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Petróleo já subiu 20% desde o início da guerra na Ucrânia, há 14 dias

Anaís Motta

Do UOL, em São Paulo

09/03/2022 13h28Atualizada em 09/03/2022 13h29

O preço do petróleo do tipo Brent, referência para os mercados europeu e asiático, já subiu 20,55% desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, que já dura duas semanas. Em 24 de fevereiro, primeiro dia da invasão russa, o barril custava US$ 101,29, segundo dados da Reuters; já hoje, por volta das 12h15, era cotado em US$ 122,11.

Desde o início do ano, porém, a alta é ainda maior: em 3 de janeiro, o petróleo Brent chegou a US$ 78,25 —valor 35,91% menor que o atual.

Disparada após fala de Biden

Na manhã de terça-feira (8), o barril chegou a tocar os US$ 135, batendo o recorde nominal (isto é, sem considerar a inflação) em 14 anos. A disparada veio no mesmo dia em que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou a proibição das importações de petróleo, gás e carvão russos, em retaliação à invasão da Ucrânia.

O democrata reconheceu, porém, que a decisão trará custos para a população americana.

"A guerra de [Vladimir] Putin já está atingindo a família americana na bomba de combustível. Desde que Putin começou a escalada na Ucrânia, o preço do combustível subiu 75 centavos [de dólar]. Com esta ação, vai continuar a subir", declarou, acrescentando que vai liberar 60 milhões de barris da reserva dos EUA para tentar conter o aumento do preço.

Pouco depois, o Reino Unido também informou que vai diminuir as importações de petróleo e derivados da Rússia até o final deste ano.

Em resposta aos EUA, o presidente russo Vladimir Putin assinou um decreto proibindo a importação e exportação de matérias-primas da Rússia até 31 de dezembro de 2022. A decisão se restringe a alguns países, ainda não especificados pelo governo local. A lista de produtos também será divulgada nos próximos dias.

Efeitos no Brasil

A guerra entre Rússia e Ucrânia também deve impactar —e em breve— o preço dos combustíveis no Brasil. Especialistas ouvidos pelo UOL já consideram que o preço do barril de petróleo ainda se manterá acima de US$ 100 por alguns meses, independentemente da duração do conflito, e a Petrobras não conseguirá segurar o repasse deste aumento, principalmente se o dólar voltar a subir.

O economista Guilherme Moreira, coordenador do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), acredita não ser um "absurdo" pensar que o litro da gasolina pode chegar a R$ 10, ao menos em algumas cidades brasileiras.

Ele cita que, no último dia 2, por exemplo, o barril do Brent estava sendo negociado a US$ 111 —o que representa um aumento de 44% em relação à cotação de dezembro. Em contrapartida, o real teve uma valorização de 10% em relação ao dólar —o que até ajuda a segurar o preço dos combustíveis, mas não por muito tempo.

"Fazendo uma subtração simples, ainda sobram 34% [de diferença]. Em lugares como o Rio de Janeiro, por exemplo, onde a gasolina já passa de R$ 7, um aumento de cerca de 30% elevaria o preço a quase R$ 10", afirma Moreira. "Isso se tudo se mantiver como está hoje. Mas nós sabemos que a tendência é o dólar se valorizar, o que pode puxar esse aumento também".

Já André Braz, economista e coordenador do IPC do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), acha que ainda não é possível especular valores. Mas diz concordar que o aumento é inevitável, já que a situação é "atípica" e vem no momento em que o Brasil ainda se recupera dos efeitos da pandemia de covid-19.

"Vai depender um pouco da valorização da nossa moeda também, que pode mitigar aumentos daqui para frente. Mas, com certeza, vai afetar a inflação, até por meio da própria agricultura. A gente já viu as cotações internacionais de milho, soja e trigo disparando, o que pode contaminar o preço das carnes. É aquela bola de neve, um preço puxando o outro", diz.

(Com Reuters)