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Reinaldo Polito

A oratória mudou, mas alguns oradores ainda falam como no século passado

04/12/2018 04h00

“Criatividade sempre significa fazer o não familiar” (Eleanor Roosevelt)

Algumas pessoas se sentem incomodadas quando presenciam oradores se apresentando com aquela mesma ladainha de sempre. A oratória mudou, mas certos oradores continuam falando como se estivessem no princípio do século passado. Por isso, até o termo “oratória” provoca resistências.

Por exemplo, cumprimentam os componentes da mesa e a plateia seguindo um ritual que não muda. Ao perceber que a chatice vai se repetir, já nos cumprimentos, os ouvintes se desligam e deixam de prestar a atenção. O pior é que alguns oradores preocupam-se tanto em seguir o velho roteiro de sempre que nem percebem as pessoas perdendo o interesse.

Na verdade, é reflexo de puro comodismo. Como a maioria dos oradores se expressa de determinada maneira, para não correrem risco, as pessoas se ajustam a esse modelo e seguem a cartilha, imaginando que assim conquistarão a plateia. Alguns até chegam a cumprir bem o seu papel e transmitem a mensagem que precisam, mas daí a terem desempenho excepcional há um abismo.

Se quiser impressionar os ouvintes, saia dos trilhos batidos. Surpreenda o público. Depois de elaborar cada etapa da sua apresentação, reflita: que mudanças eu poderia fazer nessa mensagem para que ela pudesse ser mais encantadora? Se eu estivesse na plateia, como eu gostaria de receber essa informação? Só o fato de você refletir sobre essas questões já será meio caminho andado na busca do tempero ideal para ser bem-sucedido.

O público, por exemplo, poderia ser mais facilmente conquistado se a tradicional forma de cumprimentar os ouvintes fosse modificada. Em vez de cumprimentar um a um todos os componentes da mesa e seguir com o cansativo "bom dia a todos e a todas", poderia, por exemplo, agir como fez a ministra Carmem Lúcia ao tomar posse como presidente do STF (Supremo Tribunal Federal).

Todos imaginavam que ela cumpriria rigorosamente o protocolo, começando os cumprimentos pelo presidente Michel Temer, que estava presente e era a autoridade mais importante no evento. A ministra começou dizendo que iria quebrar o protocolo e queria iniciar cumprimentando, antes, o povo brasileiro. Pegou todo mundo de surpresa e fisgou a atenção da plateia já nesse primeiro momento.

Da mesma forma, essa história de começar com o cansativo "É um prazer estar hoje aqui diante de vocês para esclarecer os detalhes do nosso plano de atuação para o próximo ano" pode funcionar como verdadeiro sonífero para o público. Algumas pequenas modificações poderiam tornar a apresentação mais instigante.

Essa mesma informação seria mais interessante se, por exemplo, fosse transmitida assim: "O que vamos tratar hoje pode se constituir na melhor oportunidade para engordar um pouco mais a nossa conta bancária. Se cumprirmos as determinações do nosso plano de ação, nosso bônus já estará garantido."

Esse recurso de contar de forma clara quais os benefícios que os ouvintes terão com a mensagem é a melhor e mais eficiente estratégia para conquistar a atenção do público. Quase sempre uma pessoa se interessa pelo discurso se sentir que terá algum tipo de vantagem com aquela apresentação.

São pequenos cuidados que podem fazer toda a diferença entre uma apresentação insossa e outra motivadora e interessante. Se tivermos em mente que todas as informações poderão ser transmitidas de maneira ainda mais criativa, iremos nos habituar a encontrar caminhos cada vez mais eficientes para enriquecer as apresentações.

Um bom exercício é elaborar a apresentação e, em seguida, reescrevê-la com as modificações que possam torná-la mais interessante para os ouvintes. Você perceberá que, com o tempo, ficará tão acostumado a agir assim que, naturalmente, pensará sempre em como aprimorar suas mensagens.

Para tornar suas apresentações mais interessantes, fuja da mesmice, abandone o lugar-comum, seja mais ousado. Você será um orador mais admirado se aprender a não se acomodar com o cinza e descobrir que outras cores tornarão seus discursos mais apreciados. Avalie as consequências e, se concluir que vale a pena abandonar o caminho seguro, não hesite, vá em frente.

"A desobediência é uma virtude necessária à criatividade" (Raul Seixas)

Superdicas da semana:

  • Reflita sobre como tornar seus discursos mais instigantes
  • Sempre haverá uma forma de tornar suas falas mais interessantes
  • Mostre de forma clara quais serão os benefícios dos ouvintes
  • Seja ousado, abandone o lugar comum

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante; "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria", “Oratória para advogados”, "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva; e “Oratória para líderes religiosos”, publicado pela Editora Planeta.

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