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Sacou R$ 33 mil da poupança e comprou bitcoin, mas valor desabou. E agora?

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Vinicius Pereira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/12/2018 04h00

Puxada pelo bitcoin, a alta das criptomoedas, no final do ano passado, causou uma verdadeira corrida em busca de retornos estratosféricos em um curto período. O problema é que o amor de verão parece ter esfriado, e agora muitos investidores já não sabem o que fazer com tal investimento.

O engenheiro de produção Alexandre Faria, 29, foi um dos que resolveram se arriscar nessa onda de verão. Ele ficou sabendo da novidade por meio de um amigo. Quando viu na internet que os rendimentos passados ultrapassavam os 1.000% até então, resolveu agir rápido. Já no dia seguinte, leu um pouco sobre o bitcoin e abriu uma conta em uma das corretoras que operavam a criptomoeda no país.

Pegou todo o dinheiro da poupança e comprou bitcoin

"Pensei em correr para ainda surfar aquela onda", disse ele. Sem experiência em investimentos de renda variável, sacou R$ 33 mil que estavam na poupança e transferiu para a nova conta a fim de comprar a moeda digital.

O engenheiro, porém, não foi o único a apostar alto na novidade. Os meses finais de 2017 registraram um verdadeiro tsunami em busca das moedas digitais. Nas duas maiores corretoras de criptomoedas do país, a demanda foi insana.

Guto Schiavon, executivo da Foxbit, uma das corretoras que operam no Brasil, disse que, em um dia em dezembro do ano passado, a corretora negociava cerca de R$ 20 milhões. No dia seguinte, o volume passou a R$ 140 milhões.

Número de investidores chegou a crescer cinco vezes

"No boom todo mundo queria comprar, não sabia o que era, mas queria investir. Era todo tipo de pessoa, de diversos níveis de escolaridade, sexo e renda. Todo mundo mesmo queria comprar bitcoin", afirmou ele.

Na Foxbit, por exemplo, o número de clientes saltou de 150 mil para 300 mil em apenas três meses, além de 30 para 53 funcionários (atualmente, são cerca de 400 mil investidores).

A Mercado Bitcoin, outra corretora que negocia criptomoedas, passou de 200 mil clientes para cerca de um milhão nos meses seguintes -número que supera os 766 mil clientes pessoas físicas da B3, a Bolsa de Valores brasileira.

"Havia a questão das novidades das criptomoedas, o que levou muita mídia para elas. Além disso, houve o efeito de crescimento do valor, que acaba fazendo com que novas pessoas entrem atrás de dinheiro fácil", disse Caio Villares, empresário do setor e ex-presidente da Ancord (Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias).

O problema é que, como toda onda e os perigos do mar, a maré virou, muita gente amargou prejuízos e agora não sabe se vai ter de morrer abraçada ao investimento. A cotação do bitcoin, que atingiu US$ 19.343 a unidade em dezembro do ano passado, agora enfrenta seguidas baixas. Nesta semana, chegou ao menor valor em 2018, cotada a US$ 4.393.

Assim, quem comprou em alta, viu o dinheiro se desvalorizar sem entender muito bem os motivos. "Comprei ainda em novembro e fui deixando. No começo, ele ainda continuou a valorizar, mas logo começou a cair", afirmou Faria. "Agora, o investimento desvalorizou tanto que não sei se amargo o prejuízo ou se deixo lá."

Ainda é viável?

Agora, a grande questão para quem comprou na alta, é o que fazer com tal investimento. Os especialistas ouvidos pelo UOL afirmam que a queda nos preços das criptomoedas pode ser considerada normal após altas expressivas. Mas levantam dúvidas sobre a possibilidade e o período para o retorno aos patamares de 2017.

Ao mesmo tempo, dizem que o ativo não irá sumir ou derreter.

"A atual correção ocorre porque a alta do ano passado foi muita expressiva. Não se tem notícia de ativos de uma alta tão elevada, em mais de dez vezes, e que consigam se manter nesse patamar por muito tempo", disse Fernando Ulrich, analista-chefe da XDEX, corretora de criptomoedas.

"Mas, se colocarmos na régua de dois anos, de um prazo maior, o resultado é mais positivo. Então vai depender do período analisado e do objetivo de cada um."

Decisão depende do perfil do investidor

Segundo ele, qualquer decisão deve ser pensada e tomada de forma individual, de acordo com o perfil do investidor e com a necessidade do dinheiro. Para Ulrich, o conselho de investimento em criptomoedas segue o mesmo padrão dos demais: planejamento e conhecimento.

"Vimos gente sem a menor ideia do que era, dos riscos associados entrando pelo efeito manada, e muita gente acabou se machucando", disse o analista. "O mesmo conselho vale para todos os investimentos: saber onde você está colocando seu dinheiro. Não é bilhete de loteria, [mas] saber que isso é parte de estratégia de investimento como um todo", afirmou.

Para Schiavon, executivo da Foxbit, o momento é ideal para o investidor se preparar. "Agora, com menos marketing, é uma boa hora para estudar. Além disso, é analisar o retrospecto. O bitcoin é cíclico, o ano é muito semelhante a 2014, em que ele caiu durante uns dois anos. Voltou a subir só no ano passado. Você tem picos que vêm e vão no mercado de renda variável", declarou.

Não à toa, as maiores corretoras de criptomoedas do país passaram a oferecer cursos aos interessados nesse tipo de investimento. "O perfil do investidor já mudou. Hoje, são pessoas muito mais bem preparadas do que no boom de um ano atrás", disse Schiavon.

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