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Reinaldo Polito

O PSDB consegue se unir após o racha das prévias?

O governador de São Paulo, João Doria, nas prévias do PSDB, em Brasília - Fátima Meira/Estadão Conteúdo
O governador de São Paulo, João Doria, nas prévias do PSDB, em Brasília Imagem: Fátima Meira/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

30/11/2021 04h00

Não há inimigo insignificante.
Franklin

Nas últimas semanas sobrou cascudo para todos os lados. João Doria, Eduardo Leite e Arthur Virgílio se digladiaram à vontade às vésperas das prévias do PSDB. No fim deu Doria na cabeça com 53,99% dos votos, enquanto Leite chegou aos 44,66% e Virgílio amargou a lanterna com pífio 1,35%. Todos sabiam, entretanto, que a disputa ficaria entre os governadores de São Paulo e do Rio Grande do Sul. Briga de gente grande.

Vitória de Pirro

Os próximos dias revelarão se Doria obteve apenas uma vitória de Pirro. Como houve excesso de caneladas, algumas fraturas precisarão de longo tratamento para ser corrigidas. Quem no PSDB teria essa habilidade cirúrgica?

O doutor Alckmin é que não vai mexer nesse vespeiro. Não nos esqueçamos de que ele ainda está lambendo as feridas deixadas pelas últimas eleições. Os próprios contendores talvez também não sejam indicados. Não é tarefa elementar, nem tranquila. É mais fácil, às vezes, a reconciliação entre oponentes de partidos diferentes que discutir relação dentro da própria cozinha.

As antigas prévias do PT

Embora, aparentemente, menos traumática, uma das disputas do PT, em 2002, chegou a ser ainda mais conturbada. Quem teria o topete de enfrentar o todo-poderoso Lula para se candidatar a candidato à presidência da república? Analisando com todo o cuidado as circunstâncias daquela época, ninguém. Nem José Dirceu, o homem forte do partido, teria essa petulância. Para essa empreitada só mesmo um Dom Quixote de La Mancha, Eduardo Suplicy.

Nem Sancho Pança

O ex-senador vestiu a armadura, empunhou a lança, montou no Rocinante, seu inseparável cavalinho esquálido e procurou por Sancho Pança. Pois é, nem seu fiel escudeiro, que impedia os excessos delirantes do Engenhoso Fidalgo, quis acompanhá-lo nessa jornada. Era moinho demais para a sua cabeça. Por isso, o eterno defensor do programa da Renda Mínima foi só.

Eu estava no olho do furacão. Um dos problemas mais graves de Suplicy naquela oportunidade era a comunicação. Seus discursos prolixos e sem vida o caracterizavam como péssimo orador. Algum tempo antes das prévias ele me procurou. Estava disposto a fazer o que fosse preciso para melhorar a sua oratória.

Suplicy aprendeu a falar bem

Foi disciplinado, dedicado e aprendeu. Em apenas três sessões já era outro. Passou a transmitir qualquer tipo de mensagem em até três minutos e a falar com bastante emoção. Só para dar uma ideia do seu interesse pelas aulas, chegamos a passar uma noite inteira em seu apartamento em Brasília treinando as estratégias para sua participação em um importante debate.

Todos se surpreenderam com seu desempenho. Suplicy, então, parecia um menino irradiando alegria e felicidade. Havia superado um desafio que o incomodava - aprendera a falar bem em público.

A prévia foi realizada em março de 2002. Houve ataques dos dois lados. Principalmente Lula se mostrou muito incomodado com a "ousadia" de Suplicy. Como não encontrou argumentos para combater o adversário, disse que ele estava se vitimizando no partido. O resultado foi acima do esperado. Lula conquistou cerca de 84% dos votos e Suplicy abocanhou os 16% restantes.

As feridas curadas na hora

O próprio senador foi ao microfone para anunciar o resultado. Como sempre se portou como homem de partido, encerrada a apuração já estava de mangas arregaçadas para lutar na campanha de Lula à Presidência. Foi corajoso, determinado e muito sensato.

Sua participação jamais produziu nenhum tipo de crise no PT. Fez o que julgou ser correto e ficou feliz por ter enfrentado essa batalha. Tudo terminou bem, mas pelo contexto dos debatedores a disputa foi ainda mais conflituosa que essa do PSDB.

Há pouco tempo ele me ligou para pedir fotos dos eventos em que estivemos juntos. Vai escrever um livro contando essas aventuras. Disse que fui fundamental no momento em que precisou enfrentar aquele que talvez tenha sido o maior desafio da sua vida.

De certa forma, naquela oportunidade, fui seu Sancho Pança. Na nossa última conversa eu o convidei para fazer uma reciclagem na sua oratória. Depois de 20 anos está precisando. E quem sabe não se anime para novos confrontos.

Não imagino que o PSDB tenha condições de unir forças como fez o PT naquela oportunidade. Para apagar essas marcas profundas, deixadas pela luta fratricida, é preciso boa vontade, tolerância, humildade e espírito público. Para quem vence, é simples. Para os perdedores, porém, é mais complicado. Para quem bate, é fácil esquecer, mas para quem apanha a memória quase sempre perdura. É esperar para ver.

Superdicas da semana

  • Todos têm o direito de lutar pelo que desejam
  • Os adversários em uma causa não são necessariamente inimigos
  • Há disputas que aproximam
  • Há disputas que afastam

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "Conquistar e influenciar para se dar bem com as pessoas", "Como falar corretamente e sem inibições", "Comunicação a distância", "Os segredos da boa comunicação no mundo corporativo", "Saiba dizer não sem magoar as pessoas" e "Oratória para advogados", publicados pela Editora Saraiva. "29 minutos para falar bem em público", publicado pela Editora Sextante. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta.