IPCA
0,83 Mar.2024
Topo

Ela reformou casa para ensinar comunidade a fazer e vender bolo no pote

Miriam Reis (sem máscara) e suas alunas no curso de culinária, em Praia Grande (SP) - Reprodução
Miriam Reis (sem máscara) e suas alunas no curso de culinária, em Praia Grande (SP) Imagem: Reprodução

Maurício Businari

Colaboração para o UOL, em Santos (SP)

01/10/2021 04h00

Com a ajuda de amigos e clientes, a confeiteira Miriam Reis, 43, transformou a casa em que morava com o marido e os filhos, em Praia Grande (SP), em uma escola de culinária, onde ensina homens e mulheres das comunidades a fazer bolos e doces para ter renda na pandemia.

Baiana de Ruilândia, um pequeno povoado da cidade de Euclides da Cunha, ela se mudou para São Paulo com a família quando tinha 14 anos. Morando desde 2013 no litoral, ela ajudava o marido a cuidar de uma oficina de conserto de peças para máquinas. Mas o negócio não deu certo, e ela teve que encontrar outra solução para a sobrevivência da família.

"Nós passamos um período muito difícil. Não tínhamos dinheiro para nada. Um dia, pensando no meu pai, que era padeiro, surgiu a ideia de fazer bolos para vender. Eu só tinha R$ 20 no bolso e, mesmo assim, não desanimei", diz.

Com o dinheiro, Miriam comprou ingredientes para fazer uma receita de bolo caseiro, o "bolo vulcão". Na época, ela só tinha duas assadeiras em casa e quase nenhum equipamento. Conseguiu vender todos os pedaços e, ao final do dia, estava com R$ 300 no bolso.

"A partir daí, não parei mais. Comecei a fazer cursos online, pesquisei, estudei, testei. Passei a fazer bolos para eventos e festas. Quando vi, já tínhamos quitado as prestações da nossa casa, trocado de carro e comprado equipamentos", afirma.

Miriam chegou a abrir em 2019 uma loja física, que levava o seu nome, a "Miriam Bolos". Em seis meses, tinha cinco funcionários para dar conta dos mais de 400 bolos de pote que vendia por semana, sem falar nos bolos decorados e encomendas especiais. Com a pandemia, porém, a loja acabou fechando, mas ela continuou produzindo em casa e vendendo online.

Depois de ouvir muitas histórias de famílias passando necessidade, tive a ideia de montar a escola para ajudar. Eu pensava que, se eu consegui empreender, outras pessoas também conseguiriam.
Miriam Reis, confeiteira, de Praia Grande (SP)

Reforma com materiais doados e mão de obra voluntária

Miriam então alugou outra casa para viver com a família e iniciou a montagem da pequena escola no imóvel do Jardim Samambaia. Integrou a sala à cozinha, para ampliar o espaço. A reforma foi feita com doações de materiais e mão de obra voluntária de amigos e clientes.

Miriam Reis (à direita) dá aulas de culinária em sua própria cozinha, em Praia Grande (SP) - Reprodução - Reprodução
Miriam Reis (à direita) dá aulas de culinária em sua própria cozinha, em Praia Grande (SP)
Imagem: Reprodução

Recém-inaugurada, a escola tem turmas à tarde e à noite. Nesta primeira fase, às segundas, quartas e sextas, os alunos aprendem a fazer bolos no pote. Às terças e quintas, bolos caseiros.

Para custear o material utilizado nas aulas, ela cobra uma taxa de inscrição de R$ 50 por curso, que tem duração de três dias, com direito a certificado. Mas quem não pode pagar contribui doando ingredientes. A ideia de Miriam é conseguir parcerias para tornar os cursos 100% gratuitos.

A confeiteira também como cobrar, divulgar e obter lucro.

O investimento para uma receita de 30 bolos de pote de chocolate, por exemplo, é de pouco mais de R$ 80. O preço mínimo por unidade, para a venda, é de R$ 6,50. O que representa um lucro de cerca de R$ 115.

Alunas veem chance de empreender

Uma das alunas é a pensionista Marlene Monteiro da Silva, 59, uma das primeiras alunas a fazer o curso de bolo de pote. Ela diz que a pensão de R$ 1.300 já não é suficiente para que ela arque com as despesas mensais da casa onde mora, no Jardim Esmeralda.

Montei na garagem de casa um pequeno comércio de pastéis e lanches caseiros, que funciona à noite. Mas agora, aprendendo a fazer os bolos, quero abrir também durante o dia.
Marlene Monteiro da Silva, 59, pensionista

Moradora da Vila Sônia, Eliane Ramos do Nascimento, 36, contou que ela, o marido e os filhos retornaram este ano a Praia Grande, após morar por 11 anos no interior de São Paulo. Eles se mudaram depois que o marido de Eliane perdeu o emprego em uma rede de supermercados. Quando soube do curso, vislumbrou uma possibilidade de empreender e ajudar no orçamento familiar.

"Essa ideia da escola comunitária, para ajudar as pessoas, foi uma porta que se abriu. Assim que tiver o conhecimento necessário e me sentir segura, vou começar o meu próprio negócio. O investimento é baixo, e a possibilidade de lucro acima da média me animou muito", diz.