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Casal quer vender bolo de pote na estrada para pagar viagem ao Alasca

Bruno Santana e Letícia Pereira apostam nas vendas de bolo de pote para custear viagem de motorhome até o Alasca - Reprodução/Instagram/@casalnadanormall
Bruno Santana e Letícia Pereira apostam nas vendas de bolo de pote para custear viagem de motorhome até o Alasca Imagem: Reprodução/Instagram/@casalnadanormall

Luciana Cavalcante

Colaboração para o UOL

04/07/2022 04h00

O bolo de pote é a aposta do casal de namorados brasilienses Bruno Santana, 30, e Letícia Pereira, 21, para realizar o sonho de viajar pelo mundo de motorhome. Eles investiram no negócio para custear a reforma de um micro-ônibus e vão oferecer o produto na estrada para bancar os custos da viagem.

O destino escolhido foi o Alasca, e a viagem deve durar cerca de cinco anos,. O percurso total tem mais de 100 mil quilômetros. Pelos cálculos dos viajantes, o custo da aventura pode chegar a quase R$ 500 mil. Mas será que o investimento é viável? Um especialista analisou o caso a pedido do UOL.

Bruno Santana afirma que o destino foi escolhido como um desafio para o casal, que faz a viagem pela primeira vez. "Queríamos um desafio, e escolhemos a rota pan-americana."

A rodovia pan-americana corta o continente americano de Norte a Sul, indo da cidade de Fairbanks, Alasca (EUA) a Quellón, no Chile.

O projeto começou em janeiro deste ano e a ideia dos empreendedores, que estão juntos há oito meses, é seguir viagem a partir de agosto. O casal começou vendendo bolo de pote e copo da felicidade — sobremesa em camadas com diferentes recheios — em bares e restaurantes de Brasília e arredores. Já passaram pelo Plano Piloto, Asa Norte, Águas Claras e Taguatinga.

Letícia teve dificuldades no começo, porque não tinha experiência no ramo. "Eu não sabia nem fritar ovo. Ele (Bruno) me ajudou bastante. Hoje em dia eu tomo conta da cozinha, e ele me ajuda", afirma.

Por dia, são pelo menos cem unidades vendidas. O bolo de pote custa R$ 10 e, o copo da felicidade, R$ 15. O primeiro é oferecido em mais de dez sabores, como ninho, ninho com brigadeiro, brigadeiro com café, paçoca e ninho com limão. Quem preferir o copo da felicidade vai comer um brigadeiro de panela com brownie, creme de ninho, bolo e cobertura de confeito.

Segundo Bruno, o negócio tem clientela fiel em Brasília e faz sucesso por onde passa. "Saímos sempre de quinta a domingo e conseguimos vender tudo. Nossos bolos têm boa aceitação. Até porque, se o cliente não gostar, devolvemos o dinheiro e até hoje ninguém reclamou", revela Bruno.

Para divulgar o projeto eles criaram um perfil no Instagram onde os seguidores acompanham a empreitada, desde a confecção dos doces até a reforma do micro-ônibus.

O veículo foi negociado com um amigo que soube da intenção do casal. "Trocamos pelo nosso carro e demos mais R$ 4.000 e agora estamos trabalhando para custear a reforma e adaptação".

Bruno diz que a adaptação do micro-ônibus será diferente de um motorhome comum, usado somente para moradia. Nesse caso, a cozinha ocupará um espaço maior. "É uma transformação completa porque vamos ter banheiro, quarto. Mas a cozinha vai ocupar a maior parte, pois precisamos de uma semi-industrial, um fogão de quatro bocas e uma mesa de manipulação para trabalhar".

A estimativa do empreendedor é que o custo desses ajustes chegue a R$ 60 mil, sendo que o total necessário para a viagem pode chegar a R$ 500 mil. Pelos cálculos do empreendedor, serão necessários R$ 8.000 por mês para as despesas do casal nos cinco anos de viagem, sendo três anos na ida e dois na volta. Assim, o total de gastos anuais pode ser de quase R$ 100 mil.

"Além da nossa subsistência, entram ainda os custos com combustível, manutenção do veículo, inclusive com situações que possam aparecer no caminho como o pagamento de áreas de camping, adaptação do veículo para algum trecho diferenciado do percurso. Como é uma viagem muito longa, colocamos uma variável entre 30% e 40% a mais, em caso de imprevistos".

Risco do negócio e planejamento

O consultor de negócios do Sebrae SP Felipe Chiconato avalia que o negócio do casal Bruno e Letícia é arriscado e vai depender muito do perfil e da disposição deles.

O êxito do projeto, segundo ele, também só é possível com um bom planejamento, já que alguns fatores podem dificultar as vendas. Entre eles, a inflação e um público variável.

O primeiro conselho de Felipe para o casal é condicionar a reforma do veículo à geração de renda que isso pode proporcionar.

"Claro que o investimento é maior para equipar uma cozinha com estrutura para produzir e vender os produtos, mas brinco que gosto de gastar recursos com ferramentas que diminuem o tempo que preciso para algumas atividades. Se isso vai inviabilizar o projeto, vai depender de quantos recursos eles conseguem gerar antes de partirem."

Para o especialista, o fato de o casal ainda não ter conseguido guardar nenhum dinheiro antes da viagem já é um indício que a inflação pode atrapalhar bastante a estratégia, podendo até inviabilizar o projeto.

"O risco econômico é um grande problema. Por isso o roteiro da viagem é fundamental, a logística para que estejam em regiões que possibilitem a venda, bem como a produção. E negócio sem risco não é negócio'.

Ao longo da viagem, os gastos com a matéria-prima e insumos para a produção vão apresentar oscilações. Por isso é preciso estar atento aos fornecedores nas diferentes regiões.

Em meio aos desafios, há uma vantagem na venda do produto em trânsito. "A principal é o fato de ter um custo fixo menor, uma vez que não tem aluguel, energia elétrica e outros custos que uma produção em local fixo teria".

A falta de um público cativo, como o que os empreendedores têm na cidade natal e redondezas também pode dificultar as vendas, mas isso pode ser solucionado com o uso da tecnologia, que deve fazer parte do planejamento do casal de viajantes desde o começo.

"O esforço vai ser maior para convencer a venda, o trabalho deles vai ganhando notoriedade se eles forem contando o dia a dia da viagem, usando as redes sociais para adiantar onde estarão no próximo dia ou semana. Assim já fazem uma sensibilização das pessoas que possam querer apoiar ou conhecer o trabalho", aconselha.

Com relação aos valores cobrados pelos doces, o consultor de negócios faz uma projeção de lucros que deixa o orçamento apertado, mas não inviável.

Segundo ele, se em uma semana o casal vende entre R$ 4.000 e R$ 6.000, sendo que eles terão uma margem média de contribuição (parte do preço que fica para pagar os custos fixos e gerar lucro) de 55% , é possível estimar que eles conseguem gerar um resultado de R$ 2.200 a R$ 3.300 por semana. Ou R$ 8.800 a R$ 13.200 por mês.

"Isso faria com que eles talvez não conseguissem ter extravagâncias na viagem, mas vai depender do perfil deles".