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José Paulo Kupfer

. Sem muita margem de manobra, BC mantém taxa básica de juros inalterada

16/09/2020 18h42

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A manutenção da taxa básica de juros (taxa Selic) em 2% nominais, ao ano, decidida pelo Comitê de Política Monetária (Copom), nesta quarta-feira (16), era a saída quase inevitável para os estreitos limites de manobra que os próprios diretores do Banco Central, que formam o comitê, se impuseram desde a reunião de agosto. Com a decisão, interrompe um ciclo contínuo de cortes da taxa básica, que teve início em julho de 2019, quando a Selic estava em 6,5% ao ano. O comunicado divulgado logo depois do encerramento da reunião, informando a decisão por unanimidade, o Copom manteve e reforçou a orientação adotada em agosto.

Na sua comunicação com o mercado, o Copom definira, no mês passado, uma "prescrição futura" (forward guidance, na expressão em inglês, usada no jargão do mercado), ainda que não tivessem faltado menções de praxe a condicionantes das decisões que pudesse ser tomadas adiante, concentradas, no caso, na trajetória fiscal e na continuidade das reformas.

Nessa orientação, destacava-se, de um lado, a preocupação com eventuais efeitos negativos para a estabilização financeira, se a Selic fosse cortada abaixo de 2%. De outro, o Copom deixou explícito a intenção de não elevar a taxa básica enquanto a inflação de preços não se aproximar do centro da meta determinado pelo regime de metas de inflação. Por trás das duas linhas de demarcação do território onde a Selic se acomodou, expectativas sobre a trajetória fiscal.

Apesar de alguns choques e pressões, as ocorrências na economia, entre a reunião de agosto e a de setembro, não transbordaram do quadro esperado e, portanto, não houve motivo para mudar a orientação adotada.

A alta nos preços dos alimentos, que ficou mais evidente no período entre as duas últimas reuniões do Copom, empurraram as projeções de inflação, em 2020, um pouco mais para frente. Mas, se saíram dos níveis muito baixos em que se encontravam, não tiveram força para chegar até mesmo no piso do intervalo do sistema de metas. As estimativas ainda rodam nas vizinhanças da variação de 2% no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) do ano, quando o piso está fixado em 2,5%, para um centro da meta de 4%.

No que diz respeito ao mercado financeiro, as pressões fiscais com a inundação de recursos para fazer frente à pandemia de Covid-19, jogando a dívida pública no caminho de alcançar mais rápido o equivalente a 100% do PIB, tem mexido com a taxa de juros futura e, em consequência, com os padrões de colocação na praça de títulos públicos pelo Tesouro Nacional. Os prazos de vencimento dos papéis oferecidos têm se reduzido, e a curva apresenta trajetória de alta, refletindo, segundo analistas, a percepção de elevação do risco fiscal.

As perspectivas para a frente são de repetição do cenário atual e, em consequência, da manutenção da taxa Selic no ponto em que se encontra. A manutenção da "prescrição futura" indica que o Copom pretende continuar a estimular a economia com impulsos monetários, mas não por atuação direta na taxa básica de juros. A aposta é que a "prescrição" opere na direção de uma efetiva redução dos juros, operando, assim, para estimular a atividade econômica.