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Com a confusão do diesel, ainda vale a pena comprar ações da Petrobras?

Juliana Elias

Do UOL, em São Paulo

15/04/2019 16h25

O que fazer com ações da Petrobras depois da confusão causada com a intervenção do presidente Jair Bolsonaro no preço do óleo diesel? Comprar os papéis ainda pode ser um bom negócio. É necessário, porém, que o investidor se mantenha atento e não afaste a possibilidade de novas quedas enquanto não houver garantia de que a estatal terá sua independência mantida.

Na sexta-feira, as ações da petroleira despencaram mais de 8% após a confirmação de que Bolsonaro ligou pessoalmente para a direção da Petrobras e a fez adiar um aumento de 5,7% previsto para o preço do diesel.

Razões para comprar

"Nossa recomendação continua sendo de compra; esse adiamento no reajuste [do preço do diesel] é pontual e não altera a política de preços livres da companhia", disse Pedro Galdi, analista da corretora Mirae. "O racional é que as ações recuperem o que perderam; elas tiveram uma queda exagerada."

Galdi afirmou que a Petrobras está há três anos atuando para equilibrar suas finanças e que a perspectiva ainda é de valorização das ações. A expectativa de que a reforma da Previdência seja aprovada, mesmo que de maneira mais lenta ou mais enxuta do que a inicialmente prevista, também dá um horizonte positivo para os investidores da Bolsa, como um todo, no médio e no longo prazo.

Para as ações preferenciais da Petrobras, a Mirae calcula que o preço justo seria de R$ 32,76.

"Ainda há mais informações positivas do que negativas sobre a Petrobras", disse Álvaro Frasson, analista da corretora Necton, mencionando a reconstrução financeira da empresa e a melhora dos resultados nos últimos anos.

"Essa correção de preço foi mais um susto, e, não havendo novidades que façam crer que a política da Petrobras vai mudar, agora é uma boa oportunidade de compra", afirmou ele.

Razões para cautela

O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo, por outro lado, recomenda cautela. "Retiramos a recomendação de compra [das ações da Petrobras] pelo menos por ora, porque não dá para saber o que aguardar", afirmou.

"[A intervenção de Bolsonaro] não foi um simples trauma; foi uma mudança significativa em relação à política da companhia, e ainda vale aguardar mais sinais de qual rumo a política de preços da Petrobras deve tomar", disse, mencionando reunião de Bolsonaro com ministros nesta segunda-feira para debater a situação. "Dependendo do que for anunciado ali, a ação pode cair ou pode subir."

Quem tem ação deve esperar

Paulo recomenda que quem já tem ações da Petrobras as mantenha, em vez de vendê-las em meio à turbulência.

"A recomendação é manter e aguardar ao menos até a reunião, que deve dar sinalizações melhores", disse.

Independência da Petrobras em jogo

As ressalvas dos analistas estão centradas em uma preocupação bastante clara: a política da Petrobras na formação dos preços de seus combustíveis e a continuidade, ou não, da independência dessa política em relação ao governo.

Desde 2016, a Petrobras adota uma política de preços para seus combustíveis pela qual os valores praticados em suas refinarias no país devem seguir indicadores do mercado internacional, como cotação do barril de petróleo e valor do dólar.

A confirmação da intervenção de Bolsonaro trouxe ao mercado o temor de retorno às ações daquele período, que foram parcialmente responsáveis pelos quatro anos de prejuízo da estatal entre 2014 e 2017.

Na quinta-feira (11), a Petrobras havia anunciado, por volta do meio-dia, que o litro do diesel seria aumentado em 5,7%, ao seu maior valor em seis meses. Poucas horas depois, à noite, a companhia emitiu um comunicado revogando o reajuste.

Petrobras recua e cancela aumento do diesel

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