Casal volta do Japão e fatura R$ 1,7 milhão por ano com pipoca colorida
Toshio Hito, 51, desistiu da carreira de publicitário, trabalhou dez anos no Japão e, na volta ao Brasil, passou a vender pipoca, em Marília, interior de São Paulo. O carrinho de rua se transformou na Pop's Fantasy, empresa que faturou R$ 1,7 milhão em 2022.
De publicitário frustrado a dekassegui
Hito teve uma infância pobre, em Marília (SP). Da classe D, a família vivia com uma situação econômica difícil. Seu pai, Jorge, era mecânico, e sua mãe, Yoko, dona de casa. Seu sonho era ser publicitário, mas não conseguiu passar no vestibular.
Em 1990, Hito começou a trabalhar em uma pequena agência de publicidade em Marília. Atuava como desenhista e arte finalista. Teve uma formação autodidata. Em menos de dois anos, assumiu a posição de diretor de arte e criação. Ele ficou na agência até 1997, mas estava infeliz. "Ganhava pouco e sentia que, embora me esforçasse tanto, o sonho alimentado desde a infância de fazer campanhas marcantes em grandes agências não iria se realizar", afirma.
Decidiu mudar radicalmente seu modo de vida. Em meados de 1997, foi para o Japão ser um dekassegui. Lá ficou por quase dez anos.
Trabalho pesado no Japão
Trabalhou em fábricas de componentes eletrônicos, na limpeza de peixes e na coleta de reciclados, entre outros serviços pesados. Em três anos, conseguiu juntar dinheiro para construir uma nova casa para os pais, de alvenaria.
Em 2001, Hito conheceu sua atual esposa, Suzana. Na época, os dois trabalhavam em fábricas diferentes na cidade de Fukuchiyama, província de Kyoto.
No final de 2006, o casal veio para o Brasil. O plano era casar aqui e voltar para o Japão. Mas, devido a um problema de saúde da mãe de Suzana, eles decidiram ficar definitivamente no país e para se manter aqui, o casal investiu no negócio de pipoca.
Vender pipoca foi uma necessidade para gerar renda para nos manter no Brasil, com um investimento de baixo valor. Também percebemos a oportunidade que havia nesse segmento de snacks, com um produto popular, mas que carecia totalmente de inovação nas opções de sabores, aromas, embalagens e experiências aos consumidores.
Toshio Hito, dono da Pop's Fantasy
Como nasceu a empresa de pipoca
Em junho de 2007, com um alvará de ambulante, Hito colocou um carrinho de pipoca pelas ruas de Marília. O casal investiu R$ 5.000 no negócio. Surgia ali a Pop´s Fantasy.
As pipocas salgadas com queijo crocante eram vendidas em caixinhas de papelão, e as doces coloridas, embaladas em saquinhos transparentes. Esses saquinhos eram fechados com cordões dourados e traziam cartões ilustrados com a história das mascotes (Pikotchan e Pintchan) da marca. "A ideia é que o saco de pipoca parecesse um presente", diz Hito.
Hito tinha o hábito de anotar em uma caderneta informações sobre os clientes. Ele anotava nome, preferências de pipoca e até o nome do pet. "A intenção era criar laços com a nossa clientela", declara.
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Quero receberOutro diferencial era o foco na higiene. Há 16 anos (muito antes da pandemia), Hito já disponibilizava no carrinho de pipoca spray de álcool 70 para a clientela.
Ele quase faliu ao abrir ponto fixo
A empresa quase quebrou em 2008. Em dezembro de 2007, Hito abriu também uma loja física de doces e chás, com o carrinho de pipoca na porta do local. Mas, segundo ele, um ponto errado (em uma rua com muito movimento de carros, mas poucos pedestres) fez com que o negócio quase "quebrasse" em cinco meses, com uma dívida inicial de R$ 70 mil.
Incubadora de empresas de Marília ajudou a alavancar as vendas. Além de consultoria, Hito também usava o espaço físico da incubadora para produzir as pipocas e guardar os carrinhos e os utensílios. "A partir dali recomeçamos. A parceria durou mais de três anos", diz.
Começou a participar de eventos (rodeios, shows, aniversários, etc.) e a comercializar pipoca em pontos de venda na região. "Com essa soma de esforços ao longo dos anos, a dívida foi sendo sanada. A gente também testava novos canais de vendas para alavancar o negócio", afirma.
Em 2012, a empresa lançou pipocas caramelizadas e coloridas em copos. Quatro anos depois, agregou sabores inusitados, como chocolate belga, napolitano (sabores de chocolate, baunilha e morango) e aromas de frutas aos produtos, além do algodão-doce colorido e saborizado.
Mudou a embalagem para manter a pipoca fresquinha
A transição das embalagens aconteceu em 2012. Até então, a pipoca era vendida em saquinhos, que não mantinham o frescor do produto por muito tempo. A solução era ter uma embalagem que aumentasse o prazo de validade e que o deixasse à mostra por conta do apelo visual. A solução foi embalar as pipocas em potes de plástico transparente com selo de alumínio. No começo, a selagem era feita com ferro de passar roupa, um processo demorado, mas atendia a necessidade. Com o tempo, o processo passou a ser feito por uma seladora manual.
A validade do produto, que antes era de um mês, aumentou em mais de dez meses.
Era uma solução caseira, mas que trouxe boa vedação e aumentou o tempo de vida dos produtos. Depois, houve também um aprimoramento feito na fórmula da pipoca para melhorar sua crocância e aroma, que é segredo industrial.
Toshio Hito, dono da Pop's Fantasy
Pipocas coloridas e algodão-doce sabor banana
A fábrica da Pop's Fantasy fica em Marília. Os principais produtos da empresa são as pipocas com várias cores, o algodão-doce azul e rosa (sabor tutti frutti) e o algodão-doce amarelo (sabor banana), as campeãs de venda, entre outros sabores. Vende no atacado e no varejo (via e-commerce). O preço dos produtos para o consumidor final varia de R$ 9,90 a R$ 12,90.
Em 2022, a empresa faturou R$ 1,7 milhão; o lucro não foi revelado.
A empresa tem nove funcionários, entre eles, quatro imigrantes venezuelanos.
De certa forma, conseguimos retribuir o acolhimento e as oportunidades que as empresas japonesas nos proporcionaram. Os venezuelanos buscam aqui aquilo que os dekasseguis brasileiros e nós mesmos buscamos no Japão, quando precisamos.
Toshio Hito, dono da Pop's Fantasy
Mais informações:
Site: www.pipocapops.com.br
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