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Espartilho promete reduzir cintura; médica nega efeito e aponta riscos

Claudia Varella

Colaboração para o UOL, em São Paulo

10/02/2018 04h00

A Madame Sher Corsets, em São Paulo, produz corsets (espécie de espartilho) que prometem afinar a cintura em até 20 cm em um ano, com uso diário. Ouvida pelo UOL, médica da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia nega essa possibilidade e aponta riscos, como prejuízo à respiração, dor nas costas e varizes.

A prática do uso diário de corset com o objetivo de reduzir medidas de forma permanente é conhecida como “waist training” (treino de cintura).

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A empresária e estilista Leandra Rios, 36, a Sher, dona da grife, diz que a redução abdominal varia de acordo com o manequim.

“Num plus size, é possível alcançar até 20 cm de redução da cintura por ano, com uso diário de corsets elásticos (peças híbridas entre cinta modeladora e corset). Em manequins menores, as reduções não passam de 10 cm por ano”, relata.

Segundo ela, os corsets estimulam maior consciência corporal, forçando o corpo a uma postura ereta. “Eles são mais eficientes que cintas na redução local do tecido adiposo”, declara.

Sher diz, porém, que não há estudos no Brasil que comprovem cientificamente a redução de medidas com o uso de corsets. “Contamos com milhares de depoimentos (antes e depois) de clientes", diz.

A médica Cintia Cercato, 44, diretora do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, afirma, no entanto, que nenhuma cinta modeladora, corset ou espartilho é capaz de fazer a pessoa perder peso ou reduzir cintura de forma permanente.

O que faz reduzir cintura é perder peso com base em dieta alimentar e atividade física. Do ponto de vista médico, é a redução de gordura e do tecido adiposo que leva à redução de medidas. Uma cinta pode até modelar a cintura da mulher, mas somente enquanto ela usar esta peça de vestuário.

Cintia Cercato, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia

A médica afirma que cintas, corsets ou espartilhos muito apertados podem limitar a expansão do pulmão e prejudicar a respiração.

“Podem também aumentar a pressão no abdômen, prejudicando o retorno venoso e assim aumentando o risco de varizes e inchaço nas pernas. Além disso, a mulher deixa de trabalhar os músculos da coluna (paravertebrais) e pode ter dor nas costas e problemas posturais”, relata.

Corsets custam a partir de R$ 410

Além dos corsets elásticos (para uso por baixo da roupa), a Madame Sher Corsets produz corsets tradicionais, que são usados como peças de moda e que, ajustados ao corpo, servem para afinar a cintura no momento do uso.

Segundo Sher, os corsets têm a base interna feita em fibras naturais, como algodão, e a sustentação, com barbatanas metálicas resistentes a ferrugem.

A peça mais barata é um corset elástico, que custa a partir de R$ 410. Já o corset modelo Ursula Thiess (exclusivo para noivas) sai por R$ 4.500. A empresa já fez, no entanto, peças que ultrapassaram R$ 10 mil, para noivas e celebridades.

Todo o processo de modelagem e confecção da peça pode durar de dois a sete dias. A base da peça é costurada à máquina, e os detalhes são trabalhados à mão.

Para que o corset seja confortável, a peça precisa respeitar a anatomia do corpo de cada uma.

Leandra Rios, a Sher, dona da Madame Sher Corsets

Sher diz que a empresa evita trabalhar com coleções sazonais e tendências de moda. “A maioria dos modelos é pensada para ser atemporal”, relata.

A empresa tem 20 funcionários. A informação sobre quantidade de peças vendidas por mês é confidencial, diz Sher.

Abertura da primeira loja

Em dezembro de 2017, a Madame Sher Corsets abriu sua primeira loja física, na Vila Mariana (zona sul de São Paulo). O investimento foi de R$ 200 mil.

São peças em formatos diversos para pronta-entrega e também sob medida. As vendas eram realizadas somente pelo e-commerce e no próprio ateliê. A loja foi aberta junto ao ateliê.

“No ateliê o atendimento acontecia apenas com hora marcada, o que era incompatível com o perfil da crescente clientela em busca de peças prontas para uso”, relata Sher.

Para abrir a empresa em 2004, Leandra diz não ter feito investimento inicial. “No início eu me propunha a fazer peças quase a preço de custo para clientes que comprassem os materiais necessários”, declara.

O faturamento e o lucro do ano passado não foram revelados.

Empresa deve evitar confusão dos produtos

Taís Remunhão, 41, especialista em processos e produtos têxteis, professora da Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo, e CEO da Têxteis & Tais (plataforma colaborativa de moda), diz que o corset faz parte da história da moda feminina nos últimos 200 anos.

A proposta da Madame Sher Corsets é bastante interessante, por focar num produto único e atemporal, num mercado onde todos fazem um pouco de tudo para seguir as tendências da moda.

Taís Remunhão, especialista em processos e produtos têxteis

Para ela, esse foco da empresa traz um conhecimento aprofundado do seu público, que é bem específico.

A especialista, no entanto, diz que a empresa deve ficar atenta para que seu produto não seja confundido com cintas modeladoras comuns.

“Os corsets envolvem investimento em matérias-primas nobres, como cetim e Jacquard, e aviamentos específicos. Já as cintas modeladoras comuns são feitas com tecidos próprios do universo fitness, como poliéster e poliamida. São tecidos sintéticos e resistentes”.Onde encontrar:

Madame Sher Corsets - https://www.madamesher.com/store/

Ring girl Jhenny Andrade mostra que afina a cintura com bambolê

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