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Ela cursou medicina com ajuda da venda de brigadeiro e quer atingir R$ 1 mi

A então estudante de medicina Andrezza Guerra se bancou enquanto cursava medicina vendendo brigadeiros - Luciana Cavalcante
A então estudante de medicina Andrezza Guerra se bancou enquanto cursava medicina vendendo brigadeiros Imagem: Luciana Cavalcante

Luciana Cavalcante

Colaboração para o UOL, em Belém

13/09/2021 04h00

Cinquenta reais. Foi quanto a então estudante de medicina Andrezza Guerra, 26 anos, investiu para começar a vender brigadeiros em 2015. O dinheiro era para se manter na cidade onde estudava, Belém, e pagar os materiais do curso. Seis anos depois, já formada, ela se divide entre os plantões e a doceria, que virou negócio de família e não para de crescer.

Hoje o negócio de brigadeiros já rende R$ 400 mil em receita bruta por ano. O cardápio foi diversificado e ela já alugou até um ponto para transferir a fábrica, de sua casa para uma cozinha profissional. Lá serão produzidos centenas de bolos e doces, até para grandes eventos. "A meta agora é chegar ao meu primeiro milhão", declara a empreendedora.

"Muita gente achava que eu ia parar com a doceria quando me formasse, mas agora quero conquistar outras coisas, estudar, seguir com a medicina e com a doceria. Minha meta hoje está muito acima."

Empreender é de família

Andrezza Guerra ampliou o negócio com a família: a mãe Gilzelia Guerra e o pai, Rildo Guerra - Divulgação - Divulgação
Andrezza Guerra ampliou o negócio com a família: a mãe Gilzelia Guerra e o pai, Rildo Guerra
Imagem: Divulgação

A história da maranhense Andrezza no empreendedorismo começou na família, que tinha uma oficina de máquinas de pequeno porte, em Imperatriz, MA. "Tive um verdadeiro estágio com meus pais, que sempre criaram e inovaram muito. Sempre nos incentivaram a trabalhar. Ficava no caixa (da empresa) desde cedo", diz.

Quando o negócio da família faliu, há seis anos, ela se inspirou nesse espírito empreendedor. Na época, ela estava entrando no segundo ano de uma faculdade particular de medicina, em Belém, onde mora desde então.

Foi quando teve a ideia de vender brigadeiros para pagar as contas. Para isso, contou com a ajuda de duas amigas. Os doces eram vendidos, em média, a R$ 2, o que lhe rendia R$ 4.000 ao mês, valor que cobria integralmente suas despesas.

Para inovar nas receitas, Andrezza recorreu à internet em busca de inspiração. "A gente não queria fazer brigadeiro comum que todo mundo fazia. Começamos a fazer de todo tipo (com biscoito Oreo, Passatempo, até Ninho com Nutella)."

A novidade fez tanto sucesso que alunos de outras turmas e professores começaram a procurá-la. "Do nada, meu celular tinha mensagem pedindo. Então, comecei a fazer bolo no pote e vender na cantina e depois, centenas de brigadeiros para eventos. Ficamos uns dois anos assim."

Nem a rotina puxada do curso de medicina, que ocupava o dia inteiro, fez com que Andreza desistisse de empreender. Ela comprava os ingredientes no intervalo das aulas e produzia os doces na madrugada.

Carrinho é marca registrada

A venda dos doces não só ajudou Andrezza a pagar o restante da faculdade, como o trabalho se transformou na fonte de renda da família. Em 2017, ela decidiu se tornar MEI e abriu a Villa Doce, trabalhando somente com entregas, via aplicativos e redes sociais. Os pais vieram morar em Belém e passaram a ajudar no negócio.

Boa parte das vendas é feita mesmo no carrinho de bolos projetado pelo pai da jovem, que tem público cativo em uma das praças mais movimentadas do centro de Belém. "Adaptei um carrinho que usamos para venda de açaí em Imperatriz", diz Rildo Guerra.

