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Reinaldo Polito

TV Tupi: da reunião de vizinhos para ver novela ao futebol pré-mesa redonda

Repridução
Imagem: Repridução

18/07/2017 04h00

A TV Tupi foi a primeira emissora de televisão a existir no Brasil e na América do Sul, e a quarta no mundo. A emissora foi fundada em 18 de setembro de 1950, por Assis Chateaubriand. A partir de 1951, a TV Tupi de São Paulo passou a produzir a programação com a TV Tupi do Rio de Janeiro. No dia 18 de julho de 1980, a TV Tupi do Rio foi a última emissora da rede a encerrar suas atividades.

Com insolúveis problemas administrativos e sem condições de resolver as graves questões financeiras, a rede Tupi foi cassada pelo governo. No dia 18 de julho, quatro funcionários do Dentel (Departamento Nacional de Telecomunicações) lacraram os transmissores da emissora. Terminava, assim, um pioneirismo bem-sucedido que ficará para sempre na história da televisão brasileira e mundial.

Reunião na hora da novela

A TV Tupi está intimamente ligada à comunicação e à minha vida. Lá pelos anos 1960, eu morava em Araraquara, no interior de São Paulo. Nessa época, só era possível sintonizar a TV Tupi. Portanto, além do rádio, só contávamos com o que era transmitido por essa emissora de televisão. Pelo menos no bairro onde eu morava, quase ninguém lia jornais ou revistas. Aparelhos de TV também eram raríssimos. Pouquíssimas famílias podiam contar com esse privilégio. 

A cena era comum. Na hora da novela, esses que possuíam aparelhos de TV recebiam a visita de amigos e vizinhos para assistirem aos capítulos transmitidos em preto e branco.

Uma dessas novelas marcou época: "O Direito de Nascer". A história tinha como protagonistas Guy Loup, que vivia o papel de Isabel Cristina, e Hamilton Fernandes, que interpretava Albertinho Limonta.

Hoje, como se chega ao exagero de cada pessoa ter até um aparelho de TV só para si, talvez seja difícil entender o que acontecia.

Era um alvoroço. Alguns minutos antes de começar a novela, a turma chegava carregando a própria cadeira. Para a maioria, era o maior momento de lazer. Assim que terminava o episódio, todos retornavam para casa.

Há um fato curioso. Vinte e tantos anos depois do final da novela, vivi um momento de grande emoção. Para minha surpresa, recebi como aluna no meu Curso de Expressão Verbal aquela atriz que havia sido meu ídolo na infância: Guy Loup. Ela se dedicou com tanto empenho que foi eleita pelos colegas a melhor aluna da turma.

Aula de comunicação no jogo de futebol

Eram marcantes também as transmissões esportivas. Os jogos de futebol eram narrados por Walter Abraão, com reportagens de campo de Ely Coimbra. Não perdíamos um jogo. Eu, Marco Antonio Rodrigues, que hoje atua como comentarista esportivo em vários programas da Globo, e o dono da casa, Luiz Alberto Cabbaú.

A televisão nos trouxe um interessante ensinamento: aprendemos que havia um jogo no campo, e outro, diferente, nas transmissões pela TV. Como ali na TV não havia a emoção da torcida, o narrador compensava falando com mais vibração nos lances agudos.

Até hoje, parece que ouço Walter Abraão mencionar o nome de Pelé apenas por "Ele", como se o Rei fosse uma divindade, e dizer "oxo" quando o jogo estava empatado zero a zero. Como uma ironia para se referir indiretamente a "chocho".

Ely Coimbra dava uma aula de comunicação. Ele repetia a sequência inteira da jogada e adicionava alguns detalhes que enriqueciam ainda mais a narração de Walter Abraão. Sua emoção no comentário dava a impressão de que tudo ocorria novamente. Eu não tinha ideia de como eram --diferentemente do que ocorre hoje quando vemos os narradores o tempo todo nas mesas redondas esportivas.

Sempre que terminavam os jogos, ficávamos discutindo os lances mais importantes até altas horas da noite. Fazíamos assim nossa própria mesa redonda.

Talvez nem ele tenha consciência, mas Marco Antonio Rodrigues deve ter desenvolvido sua habilidade de comentarista esportivo nessas nossas discussões.

Mais uma curiosidade. Também mais de 20 depois, recebi como aluno o filho de Ely Coimbra, também com o nome de Ely. E, no final do treinamento, lá estava ele participando da formatura do filho e dando depoimento sobre a importância da comunicação. Nem preciso dizer que esse também foi um momento de grande emoção.

O Ely Filho gostou tanto do curso que, depois de se tornar agente de jogadores de futebol, os tem enviado para o curso para que aprimorem a comunicação. O último foi Marcos Assunção, que se prepara agora para ser gestor. E, assim, o ciclo vai se fechando. Por isso eu disse que a TV Tupi foi tão importante para a comunicação e para a minha vida.

Uma pena ter desaparecido. Bem, encerrou suas atividades, mas muitos daqueles que atuaram diante de suas câmeras ainda estão por aí, dando alegria e emocionando os telespectadores.

Superdicas da semana

  • Aprimore sua comunicação observando os narradores esportivos
  • Fale com emoção. A mensagem ganhará mais importância e destaque
  • Ao assistir as novelas veja como os bons artistas utilizam com perfeição as pausas
  • A história nos ensina. Aprendemos com os erros e acertos daqueles que nos antecederam

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. “Oratória para advogados”, "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. “Oratória para líderes religiosos”, publicado pela Editora Planeta.

Para outras dicas de comunicação, entre no meu site.
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