Que chance terá um advogado diante de tanta concorrência?
O ganho de nosso estudo é termo-nos tornado melhor e mais sábio.
Montaigne
Acabo de lançar a segunda edição do livro "Oratória para advogados e estudantes de direito". Depois de onze tiragens e mais de cem mil exemplares vendidos, julguei oportuno fazer uma revisão completa na obra, atualizando alguns capítulos, incluindo novos e suprimindo outros.
A publicação tem a chancela da OAB de São Paulo e do Conselho Nacional da OAB. Conta com os prefácios do ex-presidente da OAB-SP, Luiz Flávio Borges D'Urso, e do procurador de justiça, Edilson Mougenot Bonfim. O posfácio ficou a cargo do também ex-presidente da OAB-SP, Marcos da Costa.
Há poucas profissões que necessitam tanto da boa comunicação quanto a do advogado. Foi criado no imaginário popular que os advogados são excepcionais comunicadores; as pessoas se acostumaram com a eloquência dos grandes criminalistas, que impressionam nos julgamentos com a sua oratória, e assistem a filmes onde os defensores e acusadores encantam com sua competência na arte de falar em público.
A imagem de quem fala bem
Normalmente, porém, a maioria dos estudantes de direito sai da faculdade sem nenhuma orientação para falar bem em público. Por isso, depois de formados, passam a vida tentando defender a imagem de quem fala bem, sem terem se preparado para se apresentar diante das plateias. Aqueles que se expressam sem habilidades oratórias, quase sempre, são vistos como profissionais não muito qualificados.
Os próprios advogados assumem essa responsabilidade de possuírem boa oratória. Veja o que disse Ernesto Leme em conferência que proferiu na Sala do Estudante, na Faculdade de Direito de São Paulo:
Esta escola sempre foi um berço de oradores. Tivemo-los no passado e os temos no presente, entre os seus mestres e os seus discípulos. [...] E podemos proclamar com orgulho que esta Casa mantém inalterável a sua velha tradição da eloquência.
Como a concorrência no mercado profissional é grande, aquele que não se comunica bem já chega em desvantagem. Por esse motivo, tanto quanto conhecer a ciência do direito, para se dar bem na profissão é preciso saber falar bem.
Os números são impressionantes
Há algumas curiosidades marcantes na área do direito. Talvez você não saiba que temos no Brasil mais de 1,5 milhão de advogados, e quase mil e setecentas faculdades de direito. Os bacharéis, que só se tornarão advogados depois de serem aprovados no Exame da Ordem, apresentam números assombrosos, entre 1,5 milhão e 3 milhões. O nosso país é o terceiro no mundo em número de advogados, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia.
E onde essa turma toda vai trabalhar? Bem, pela diferença entre o número de bacharéis e o de advogados já dá para deduzir que muitos que concluem o curso de direito não vão exercer a advocacia. Mesmo aqueles que são aprovados no Exame da Ordem, e por isso mesmo são habilitados para exercer a profissão, vão aproveitar seus conhecimentos em outras áreas.
Sem uma análise muito profunda, não é difícil concluirmos que há uma quantidade exagerada de advogados. Em números aproximados, temos um advogado para cada 150 a 200 habitantes. E talvez seja por esse motivo que a maioria termina o curso e procura outras atividades. Considerando também que apenas um pequeno percentual consegue conquistar a sonhada carteirinha da Ordem.
Um paraninfo alerta para o excesso de advogados
A mensagem do paraninfo é considerada a última aula do curso. É o profissional que, tendo experiência, dá um oportuno conselho àqueles que irão iniciar sua jornada. Acompanhe as palavras deste renomado professor ao paraninfar uma turma de formandos na Faculdade de Direito de São Paulo, chamando a atenção para essa realidade.
Mas, haverá realmente advogados em demasia? Estamos aqui diante da maior turma de bacharéis formados pela Faculdade de Direito de São Paulo. Constituirá isto um indício de que há advogados em demasia? Ou um sinal de que em nosso meio social ainda há lugares para os profissionais das letras jurídicas? Não resta dúvida de que há no Brasil um grande proletariado intelectual. Há falta de braços nas indústrias e na lavoura; mas há muitos letrados sem emprego, sendo grande a proporção dos necessitados.
Essas palavras duras servem como alerta, como pedido de precaução, e não como desestímulo. Ele mostrou com todas as letras aos formandos as dificuldades que iriam enfrentar na carreira no momento em que estavam deixando os bancos escolares.
Para alívio daqueles que estão cursando a faculdade, ou ingressando agora na área do direito, chamo a atenção para um fato extraordinário - esse discurso foi proferido pelo professor Noé Azevedo, quando paraninfou a turma de formandos de 1938, da Faculdade de Direito de São Paulo. Ou seja, há mais de 80 anos.
A competência como diferencial
É fato comprovado que quase todas as carreiras, especialmente a do advogado, sempre foram muito concorridas. Por outro lado, assim como no passado, hoje também aquele que for estudioso, aplicado, competente, determinado, jamais irá fracassar na sua profissão. Encontrará dificuldades, muitos desafios, mas se estiver mesmo preparado, abrirá as portas para o sucesso na sua carreira.
Já ministrei dezenas de palestras na OAB das mais diferentes localidades. A entidade promove esses eventos gratuitamente como estímulo para que se aperfeiçoem. A procura é grande, mas quantos deixam de aproveitar a oportunidade para aprimorar sua habilidade oratória, tão necessária ao seu sucesso profissional.
Portanto, independentemente da área em que atue, da concorrência que esteja sofrendo, fique certo de que se for mesmo competente e tiver o domínio das atividades que abraçou, irá se destacar e se realizar na sua profissão.
Seja obstinado e não esmoreça nas dificuldades
Se você for estudante, não se contente apenas em aprender as matérias obrigatórias exigidas pelo professor. Vá além, faça cursos complementares, participe de palestras e workshops, seja autodidata, pesquise o tempo todo, conheça a história e a trajetória dos grandes profissionais e tente seguir os passos deles. E se dedique ao aprendizado da arte oratória.
Esteja preparado para todos os obstáculos. De vez em quando você perderá clientes para concorrentes que estão muito abaixo da sua competência. Escreverá textos de boa qualidade, mas não encontrará destaque para eles. Talvez escreva um livro, pondo em suas páginas o que existe de melhor em suas pesquisas, mas também terá dificuldade para publicá-lo.
Saiba que a vida é assim. As portas não se abrem sozinhas. Muitas teimarão em ficar fechadas por um tempo que parecerá uma eternidade. Ouvirá muitos nãos. Esse é preço da jornada. Nunca encare esses momentos como uma derrota. Pelo contrário, veja sempre nessas situações uma ótima oportunidade de crescimento e superação.
Superdicas da semana
- Se você for competente, jamais temerá a concorrência
- Use as noites, madrugadas e finais de semana para aprender e se aperfeiçoar
- Muitos estarão consumindo o tempo apenas na frente da televisão
- Haverá aqueles, entretanto, que se estão dedicando ao aprimoramento. Seja um deles
Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "Comunicação a distância", "Os segredos da boa comunicação no mundo corporativo", "Oratória para advogados", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", "Como falar de improviso e outras técnicas de apresentação", "Assim é que se Fala", e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta.
Siga no Instagram: @polito
Siga pelo facebook.com/reinaldopolito
Pergunte para saber mais contatos@polito.com.br
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.