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Qual o melhor investimento da década? Ouro lidera; Bolsa perde da inflação

Getty Images/iStockphoto/3dts
Imagem: Getty Images/iStockphoto/3dts

João José Oliveira

do UOL, em São Paulo

24/12/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Década foi de incertezas e instabilidade pelo mundo afora
  • Ouro subiu mais de 200% em dez anos e lidera lista de investimentos no Brasil
  • Ibovespa perde até da inflação e fica em último lugar, puxada por desempenho ruim até 2015
  • Juros altos no Brasil favoreceram investimentos em renda fixa; CDI subiu mais de 150% em dez anos
  • Bolsa tem cenário mais promissor para próxima década, dizem profissionais de mercado

Ainda faltam alguns dias para o mercado financeiro encerrar a década de 2010, mas já é possível apontar vencedores e perdedores entre os investimentos no Brasil. O ouro liderou o ranking dos bens mais tradicionais que são usados como referência para aplicações. O Ibovespa, índice de ações mais usado na Bolsa, tão em alta em 2019, aparece em último lugar no ranking da década, perdendo até da inflação.

"O ouro é uma coisa que as pessoas procuram em períodos de incertezas e insegurança", disse Einar Rivera, gerente de Relacionamento Institucional da empresa de informações financeiras Economatica, que fez o levantamento a pedido do UOL. Ele destaca que nesta década tivemos muita instabilidade no mercado.

O período do levantamento vai de 31 de dezembro de 2009 a 30 de novembro de 2019. Mesmo com um mês de negociações a ser contabilizado, a vantagem do ouro em relação às demais aplicações é ampla o suficiente para garantir o pódio ao metal. Com 234% de rendimento no período, o ouro supera com vantagem o CDI, ativo que serve de referência para os investimentos em renda fixa, como fundos de renda fixa, CDBs e poupança.

Década de incertezas pelo mundo afora

Os administradores de recursos dizem que os últimos dez anos foram marcados por mudanças no mundo que levaram os investidores a buscar proteção: eleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos, a decisão do Reino Unido de sair da União Europeia, a desaceleração da economia chinesa.

Além disso, a década começou depois de um grande baque: a crise dos títulos imobiliários nos Estados Unidos, em 2008, que quebrou bancos e grandes empresas em todo o planeta e provocou recessão nas principais economias do mundo.

O Brasil pode não ter sofrido tanto na crise de 2008, mas começou a década com a Selic [taxa básica de juros do país] muito elevada. O governo tentou reduzir essa taxa de forma forçada, o que não deu certo e acabou afetando o mercado de capitais.
Gabriela Mosmann, analista de investimentos da Suno Research

Juros altos ajudaram renda fixa no Brasil

Isso explica por que o CDI encerra a década com uma variação de 153,46%, apesar de os juros estarem hoje em patamares historicamente baixos, em 4,5% ao ano.

A taxa básica de juros no Brasil começou a década em 8,75%, depois chegou a 14,25% em 2015, antes de começar a cair. Isso beneficiou as aplicações em renda fixa e atrapalhou a Bolsa durante meia década.

O CDI é como aquele maratonista chato, devagar e constante, que sempre acaba ultrapassando o velocista.
Rodrigo Franchini, consultor financeiro e sócio da Monte Bravo

Empurrada pelo CDI, fundos de renda fixa e até a poupança conseguiram bater o Ibovespa com alguma folga nessa década.

Bolsa em baixa por meia década

Nessa maratona da década, a Bolsa ficou mesmo sem fôlego na primeira metade da prova. Entre 2010 e 2015, o Ibovespa teve quatro anos de baixa, incluindo as perdas de -18,11% em 2011, -15,50% em 2013 e -13,31% em 2015.

A Bolsa teve um vale entre 2010 e 2015, que comprometeu o desempenho na década.
Sandra Blanco, consultora de investimentos da Órama

Com variação de 57,80% acumulada até 30 de novembro, o Ibovespa perde até da inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que acumulou 74,30%.

Agora é a vez da Bolsa?

Profissionais de mercado dizem que a década que começa no próximo 1º de janeiro traça um cenário mais promissor para a Bolsa. Com juros em recorde de baixa, inflação controlada e economia em retomada, a expectativa é que as ações e outros investimentos relacionados às empresas —como debêntures— liderem os rankings de rendimento no Brasil.

Agora, temos uma redução da taxa de juros de forma mais sustentável. As pessoas têm mais motivos para empreender e investir, o que estimula o mercado de capitais. Por isso, temos a perspectiva de que o mercado de capitais vai se desenvolver.
Gabriela Mosmann, da Suno Research

De fato, depois das perdas até 2015, o Ibovespa emendou quatro anos de ganhos, batendo a cada ano, com margem, as taxas do CDI. Os investimentos em renda fixa, como fundos que aplicam em títulos do governo, além dos próprios títulos do Tesouro Direto e da poupança, estão rendendo menos que a inflação.

"Temos um cenário bastante positivo. Estamos em um caminho que mostra que estamos numa realidade diferente", afirmou Sandra Blanco, da Órama.

Como montar sua carteira de investimentos

A consultora da Órama repete um alerta dos profissionais de mercado: cada pessoa é um caso, e a carteira de investimento depende de condições como idade, perfil da família e objetivos que a pessoa tem ao investir.

Em linhas gerais, uma carteira de investimento que mire um prazo de dez anos não deve ter mais de 40% em renda fixa, segundo ela. Nessa fatia, uma parte deve ir para a chamada reserva de emergência, dinheiro que pode ser sacado a qualquer momento, mas que não pode perder valor. Outra parte deve buscar opções que rendam mais que títulos do governo, como títulos de empresas: debêntures, LCIs e LCAs.

Segundo Sandra Blanco, outros 25% dos investimentos devem ir para ações e 35%, para alternativas como fundos imobiliários e fundos multimercados.

Embora essa seja uma visão dominante no mercado, o histórico do Brasil demonstra que a instabilidade é a regra na economia do país. Por isso, há profissionais do mundo financeiro que sugerem cautela.

Para a próxima década, acho que ainda temos que validar a tese da atual política econômica. Se de fato vai dar certo.
Gabriel Ribeiro, chefe de Produtos da Messem Investimentos

Para ele, a queda dos juros e dos rendimentos das aplicações na renda fixa deixaram as pessoas mais dispostas a correr riscos. "Mas a acho que a parcela dos investimentos mais conservadores tende a permanecer", disse.

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