Logo Pagbenk Seu dinheiro rende mais
Topo

Carlos Juliano Barros

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Refresco na economia ajuda Bolsonaro em 7 de Setembro menos golpista

06/09/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Existem duas diferenças importantes entre o 7 de Setembro deste ano e o do ano passado. A primeira é de conjuntura —principalmente, econômica. Já a segunda é de retórica, ou seja, diz respeito ao discurso trabalhado pelo presidente Jair Bolsonaro.

Antes de prosseguir, é preciso relembrar que a "comemoração" do aniversário da nossa independência em 2021 representou, sem sombra de dúvidas, um dos momentos mais delicados da democracia brasileira.

Passados 365 dias, pode até soar anedótico ou exagerado, mas a verdade é que estava no radar de muita gente (mesmo!) o anúncio de um golpe de Estado por parte de Bolsonaro. Essa era a expectativa de parcela expressiva dos que tomaram as ruas um ano atrás.

Não por coincidência, caminhoneiros ensaiaram uma paralisação, exigindo a saída de Alexandre de Moraes, inimigo número 1 do bolsonarismo, da cadeira do Supremo Tribunal Federal (STF).

Para quem anda com a memória curta, o movimento teve de ser pessoalmente desarticulado por Tarcísio de Freitas, então ministro da Infraestrutura. O atual candidato a governador de São Paulo chegou a usar as redes sociais para implorar o fim dos bloqueios de rodovias. O receio era de que o movimento golpista surrasse ainda mais a cambaleante economia brasileira.

É aí que retomamos o fio da meada da análise. Muita água rolou por baixo da ponte nesses 12 meses — e os números vêm dando certo refresco ao governo Bolsonaro.

Com a pandemia finalmente dando trégua, o desemprego teve redução significativa e hoje flutua na casa dos 9%, uma queda de cinco pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano passado. O PIB vem crescendo acima do esperado e a inflação, principalmente a dos combustíveis, também assusta menos.

Evidentemente, estamos a anos-luz de viver em um cenário decorado com papel de parede cor-de-rosa. Basta dar uma caminhada pelas ruas de qualquer grande cidade para perceber o profundo drama social em que o país está atolado.

Mas a evolução nos índices econômicos é suficiente para que Bolsonaro deixe de agir como um cachorro acuado que revida mordendo. Se, no ano passado, o presidente tinha pouco a mostrar para além da pauta ideológica linha-dura e discursava terceirizando a culpa para prefeitos, governadores e ministros do STF, hoje ele tem uma agenda econômica menos negativa para oferecer à sua base. E isso não é pouca coisa.

Além disso, temos pela frente as eleições mais acirradas e acaloradas da história. Essa é a segunda diferença significativa entre o 7 de setembro deste ano e o do ano passado, quando Bolsonaro impulsionou um movimento para atiçar principalmente a sua militância.

De olho nos eleitores indecisos, mas avessos a bandeiras autoritárias e violentas, Bolsonaro precisa maneirar no discurso, se quiser ser reeleito. Portanto, a retórica de 2022 vai ser menos belicosa que a de 2021, ainda que vaze um ou outro pedido absurdo de intervenção das Forças Armadas ou de fechamento do STF.

Por essa razão, não passam de delírios as previsões daqueles que ainda matraqueiam que o presidente pretende melar as eleições. Na verdade, é o exato oposto: Bolsonaro precisa que o pleito de outubro aconteça, mesmo que seja para perder.

No fim das contas, a teoria da conspiração sobre as urnas eletrônicas não vai servir de pretexto para um golpe de Estado. Sim, confusões aqui e ali têm grande chance de acontecer, caso o presidente saia derrotado. Mas dificilmente se converterão em um movimento com força para promover uma ruptura institucional.

A tática bolsonarista é uma cópia e cola da cartilha de Donald Trump. Por sinal, para surpresa de absolutamente ninguém, o ex-presidente dos Estados Unidos já desponta como nome forte para a próxima corrida à Casa Branca, mesmo tendo deliberadamente estimulado a invasão do Capitólio, maior atentado à democracia da história do país.

Se perder em outubro, o capitão, assim como Trump, cairá atirando, reclamando de fraude, dizendo-se injustiçado, mas sobretudo reorganizando suas tropas. Por todo o simbolismo do bicentenário da independência, o 7 de setembro é apenas mais uma etapa desse plano. Afinal, 2026 está logo ali.