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Ações de Petrobras e Vale caem cerca de 40% em ano de coronavírus; e agora?

João José Oliveira

do UOL, em São Paulo

16/04/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Volatilidade que domina Bolsa na crise do coronavírus também atingiu ações da Petrobras e da Vale
  • Ações da petroleira e da mineradora juntas representam 19% do Ibovespa, principal índice acionário no Brasil
  • Profissionais de mercado apontam o que está pesando agora para investidores que querem saber se continuam com as ações

A volatilidade que domina o mercado brasileiro em meio à pandemia do novo coronavírus também atingiu as ações da Petrobras e da Vale, que estão entre as mais importantes da Bolsa brasileira. Juntas, elas têm um peso de 19% no Ibovespa. Por isso, sempre que sobem ou caem determinam boa parte do desempenho dessa aplicação. Além disso, muitos trabalhadores do país usaram recursos do FGTS para aplicar em fundos que têm esses papéis.

Profissionais de mercado destacam que a crise atingiu mais a Petrobras que a Vale e apontam o que está pesando agora para investidores que querem saber se devem continuar com as ações, ou se seria o caso de mudar a aposta.

Desde que o primeiro caso oficial da covid-19 foi registrado no Brasil, em 26 de fevereiro, até o fechamento dessa última quarta-feira (dia 15) as ações preferenciais da Petrobras (PETR4) recuaram 37,50%, enquanto os papéis ordinários (PETR3) caíram 40,17%. No pior momento, em 18 de março, as perdas chegaram a ser de 57% e 60%, respectivamente.

A Vale (VALE3) teve uma perda bem menor (4,76%), embora no pior momento, em 23 de março, a desvalorização tenha atingido 25%. Para comparar, o Ibovespa acumulava queda de 25,43% até a quarta-feira.

Petrobras sofre mais

As ações da Petrobras sofreram mais porque a empresa está sendo afetada por dois fatores negativos. Além da pandemia, que reduziu a atividade econômica em todo o mundo —e, por consequência, o consumo do petróleo— ainda houve uma guerra comercial entre Arábia Saudita e Rússia, que fez desabar o preço do petróleo no mundo. Por isso, a situação da petroleira brasileira é mais incerta.

Segundo o gestor de ações da Infinity Asset, Victor Hasegawa, citando estimativas de entidades de energia no mundo, a recessão global vai provocar uma queda de cerca de 25% na demanda mundial por petróleo.

Para ele, o atual nível de preço do petróleo não é sustentável porque a economia em algum momento vai começar a reagir. E agora que os países produtores se entenderam e prometem cortar a produção da matéria-prima, deve haver uma reação do preço do barril.

"Então, se a gente acha que o mundo não vai acabar, a ação da Petrobras tende a se recuperar", disse. "Acredito que todo cenário ruim já está no preço", afirmou Hasegawa.

O analista de investimento do banco Daycoval, Enrico Cozzolino, aponta que a Petrobras adotou uma série de medidas que protegem a companhia mesmo que o preço do barril caia até US$ 25 e que a petroleira está com dinheiro em caixa. "Algo que tranquiliza, por ora, é o atual nível de liquidez que a empresa veio trabalhando há algum tempo para chegar neste patamar", afirmou.

Mas ele reconhece que as receitas da Petrobras serão menores ao longo deste ano, o que deve afetar o lucro e o desempenho das ações.

Resumindo, a recomendação dos analistas é de cautela. Quem tem o papel deve esperar e não vender, para não realizar o prejuízo. Para quem não tem a ação, a melhor opção seria esperar, ou buscar outra ação para investir.

Vale tem cenário mais promissor

A Vale navega em mares mais tranquilos que a Petrobras. A mineradora sofreu menos que a petroleira porque o preço do minério caiu bem menos que o do petróleo durante essa crise do coronavírus. E, além disso, a companhia tem a vantagem de se beneficiar das compras da China, sua maior cliente, que devem voltar a crescer.

Cozzolino, do Daycoval, aponta que os estoques mundiais de minério são pequenos e que a Vale tem um nível de endividamento baixo em relação a seu faturamento. "É uma grande geradora de caixa, tem baixa alavancagem e está presente em uma atividade essencial para a economia", afirmou o analista do banco.

Hasegawa, da Infinity, chama atenção para a influência positiva que a China deve ter para a Vale ao longo de 2020. "A China foi o primeiro país a entrar na crise e será a primeira a sair", afirmou. Segundo ele, historicamente, o governo chinês usa a infraestrutura quando precisa reaquecer a economia. E isso vai representa mais compra de minério. "Por isso, vejo a Vale em um cenário menos tenso que a Petrobras", disse o gestor.

O analista da Studio Investimentos, Bernardo Doherty, afirma que as ações da Vale estão sendo negociadas com 20% de desconto em relação aos papéis das suas principais concorrentes. Para ele, mesmo que o preço do minério caia dos US$ 85 para US$ 60 a tonelada, a mineradora brasileira continuaria com preço atrativo, desde que mantida as mesmas condições das outras variáveis. "O preço dela em bolsa aguenta muito desaforo", diz o gestor.

O ponto de atenção que permanece sobre a cabeça da Vale é a situação das barragens, que representam uma das maiores fragilidades da mineradora depois das tragédias de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais.

Levando tudo isso em conta, a Vale pode ser uma opção para investidores que procuram ações que sejam uma forma de reserva de valor, com potencial de valorização e, ainda, capaz de distribuir dividendos.

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