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Reinaldo Polito

Tornar Bolsonaro inelegível garantiria a permanência de Lula no poder?

Jair Bolsonaro dentro de um carro após prestar depoimento na sede da Polícia Federal em Brasília - 5.abr.2023 -  Sergio Lima/AFP
Jair Bolsonaro dentro de um carro após prestar depoimento na sede da Polícia Federal em Brasília Imagem: 5.abr.2023 - Sergio Lima/AFP

Colunista do UOL

25/04/2023 04h00

Profetizar o futuro não é difícil, mas é perigoso.
Osias Thon

Dificilmente o ex-presidente escapará das garras da justiça. Nesta quarta, 26, mais uma vez, ele será ouvido no inquérito aberto pela Polícia Federal para verificar se, mesmo estando ausente do país, foi um dos autores intelectuais das invasões golpistas de 8 de janeiro. É mais uma das peças que compõem o pacote dos atos antidemocráticos.

A lista de acusações é extensa. Entre as principais, além de uma possível participação nesse crime, pesam contra Bolsonaro as suspeitas de ter disseminado fake news e desinformação. Bastará apenas um passo em falso do ex-presidente para que as portas da corrida presidencial sejam fechadas por longo período. É tudo o que seus adversários desejam.

Tabuleiro eleitoral

Política, todavia, não é matemática. Haja vista a chegada de Lula ao poder pela terceira vez, depois de ter amargado longo período preso nas dependências da Polícia Federal de Curitiba. Nem os mais otimistas de seus seguidores poderiam supor um final feliz como esse.

Com base nas peças dispostas hoje no tabuleiro eleitoral, se tudo permanecer exatamente como está, não é impossível fazer algumas previsões.

Fatores internos e externos

A primeira e mais importante pergunta a ser respondida é esta: o que impediria Lula e seu grupo de permanecerem no comando do país? Quais são os ingredientes que precisam ser avaliados nesse questionamento? Há fatores internos e externos nessa análise.

Os internos dependem da atuação específica do governo. Os externos estão sujeitos a acontecimentos que podem fugir de sua alçada. Na verdade, são todos aspectos que se sobrepõem e se associam a partir de fatos que se sucedem em uma espécie de vida própria, como se fossem guiados por mãos invisíveis.

Lula fala o que não deve

Pelo brilho da brilhantina, dá para inferir já, nesses primeiros três meses de governo, que Lula age mais como cabo eleitoral dos adversários que de suas próprias causas. O petista parece ter perdido a mão em suas decisões políticas. Desde que assumiu, não sai das cordas. A cada dia precisa dar explicações e promover recuos de suas ações.

Só para citar algumas de suas trapalhadas. Os comentários desastrados que fez sobre a guerra da Ucrânia. A menção à obesidade do ministro Flávio Dino. O uso de expressões vulgares em entrevista ao Brasil 247. As afirmações de que pessoas com transtornos mentais têm desequilíbrio de parafuso. A relação é interminável.

Não se emenda

Mesmo esses pronunciamentos tresloucados funcionando como tiros pela culatra, Lula não se emenda. Dá a impressão de que a boca está mais rápida que o pensamento. Tanto que vira e mexe, certamente com apoio de seus assessores, deixa de lado os irresponsáveis improvisos e parte para a leitura de seus discursos. Os indicadores econômicos, que sempre foram importantes na decisão dos votos, também estão ladeira abaixo.

As comodities ajudaram

As causas externas são a conjuntura internacional e os adversários. Nas primeiras gestões, Lula foi beneficiado com a demanda das comodities. Jorrava dinheiro do exterior para dentro do nosso país. Navegava em voo de cruzeiro. As nuvens que se avizinham agora são mais sinistras. Tudo indica que o que foi positivo antes, nesta gestão funcionará como freio.

Se tirarem Bolsonaro das eleições, talvez seja ainda melhor para os oposicionistas. O ex-presidente será visto como vítima, um perseguido político. Terá, portanto, a solidariedade do eleitorado. Até aqueles que passaram a torcer o nariz para ele, talvez voltem a apoiar o candidato que o líder conservador indicar.

Os candidatos de Bolsonaro

Estão na fila das indicações, Tarcísio Gomes de Freitas, Romeu Zema e Michelle Bolsonaro. Todos com excelentes chances de chegar ao Palácio do Planalto. Tarcísio leva vantagem por fazer um bom governo em São Paulo e ser o mais conhecido no país devido ao sucesso de seu trabalho como ministro. Zema, embora mais restrito a Minas Gerais, tem forte apoio popular. Michelle foi um fenômeno carismático que surgiu nos últimos tempos.

Noves fora, ainda que Lula tenha o poder nas mãos, para continuar como chefe do Executivo terá de mostrar serviço e ficar de olho naqueles que desejam subir a rampa. Para atingir seus objetivos, faria muito se desse um jeito de colocar um rumo na nossa economia e... parasse de falar o que não deve.

Superdicas da semana

  • Às vezes nos transformamos em nossos maiores adversários
  • O silêncio pode ser mais eficiente que palavras impensadas
  • O que for plantado hoje na política poderá ou não ser colhido amanhã
  • É preciso olhar para fora sem deixar de ver o que está dentro

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "Como Falar Corretamente e sem Inibições", "Comunicação a Distância", "Saiba Dizer Não", "Os Segredos da Boa Comunicação no Mundo Corporativo" e "Oratória para Advogados", publicados pela Editora Saraiva. "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "Oratória para Líderes Religiosos", publicado pela Editora Planeta.