No carrinho, há até um produto exclusivo da marca: a fatia de bolo recheada na hora, vendida a R$ 14. São oito opções de recheios, como chocolate, morango, leite, limão e uva.

Há ainda brownies, potes de bolo personalizados e temáticos e doces e bolos para todo tipo de evento, desde aniversários até casamentos e formaturas.

Família investiu e se qualificou

Quando Andrezza começou o negócio, a produção era feita na cozinha do próprio apartamento, num espaço de 36 m². Em 2019, foi preciso mudar para um apartamento maior, cuja cozinha tem o dobro do tamanho. A nova fase também gerou empregos temporários. Uma equipe de oito assistentes se reveza em diárias, quando há necessidade.

As mudanças deixaram a doceria com mais cara de empresa, com divisão de tarefas entre Andrezza e os pais, o que melhorou o fluxo de trabalho do negócio. "Andrezza ficou com toda a parte de criação, fotografia e Instagram; a mãe com a produção e toda sua administração e eu, com as compras, embalagens e entregas", afirma o pai.

Para Rildo, esse foi um divisor de águas na profissionalização do serviço. "A partir desse dia houve melhora, com cada pessoa com a sua responsabilidade, com objetivo de fazer a pontualidade nas entregas e também o conceito do paladar".

Para dar conta de toda a demanda, a mãe, Gilzelia Guerra, precisou se qualificar. "Eu costumava fazer bolo em casa, mas não tinha segurança de fazer para eventos, por isso recorri a cursos de confeitaria online e presencial, além de muita pesquisa na internet", afirma.

A empreendedora montou até um mini estúdio fotográfico na sala de casa para fazer as fotos dos produtos para as redes sociais. Para equipar a nova área de produção, o pai dela recorreu a um empréstimo de R$ 7.500, que já foi quitado.

O negócio cresceu tanto, que este ano a família está em processo de abertura de uma microempresa e de transferência da cozinha para um ponto alugado. "Minha ideia é começar com a fábrica e colocar o carrinho na porta. Depois quero abrir o espaço para o público", diz Andrezza Guerra.

Alimentação cresceu no Pará

A alimentação está entre as atividades do setor de serviços que mais cresceram no Pará. De acordo com o Sebrae, foram abertas 9.318 pequenas empresas deste segmento no estado entre junho de 2020 e fevereiro de 2021. A maioria (7.253) é MEI. A atividade fica atrás apenas de cabeleireiros e manicures, com 12.778 novos negócios.

O analista técnico da unidade de relacionamento com cliente do Sebrae/PA, Allonny Faria, explica que a maior parte dos empreendedores investe em hamburguerias, fast foods e docerias..

E essa atividade é uma das mais procuradas para quem quer abrir um negócio, porque o empreendedor começa com o que tem, geralmente sem grandes investimentos, fazendo algo que sabe, assim como Andrezza. "Conforme vão tendo rentabilidade, vão investindo, estruturando, criando a marca, redes sociais e estratégias para se firmar no mercado frente à competitividade", diz o analista do Sebrae.

Allonny avalia que Andrezza escolheu o caminho certo, que a levou da venda de brigadeiros na faculdade à sonhada empresa. "A Andrezza fez o ciclo de empreendedorismo de teste. Começa testando na faculdade, depois vai escalando o negócio à medida que a empresa vai crescendo e o mercado vai trazendo novas possibilidades."

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Errata: este conteúdo foi atualizado
Uma versão anterior deste texto informava incorretamente, no título, que Andrezza Guerra pagou a faculdade de medicina vendendo brigadeiros. Na verdade, o dinheiro foi usado para ela se bancar durante o curso, mas não nas mensalidades. O erro havia sido destacado na Home-page do UOL. A informação foi corrigida. Além disso, o negócio gera R$ 400 mil em receita bruta, não líquida, como informado anteriormente. A informação foi corrigida.