Há 40 anos, ex-garçom salvou o tradicional bauru do Ponto Chic da extinção
Quando soube que o dono do Ponto Chic, em São Paulo, estava encerrando a operação, Antônio Alves de Souza, 88, não pensou duas vezes: comprou a marca em 1978. Ele havia sido garçom no local nos anos 1950. Talvez, se não fosse ele, o bauru, tradicional sanduíche paulistano criado no local em 1937, poderia ter desaparecido.
Nesses 40 anos, Antônio está à frente do negócio, ao lado do filho José Carlos, 68, e agora de seu neto Rodrigo, 39.
Inaugurado em 1922, o Ponto Chic é famoso por ter criado em 1937 o sanduíche bauru (fatias de rosbife, tomate, pepino em conserva e quatro tipos de queijos fundidos em banho-maria, dentro do pão francês), por sugestão do cliente Casimiro Pinto Neto, que tinha o apelido de Bauru, cidade onde nasceu.
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O Ponto Chic tem hoje três unidades em funcionamento: no Largo do Paissandu (região central de São Paulo), Perdizes (zona oeste) e Paraíso (zona sul). A unidade de Moema (zona sul) foi fechada em 2006.
O sanduíche bauru é o principal produto da empresa. Por mês, são vendidas 12 mil unidades, ao preço de R$ 26,90. Rodrigo não revela o faturamento da empresa no ano passado. O lucro, segundo ele, foi de 8%.
Mudança de endereço e volta ao ponto original
Assim que comprou a marca do fundador Odílio Cecchini, em 1978, Antônio reabriu o restaurante num novo endereço: em Perdizes, com 40 funcionários, entre eles cinco do antigo Ponto Chic. Antônio levou também seu filho José Carlos para ajudá-lo no restaurante. De acordo com estimativa da família, o investimento no novo negócio foi da ordem de R$ 600 mil, além dos 26 mil cruzeiros pagos pela marca.
Três anos depois, o Ponto Chic voltou para seu endereço tradicional: o mesmo casarão no Largo do Paissandu. Mas Antônio manteve aberta a unidade em Perdizes e abriu mais duas (Paraíso e Moema).
Entre as mudanças que implementou, ele colocou pratos no cardápio --até então, o Ponto Chic só vendia lanches e o mexidinho (à base de presunto picado e dourado na manteiga, ovo e queijo).
Desde 2011, com a entrada de Rodrigo no negócio, a gestão da empresa é compartilhada pelos três: pai, filho e neto. Rodrigo disse que dois sobrinhos adolescentes já ajudam esporadicamente em pequenos afazeres nos restaurantes. “É uma forma de mostrar para eles que o trabalho é algo positivo”, declarou.
“A expansão da marca só foi possível com uma boa gestão financeira, expandindo o cardápio e ajustando os preços. É importante ter uma gestão racional e com foco no cliente. Ter uma boa equipe é essencial, pois são eles que fazem a diferença”, afirmou Rodrigo.
Mesada virou salário, diz neto do dono
Rodrigo começou a trabalhar no restaurante quando ainda era adolescente. “Aos 14 anos eu ganhei uma carteira de trabalho de presente do meu pai. A mesada virou salário. Trabalhava meio período e durante as férias. Comecei a participar das compras, negociar, lidar com dinheiro e entender o funcionamento da empresa.”
Ele disse ter se preparado para assumir o negócio da família. “Aos 21 anos, tive de decidir se seria um herdeiro ou um sucessor. O herdeiro recebe o patrimônio. Já o sucessor faz a gestão, mas é preciso se preparar tecnicamente para o mercado e entender a empresa. Não basta ser o filho do dono. O olhar tem que ser profissional”, declarou.
Para ele, a longevidade do Ponto Chic pode ser explicado por três fatores: tradição, consolidação da marca e o bauru. “O meu negócio é tradição. Espero que o cliente venha comer no Ponto Chic e tenha uma experiência. Que essa ida se torne algo memorável. E é a tradição que me proporciona essa mágica”, disse.
Os funcionários fazem parte do sucesso da empresa, pois estão “frente a frente com o cliente”, afirmou. “É importante ter esses funcionários mais velhos, pois são o espelho dessa tradição”, disse. A empresa tem hoje 130 funcionários, com idade média de 47 anos, segundo ele.
Bauru e tradição agregam valor à marca, diz consultor
Ao explorar a história do Ponto Chic e de seu principal produto, o bauru, a empresa oferece um diferencial ao consumidor, segundo Henrique Romão, 34, consultor do Sebrae-SP.
“Por agregar valor à sua marca, com a receita tradicional do lanche e a história longeva da empresa, o Ponto Chic não proporciona somente uma experiência ao seu cliente, mas também um diferencial frente à concorrência. O seu posicionamento no mercado está consolidado”, afirmou.
Para Romão, a gestão do negócio sendo feita pela mesma família há 40 anos tem sido “coerente e adequada”, mas a empresa deve priorizar a gestão de pessoas, para dar credibilidade à tradição. “O bom atendimento é essencial. Por isso, a empresa deve manter funcionários que conheçam a história que está por trás daquela marca e que saibam passar isso aos clientes.”
Explorar o bauru como o principal lanche do Ponto Chic é importante, mas, segundo o consultor, a empresa poderia também explorar outros pratos do cardápio, para sempre atrair a atenção da clientela.
Onde encontrar:
Ponto Chic - http://www.pontochic.com.br/
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