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Manicure sem trabalho, empresa sem luz: eles contam os efeitos da crise

A manicure Priscila Aparecida dos Santos diz não saber o que irá fazer para continuar trabalhando - Arquivo pessoal
A manicure Priscila Aparecida dos Santos diz não saber o que irá fazer para continuar trabalhando Imagem: Arquivo pessoal

Claudia Varella

Colaboração para o UOL, em Sao Paulo

10/04/2020 04h00

Queda nas vendas, unidades fechadas, funcionários impossibilitados de ir trabalhar e até um shopping que foi fechado e desligou a energia elétrica das lojas, obrigando o empreendedor a vender seu estoque de comida às pressas. Essas são algumas dificuldades enfrentadas por MEIs (microempreendedores individuais), empreendedores de pequeno e médio porte e até redes de franquia na quarentena do novo coronavírus.

A manicure Priscila Aparecida dos Santos diz que seu rendimento mensal caiu de R$ 2.300, em média, para no máximo R$ 500 em março, devido à queda dos serviços no salão Mr. Show, no centro de Campinas (SP), onde trabalha. Ela é MEI há um ano e diz não saber o que irá fazer para continuar trabalhando.

"A gente está de mãos atadas. A minha renda sai toda daqui. E a opção de fazer o serviço em domicílio ainda está inviável. Muitas clientes dizem que têm medo de serem atendidas em casa, temendo a contaminação. Até agora não arrumei saída para continuar trabalhando", afirmou Priscila.

No Mr. Show, ela atendida cerca de dez clientes por dia. O movimento foi caindo até que zerou quando o salão teve de ser fechado por determinação do governo estadual.

Restaurante corre para montar delivery

Bruno Tavares, dono do restaurante Muchachela - Divulgação - Divulgação
Bruno Tavares, dono do restaurante Muchachela
Imagem: Divulgação

As fortes chuvas que atingiram a Baixada Santista no início de março obrigaram Bruno Tavares, proprietário do restaurante mexicano Muchachela, em São Vicente (SP), a fechar o negócio por 14 dias. O prejuízo foi de R$ 35 mil, no período fechado. Dias depois de ser reaberto, o local foi fechado de novo.

"Somos uma empresa pequena, com três funcionários. Não tínhamos delivery porque o salão, mesmo pequeno, estava sempre cheio. Mas agora, com essa nova crise, tive que correr para montar um delivery de uma hora para outra e calcular custos", afirmou ele, que abriu o restaurante em 2013.

Tavares diz que não pretende demitir ninguém. "As pessoas que trabalham comigo têm família, filhos, e a gente vai acabar assumindo isso até quando der. Vamos entrar no cheque especial, pegar empréstimo e tentar nos adaptar, mas vai ser muito difícil", disse.

Loja sem energia elétrica

A crise atinge também redes de restaurantes. Camila Miglhorini, fundadora e CEO do Mr. Fit, diz que está ajudando seus franqueados com dificuldades. A rede tem 134 unidades, entre próprias e franquias, em 17 estados.

Segundo ela, a rede está focando no delivery, mas não é todo franqueado que consegue trabalhar com entregas em domicílio. A unidade de João Pessoa (PB) está com problemas no deslocamento depois que a prefeitura suspendeu o transporte coletivo.

Outro problema, diz ela, ocorreu em um shopping do Rio de Janeiro, que desligou a energia elétrica das lojas. "Imagina a gente tentando retirar, às pressas, os produtos perecíveis para não estragar. A rede ajudou o dono da franquia a vender seus produtos para outro franqueado que, por não estar em shopping, vai conseguir funcionar com delivery", afirmou. Pressionado pelos lojistas, o shopping religou a energia das lojas no dia seguinte.

Camila diz que, no início de março, a rede teve queda de 90% das vendas entre balcão e delivery. Mas, devido ao reforço no delivery, as vendas voltaram a aumentar nos últimos dias. Isentar os franqueados de pagar royalties (5% sobre o faturamento por mês) e negociar o aluguel dos imóveis dentro de shoppings são algumas medidas que a Mr. Fit está adotando. "Em cidades pequenas, a negociação do aluguel do imóvel é mais difícil, pois o proprietário depende daquela renda."

Delivery enfrenta problema, diz empresário

Na rede Espetto Carioca, a redução das vendas já é de mais de 70%, segundo Bruno Gorodicht, diretor e sócio da empresa. A rede, com mais de 30 sabores de espetinhos, tem 32 unidades. Neste período de crise, 20% estão abrindo para delivery e mais 50% vão adotar a mesma linha.

Segundo ele, mesmo o delivery tem enfrentado problemas. "O delivery está sofrendo retração entre 5% e 10%, porque os clientes não têm gasto tanto comprando comida fora, temendo a recessão econômica. Além disso, o número de players que entraram no delivery aumentou, dividindo ainda mais a fatia", afirmou.

Gorodicht diz que, "na medida do possível", não é para demitir. "Mas demissões em casos de contratos de trabalho temporários serão inevitáveis. O nosso desafio é manter os funcionários e o fluxo de caixa."

Rede de depilação quer manter "plano de assinatura"

A rede Pello Menos, de depilação, parou completamente. Todas as 50 unidades estão fechadas, e o faturamento estará praticamente zerado, segundo Regina Jordão, fundadora e CEO da empresa.

"Sabemos que nesse momento estética não é prioridade das pessoas, e oferecer os nossos serviços em domicílio está, por ora, fora de cogitação. Então, estamos estudando medidas para minimizar o impacto desta crise", declarou Regina.

Uma das medidas é tentar manter as clientes que têm plano de assinatura, pagos mensalmente via cartão de crédito. A rede atende cerca de 80 mil clientes por mês, mas não divulgou quantos têm plano de assinatura.

"Estamos com uma equipe interna de plantão, inclusive eu, para responder a emails dessas clientes que têm dúvidas. Cada caso é um caso, mas no geral tentamos convencê-las a manter os planos e usar os serviços futuramente", afirmou Regina.

A rede também está negociando prazo de pagamento com fornecedores, orientando os franqueados a cortar despesas e adiar o pagamento do Simples Nacional, entre outras medidas. "Queremos que o franqueado tenha um respiro e não fique no vermelho. E fazendo o possível para não ter demissões."

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