nascente. “Quem não anda de bicicleta não vai andar do dia para o outro. O que eu vejo é que quem tinha bicicletas ‘encostadas’ em casa agora quer colocá-las na rua", diz.
Até que os 180 km de ciclovia da cidade se transformem nos 400 km prometidos pela Prefeitura de São Paulo e criem um mercado significativo, leva tempo, segundo ele. "É o início de uma mudança de hábito. Impacto financeiro eu acredito que a gente perceba daqui a um ano”, diz.
Bicicletaria com café gourmet
O conceito inusitado também é a aposta de Fabio Perillo Samori, 40, dono do bike café Aro 27. Após morar no Reino Unido, onde a bicicleta era seu principal meio de transporte, ele voltou para São Paulo e abriu o negócio que é um misto de bicicletaria e café gourmet. O investimento foi de R$ 350 mil (estoque, equipamento, reforma do imóvel e funcionários), com a ajuda de um investidor-anjo.
O diferencial do Aro 27 é o parking shower (estacionamento com chuveiro). Você pode estacionar sua bike e tomar banho lá. Hoje a chuveirada com é cobrada à parte (cerca de R$ 10). Conforme o uso, o cliente vai marcando pontos que podem ser trocados por serviços como manutenção, ajustes e regulagem. A loja está a cerca de 400 metros da ciclovia que termina perto do Largo da Batata, em Pinheiros.
“Eu achava que o parking shower teria mais procura. Mas esse não é um negócio que vai se movimentar sozinho, então tenho que agregar outros serviços”, diz Samori, que conta com seis funcionários fixos e tem um faturamento de até R$ 50 mil por mês. O lucro não foi informado.
Ele diz ter notado uma mudança de comportamento no público que frequenta sua loja. “As pessoas perceberam que a bike é viável na vida delas. Ouço dos clientes que eles agora vão usar mais a bike porque vai ter ciclovia perto de casa. Isso impacta em vendas e manutenção”, diz.
Alta de público não é garantia de sucesso, diz consultor
Marcelo Sinelli, consultor do Sebrae-SP, avalia que é preciso olhar o mercado com cautela, já que a bicicleta não é um transporte de massa. Além disso, segundo ele, há bicicletas grátis disponíveis pela cidade, o que não gera movimento nas bicicletarias.
Mas o nicho pode ser, sim, lucrativo, diz ele, já que faz parte de uma tendência relacionada aos temas sustentabilidade e mobilidade urbana. Hoje, cerca de 300 mil bicicletas circulam diariamente pela cidade, segundo a Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares).
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