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Ex-dono de bar transforma garrafa em copo, vaso, abajur e jogo de xadrez

Márcia Rodrigues

Colaboração para o UOL, em São Paulo

30/11/2016 06h00

Cansado de comprar copos para o seu estabelecimento, o Oca Bar e Restaurante, em Bonito (MS), o arquiteto Carlos Cardinal resolveu começar a reutilizar as garrafas que seriam descartadas e transformá-las em copos. Segundo ele, o prejuízo mensal chegava a um salário mínimo na época (R$ 622, em 2012).

As primeiras criações foram com as garrafas long neck. Com o sucesso das peças, Cardinal vendeu o bar, fundou a Casa do Vidro, em 2014, e começou a produzir, também, luminárias, petisqueiras, vasos, peças de jogo de xadrez, jogo de xícaras, entre outros.

Para garantir a matéria-prima, ele fez parceria com bares, restaurantes, hotéis, pousadas e comércios da cidade, que passaram a entregar de graça garrafas, potes e outras embalagens de vidro num ecoponto criado na empresa. Todo o material é lavado com água e sabão antes de seguir para a produção.

Por mês, são recolhidas 20 toneladas de vidro, o que corresponde a 50% do total do resíduo descartado na cidade. "A lei de resíduos sólidos determina que os estabelecimentos deem um destino sustentável às garrafas e embalagens de vidro. Para eles, o negócio também é vantajoso."

Empresa foi repassada para ONG após críticas

No primeiro ano de operação, a empresa faturou R$ 36 mil. Em 2015, o resultado dobrou e chegou a R$ 72 mil. O lucro não foi revelado.

A empresa passou a ser criticada pelos comerciantes parceiros por receber matéria-prima grátis e lucrar com isso. Para reduzir essas críticas, uma ONG com apelo ambiental, criada em junho deste ano, assumiu o negócio em julho.

Cardinal saiu formalmente do comando da empresa em julho, e essa ONG, a Associação Amigos do Rio Formoso, assumiu o negócio, arrendando as máquinas e a fábrica. Oficialmente, a ONG opera a empresa Casa do Vidro.

"Eu percebi que os comerciantes não davam valor ao trabalho por ser feito por uma empresa. Eles questionavam os preços e diziam que recebíamos o material de graça e, por isso, os produtos tinham de ser mais baratos, o que é inviável porque trabalhamos com design", diz Cardinal.

Fundador agora ganha como "consultor"

Ele afirma que, com a associação, os empresários voltaram a colaborar mais com a iniciativa. Cardinal continua ganhando com a atividade, só que agora atua formalmente como "consultor" da associação e ganha comissão sobre as vendas.

"É o nosso projeto-piloto e eu cobro comissão e arrendamento porque estão usando toda a estrutura que montei para criar a fábrica."

Cardinal diz que pretende oferecer o modelo para outras ONGs e prefeituras. Segundo ele, das demais ONGs, só será cobrada a consultoria. O custo do serviço e o percentual sobre as vendas da associação não foram revelados. O contrato de arrendamento vale por três anos e pode ser prorrogado.

A ONG diz que, desde que assumiu o comando da empresa, vem faturando, em média, R$ 8.000 por mês. O presidente da entidade, o engenheiro agrônomo Alexandre Augusto Ferreira Ferro, 44, diz que ainda não há lucro. "Todo o dinheiro que entrar na empresa será revertido para nossos projetos."

Peças custam de R$ 15 a R$ 500

Ao todo, são produzidas 1.000 peças por mês. Os produtos mais baratos são os copos feitos com garrafas long neck (R$ 15 a unidade). O mais caro é um lustre feito com potes de palmito (R$ 500). A produção é feita por cinco funcionários registrados.

Ferro afirma que a ONG vai começar, também, a tocar projetos paralelos. "Uma empresa nos procurou para comprar vidro moído para a fabricação de revestimento de paredes. Devemos iniciar esse processo no ano que vem. Também vamos começar um trabalho com lixo orgânico."

Outro projeto administrado pela ONG é a capacitação de jovens. "Em Bonito, não há ensino superior e, com isso, o jovem fica sem perspectiva profissional. Por isso revertemos os lucros com a venda das peças para adquirir mais equipamentos para profissionalizar jovens e gerar empregos."

Projeto soluciona problema ambiental

Para Dorli Terezinha Martins, consultora do Sebrae-SP (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo),  o projeto supre uma necessidade dos estabelecimentos comerciais, que é dar um destino adequado aos resíduos sólidos.

"A empresa está ajudando os estabelecimentos a descartarem esses resíduos sem ônus, além de poupar recursos naturais como a areia, que é a matéria-prima do vidro."

Segundo ela, os empresários deveriam aprovar a iniciativa e não questionar se o projeto gera lucro ou não. "O que poderia se discutir no futuro é pagar os fornecedores se eles entregarem as garrafas sem rótulos e higienizadas, por exemplo."

Depois de ter muito bem definido o seu público-alvo, Martins afirma que é preciso criar um plano de ação para serem apresentados sempre novos produtos. "O consumidor gosta de novidade. Com o tempo, as peças que são atração hoje podem não ser mais atrativas."

Onde encontrar:

Casa do Vidro: https://www.facebook.com/FabricadoVidro/?fref=ts