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Comprar ou vender ações da Eletrobras? Analistas respondem o que fazer

Raphael Coraccini

Colaboração para o UOL, em São Paulo

23/06/2021 04h00

A MP (Medida Provisório) que abre caminho para a privatização da Eletrobras foi aprovada em segunda votação na Câmara dos Deputados na última segunda-feira (21). O texto segue para sanção presidencial, e ainda pode sofrer vetos por parte do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

As alterações feitas no texto para garantir a aprovação no Congresso deixaram o cenário nebuloso, segundo analistas ouvidos pelo UOL Economia+. Eles divergem sobre o comportamento dos papéis da empresa (ELET3), que abriram a sessão da Bolsa no dia seguinte à aprovação da MP em queda de quase 3%.

Confira abaixo o que muda na empresa com a aprovação da MP que libera a privatização da Eletrobras, e se vale a pena investir na companhia.

O que muda com a MP?

Rodrigo Wainberg, analista de investimentos da Suno Research, avalia que ainda é um bom negócio investir na Eletrobras e classifica como positivo o texto da MP que chega às mãos do presidente.

O ponto mais animador, segundo ele, é a limitação de 10% dos votos —ou seja, nenhum grupo de acionistas vai deter mais do que 10% do capital votante da empresa. "Isso previne que a União ou outro acionista interfira de maneira acentuada no controle da companhia", diz.

Outro ponto positivo, segundo o analista, é um aumento do potencial de investimento numa média de R$ 13 bilhões por ano até 2035, que pode trazer retornos interessantes aos acionistas.

Em um cenário sem a aprovação da MP, segundo Wainberg, esse valor cairia a menos da metade.

Parte desse investimento deverá ser feito, segundo a MP, para baratear energia na região Norte, o que pode corroer o potencial de valorização das ações devido ao baixo retorno, diz Wainberg.

A Eletrobras fica obrigada a vender o megawatt/hora às concessionárias da bacia do Rio São Francisco por R$ 80, enquanto a concorrente Chesf fechou o primeiro trimestre deste ano vendendo a R$ 162.

Em nota técnica, o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) contesta esse aumento de investimentos ao dizer que a base de comparação usada são os aportes realizados pela estatal nos últimos anos, que estavam historicamente abaixo da média. O investimento em comparação com a receita líquida caiu de 47% em 2013 para 11% em 2020.

Impacto da MP nas ações e nos dividendos

Wainberg afirma que há uma queda na perspectiva de pagamento de dividendos da empresa com relação ao que se esperava no começo do ano, que estava próximo dos 16%. Mas a expectativa é de que a empresa siga pagando acima dos dois dígitos, como no ano passado, quando distribuiu 11,8% em proventos para seus investidores.

Com relação às ações, Júlio Hegedus, analista da Ohmresearch, afirma que os jabutis podem resultar na interrupção da escalada de preços. Isso acontece, segundo o analista, pelo fato de o "Congresso ter capturado decisões que são eminentemente técnicas".

Uma delas é o estabelecimento de um percentual de energia que deve ser gerada por pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), parte delas ainda a ser construída, o que pode elevar os custos.

Mas o ponto mais problemático, segundo Hegedus, é a exigência de contratação de energia de termelétricas movidas a gás natural.

"Há casos de termelétricas estarem em região onde não existe infraestrutura ou oferta de gás. O custo deve se elevar para a empresa privatizada. Pode não ser um bom negócio, o que dificultará a venda das ações", explica.

Por esses motivos, o analista não recomenda a compra do papel agora.

Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos, avalia que os trechos da MP que tiram rentabilidade da empresa devem desacelerar o aumento do preço das ações com relação aos cerca de 40% registrados desde o começo do ano. Porém, ele vê um cenário positivo pela frente, projeta um preço-alvo de R$ 75 para as ações da companhia, e recomenda o papel.

"No modelo como foi construído o texto da MP, acho que pode destravar ainda uns 20% a 30% de valor para a empresa. Mas tudo depende também do custo da energia", afirma Esteter.

Conta de luz

No que diz respeito à conta de luz, a perspectiva é boa para os acionistas, porque aumenta a receita da empresa, mas ruim para os consumidores. Segundo a Associação dos Engenheiros e Técnicos do Sistema Eletrobras (Aesel), a privatização deve elevar em 67% o custo do megawatt/hora gerado pelas hidrelétricas da Eletrobras.

"Considerando-se a participação dessa energia no portfólio das distribuidoras, esse aumento provocaria, em média, um impacto de 14% na conta de energia dos consumidores residenciais", afirma a associação.

A Associação de Grandes Consumidores de Energia Elétrica (Abrace) calcula ainda um aumento de 20% para os consumidores do setor produtivo que compram energia no mercado livre.

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